Cultura

MEU PÉ DE LARANJA LIMA

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O filme Meu Pé de Laranja Lima do realizador Marcos Bernstein chega a Portugal quase dois anos depois da estreia no Brasil. A longa-metragem protagonizada por João Guilherme Ávila e José de Abreu tem base no romance homónimo de 1968, escrito, de forma algo autobiográfica, por José Mauro de Vasconcelos. O romance foi e continua a ser um êxito de vendas, estando traduzido em doze línguas diferentes, publicado em dezanove países e já antes adaptado para cinema (1970) e televisão.

Num delicado equilíbrio entre uma certa imagética bucólica e a violência da miséria, o filme segue o olhar da criança Zezé e foca a sua amizade com o “portuga”, um homem mais velho que vive numa casa vazia de pessoas, mas cheia de fotografias, e que dará ao menino a caneta que lhe permitirá escrever as histórias que lhe enchem a alma nas tardes com a sua árvore.

Segundo o realizador, a maioria dos filmes não infantis que têm como protagonista uma criança narram a história de adultos cuja vida muda em contacto com a perspetiva pura da criança, sendo Meu Pé de Laranja Lima o percurso contrário: o de uma criança sem horizonte mas dona de uma imaginação fértil que encontra um amigo verdadeiro num adulto inicialmente temido.

Os últimos anos deixaram-nos um cinismo, uma desconfiança, que terá tanto potencial de proteger e alertar, como de deturpar e envenenar. Já não conseguimos ser puros quando o realizador coloca o velho amigo a pedir ao menino que tire a camisa molhada do mergulho no rio. Que estalada ao público quando o momento serve, afinal, para revelar as vergastadas da família e leva o menino a encontrar no “portuga” um pai. Ainda bem que aquele homem não teve medo do nosso olhar quando mudou a vida de uma criança.

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