Cultura
PONTOCULTURA: CAPITÃO FAUSTO TÊM OS DIAS CONTADOS
Há coisas dignas de serem faladas e este álbum é uma delas. Desde já, deixem-me esclarecer que os Capitão Fausto não têm os dias contados, caso contrário este projeto não seria uma verdadeira masterpiece. Já agora, portuguesa e bem portuguesa.
Quem são, afinal, estes novos soldados em terra? Irreconhecíveis ou não é outro assunto a discutir. Entretanto, a resposta chega e é simples. São os mesmos Capitão Fausto, pois a verdade é que esta essência nunca vai mudar
Agora, deixemo-nos de filosofias existenciais e vamos ao que interessa que eu hoje não Morro na Praia. Trabalhar
Se ontem estive mal, Amanhã Tou Melhor. O refrão, já nosso conhecido, entoa nos nossos ouvidos e conseguimos lê-lo nos lábios de quem o canta. Simples, direto e concreto – a responsabilidade do que somos e do que queremos ser. Sem nada a esconder, os Capitão Fausto deixam bem à vista o que no passado não foi prioridade: a consciencialização do Homem enquanto um só e enquanto um ser em contacto com os outros.
Andamos de Semana em Semana sem bem saber o que andamos aqui a fazer. Mas quanto a esta música tenho grandes certezas: que bela composição e que surpresa agradável ouvir aquele trompete tão taciturno acompanhado pela simplicidade das teclas. Um momento de cortar
Corazón revela-nos uma doçura até então desconhecida dos Capitão Fausto. Impossível de resistir a este verso – pontas soltas isso é comigo. Mais do que é dito, é a forma como é dito: aquela expressão meiga que nos arranca da cara um sorriso ingénuo. Não esquecer os backing vocals que sustentam este verso como tantos outros ao longo do álbum.
Toda a gente tem Os Dias Contados. Por isso, toca a arregaçar mangas e mãos ao trabalho porque enquanto ainda há tempo para viver, amanhã vai ser melhor. Com este tema somos confrontados com a imprevisibilidade da vida – como sabe bem estar debaixo das saias da mãe, viver sem receios. São os tempos de criança, onde tudo é fácil e tudo é possível; onde o inalcançável pode ser alcançado e onde confrontos não existem.
Com ou sem dias contados, o que Tem de ser, tem de ser. Estamos na fase em que passamos a aceitar o que nos espera tal como já aceitamos e entramos em êxtase com este álbum. Há medida que o fim se aproxima, mais certezas temos de que este álbum é um só, impossível de ser desmembrado. Cada tema é uma peça e uma história diferente, mas todos os temas estão ligados de uma forma única e inigualável. As diferentes letras e sons traçam o caminho. O álbum segue, involuntariamente, esse caminho, sem tropeçar. Quanto a nós, somos agarrados e levados por todo este conjunto de fenómenos sem sequer notar. Mas que coisa sobrenatural.
Dois Mil e Quinze já lá vai. Bateria, guitarras, sopros, teclas, cada um no seu lugar. Há uma sintonia máxima em todo o álbum entre os diferentes instrumentos: não é apenas feito de guitarras, mas também não é apenas feito de teclas. É uma composição variada, por excelência, em que cada instrumento assume o seu lugar, conquista território e contribuiu para uma homogeneidade visível. Para um álbum que adota um equilíbrio e firmeza própria, não haver
Não só Alvalade Chama por Mim como todo o álbum chama. Chegamos ao momento em que os Capitão Fausto admitem, com o que fazem de melhor, que deixam para trás memórias e decisões que outrora fizeram sentido. Nunca esquecer que a mocidade para nós chegou ao fim, o verso que marcará para sempre este álbum e o salto que a banda Lisboeta demonstrou ser capaz de dar enquanto músicos, artistas e pessoas, porque não só de estética vive a música. Já não estamos perante os 5 rapazes que relembram as saias da mãe, mas perante os 5 homens que dizem ao fim do dia cada um cuida de si.
Pode ouvir o álbum na íntegra aqui:
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