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Cultura

MEDEIROS/LUCAS: MÚSICAS DA TERRA E DO MAR

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Há noites assim. Antecipam-se enigmáticas e ainda nem começaram. Ou, pelo menos, mais íntimas, envolvendo o público numa proximidade profunda, dura, ainda que com poucas palavras. O contexto, o espaço e a música gravitam no peso das pessoas.

Ontem (30), foi a pouca afluência ao Passos Manuel que enunciou essa noite. Todos os presentes pareciam essenciais na sala. Todos enquanto seres no singular, enquanto identidades que se procuram na música. MEDEIROS/LUCAS, em apresentação do seu segundo álbum, “Terra do Corpo”, não descurou na prestação. A recepção, contudo, foi bem mais sincera.

As palavras graves de Carlos Medeiros, entrelaçadas na guitarra de Pedro Lucas, posam na música e na performance. Atrás, seguem percussões viajantes, sintetizadores que preenchem o palco e um baixo, ocasionalmente. O projecto, igualando letras e lírica lusas com uma sonoridade alternativa, preenche uma lacuna do repertório nacional.

“Terra do Corpo” despreende-se da maresia de “Mar Aberto”. Mais terreno e seco, como com “Sede”, onde o baixista brilhou com um groove irreprensível. Em contraste, “Navio”, peça que terminou o concerto, trouxe o mar do primeiro LP numa onda potente.

Ontem falou-se pouco. A reverberação das palmas morria depressa. A certa altura, Pedro Lucas perguntou se tínhamos adormecido. Esqueceu-se que estávamos todos absortos a ouvir, consumando o silêncio e consumindo no silêncio.