Cultura
PONTOCULTURA: A MOON SHAPED POOL, RADIOHEAD
O alerta geral estava lançado quando se começou a notar que os posts no facebook e twitter da banda começavam a desaparecer, juntamente com o seu site, que à medida que o tempo passava ficava mais e mais claro, até nada restar para além de branco. Rapidamente se deu azo a todo o tipo de especulações. Como se isso não fosse suficiente, muitos fãs ingleses começaram a receber no correio panfletos que continham o símbolo da banda, com as frases “We know where you live” (Sabemos onde vives) e “Burn the Witch” (queima a bruxa).
Que um álbum novo sairia já todos esperavam, visto haver digressão mundial no verão, mas seria aquele o momento? Nunca no passado recente da banda eles haviam lançado álbuns de forma previsível. Seria assim que anunciavam que estavam oficialmente de volta?
Alguns dias de especulação depois, surgiu o primeiro single , Burn the witch, juntamente com um vídeo, que à boa maneira de Radiohead transmite mensagens de forte cariz político.
Apenas dois dias depois, o segundo single, “Daydreaming”, foi lançado, juntamente com um videoclip dirigido por Paul Thomas Anderson, amigo de longa data da banda. Aquando do lançamento, foi também anunciado que o álbum sairia dois dias depois, a 8 de maio. Finalmente estava anunciada a data de lançamento do muito antecipado LP9, como era conhecido entre os fãs da banda.
Com todo o mundo ansiando, às sete da tarde (hora de Portugal) de domingo, foi lançado o nono álbum no registo da banda, A Moon Shaped Pool.
Dentro do disco
Das onze músicas, quatro já eram conhecidas e foram tocadas ao vivo ao longo da história da banda, sendo elas “Identikit”, “The Present Tense”, “True Love Waits” e “Ful Stop”. Duas foram tocadas por Thom Yorke no início do ano, “Desert Island Disk” e “The Numbers”, e duas já haviam sido lançadas como singles, “Burn the Witch” e “Daydreaming”, restando apenas três músicas que podiam ser consideradas como completamente novas: “Glass Eyes”, “Decks Dark” e “Tinker Tailor Soldier Sailor Rich Man Poor Man Beggar Man Thief”.
Em King of Limbs, as músicas consistiam principalmente em loops e transmitiam uma certa clausura , dando a ideia que todo o disco era centrado nas ideias de Thom Yorke, havendo grandes semelhanças com o seu álbum a solo, The Eraser. Moon Shaped Pool almeja a ser o oposto, parece muito maior, no sentido em que abrange mais instrumentos, mais estilos, e existe maior diversidade, não só de faixa para faixa, mas ao longo de cada uma das músicas.
Todas as faixas têm o acompanhamento da London Symphony Orchestra, cujo som clássico transmite uma sensação de magnificência às músicas, dando muitas vezes arrepios, seja porque entraram violoncelos no refrão, ou a música é encerrada com um misto de quase jazz e de rock, que parece nunca ter sido tentado antes. Este efeito é ampliado devido a um trabalho de produção de excelência por parte de Nigel Godrich, que considerou toda a realização deste disco “uma experiência muito intensa”.
O ponto de referência do álbum é de forma natural o guitarrista Jonny Greenwood, que é o maestro de todo este processo, que em si alia elementos de todos os géneros da música e os faz trabalhar em perfeita harmonia uns com os outros, não raras as vezes fazendo-o em simultâneo.
Em todo o disco identifica-se uma maior presença das guitarras e instrumentos de cordas, o que leva a apresente semelhanças com In Rainbows (2008) , embora neste trabalho se note uma mudança no estado de espírito, mais melancólico, mais experiente. Existe uma grande variedade, indo das baladas (Daydreaming ou Glass Eyes) para as músicas mais poderosas (Identikit ou Ful Stop), sempre transmitindo uma continuidade. Nada parece fora do sítio, e isto provoca no ouvinte uma mistura de emoções que culminam em True Love Waits, talvez a música mais descaradamente emocional do disco, se não da banda. “I’m not living, I’m just killing time” , diz Yorke, talvez agora mais que nunca, tendo-se separado este ano da mulher com quem vivia há 23 anos. Estes sentimentos tornam-se visíveis no álbum, que parece ter uma melancolia a si inerente do início ao fim.
Torna-se percetível que embora sozinhos sejam todos bons músicos, os cinco membros unidos fazem sobressair o melhor de si, sendo este novo trabalho apenas mais uma confirmação desse seu brilhantismo de grupo, que parece não abrandar desde a década de 90 e exprimindo-se sempre de formas diferentes.
Para os Radiohead, reinventar-se é um processo natural, tão natural que o voltam a fazer , mais uma vez com sucesso, mostrando em A Moon Shaped Pool que há sempre novos limites a ultrapassar na música, e porque é que são tidos como uma das mais revolucionárias bandas da música moderna.
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