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ENTRE “MAUS LENÇÓIS” NO MAUS HÁBITOS

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Nem a sala pouco composta calou os Quelle Dead Gazelle. Afinal, estavam “à espera de menos gente”, diz Miguel Abelaira, baterista da banda. “Estar no Porto é sempre bom” e reviver um concerto dos Quelle Dead Gazelle é igualmente bom e recomendável. Pedro e Miguel mostraram o que acontece quando uma guitarra e uma bateria, em sintonia, se fundem de forma perfeita: é música por excelência, apenas com uma outra voz e extensão.

O bom do instrumental é que, mesmo conhecendo os temas apresentados, há sempre algum momento que se torna imprevisível e foge do controlo do público. Nos Maus Hábitos ninguém sabia o que esperar de “Maus Lençóis”. Versatilidade e dinamismo eram já tidos como certo, mas a forma como cada tema assumiria estes elementos fazia parte do desconhecido. A banda confirmou a genialidade dos seus instrumentais: não se deixaram ficar pelo seu lado mais sombrio e introspetivo, souberam também brincar com as ancas tímidas do público. O envolvimento com cada um ultrapassou limites. Exemplo disso foi Tiago Garcia, protagonista do videoclipe de Pedra-Pomes , um simples amante de música e talvez não tanto de dança. Convidado para subir ao palco, o jovem dançou descontroladamente ao som do primeiro single apresentado no mês passado.

Foi com um obrigado honesto que a banda lisboeta se despediu dos Maus Hábitos. Ou talvez não. O público soube fazer o seu papel: entre aplausos, assobios e copos de cerveja erguidos, pedem diretamente a Pedro e Miguel que toquem mais uma. “Tu consegues?” ao que o guitarrista, Pedro Ferreira, responde “Vamos tentar, mas pode correr muito mal”.

“O palco é vosso” foi a deixa final para Afrobrita, tema do antigo EP. O público, bem comportado, levou, nos braços, Tiago Garcia novamente ao palco. E muitos outros Tiagos Garcias se juntaram a Quelle Dead Gazelle. E foi assim mais uma noite passada nos Maus Hábitos onde músicos, artistas e pessoas como Tiago Garcia se encontram e se metem em sarilhos, ao que tudo indica.

 

Jornal Universitário do Porto(JUP): “Maus Lençóis” é o nome do vosso primeiro álbum. Um nome que à partida nos leva a pensar que andaram metidos em sarilhos. Isso é verdade?

Quelle Dead Gazelle (Q): Sim, metemo-nos em sarilhos. Toda a gente se mete em sarilhos. Foi um nome que tentou retratar um pouco as músicas que estão no álbum.

JUP: Não foi então um nome que surgiu, por exemplo, numa conversa? Está mesmo relacionado com o álbum?

Q: Sim. Pelo menos nós achamos que o ambiente geral do álbum é um pouco negro, pelo menos mais negro do que era o EP. Tentamos, por isso, arranjar um título para o álbum que tentasse retratar isso.

JUP: Optaram, então, por seguir a mesma direção do vosso primeiro EP ou tomaram um rumo diferente?

Q: Não. Nós tentamos um rumo diferente. Agora se conseguimos, isso já não é connosco. Eu (Pedro Ferreira) acho que está diferente, mas sim tentamos.

JUP: Depois de um EP tão bem recebido pelo público, o que esperam para este álbum?

Q: Não sabemos. Não fazemos a mínima ideia. Já passou muito tempo desde o lançamento do EP. O EP correu bem, mas já passou tanto tempo.

JUP: No mês passado apresentaram “Pedra-Pomes”. Qual foi a reacção ao novo single?

Q: Acho que foi boa, positiva. Aliás, não estávamos à espera que fosse tão positiva. Não sabíamos mesmo o que esperar.

JUP: Podemos dizer que o instrumental é o vosso trunfo. Em 2012, quando começaram, houve algum receio em seguir esse caminho?

Q: Acho que não. Foi o único caminho logo à partida. Quando começamos ainda pensamos em meter mais pessoas, talvez a cantar, mas eventualmente ignoramos isso. Começamos a tocar os dois e achamos que deveria resultar assim.


JUP: Em Portugal são poucas as bandas que se centram apenas no instrumental. Como é fazer música nesse registo em território nacional? Acham que o público português soube abraçar o vosso estilo próprio?

Q: É um nicho do público, muito pequeno. Ainda assim, superou as expectativas. Nós não gostamos muito destas coisas, mas por exemplo, fomos a única banda da capital a ganhar o Termómetro. Mais uma coisa que também não estávamos à espera. Quando se fala de uma banda instrumental parte-se do principio que o público não reage tanto, mas depende das pessoas. Apesar de ser um nicho, há de facto pessoal interessado.

JUP: Talvez uma pergunta um pouco precipitada para vocês que acabaram de lançar o vosso primeiro álbum, mas já têm algum projeto ou novo objetivo para o futuro?

Q: Há muitos projetos que eventualmente podem surgir, mas dentro de Quelle Dead Gazelle pensamos que não. Já foi  bom termos conseguido fazer um álbum. Com apenas duas pessoas, guitarra e bateria, torna-se mais difícil ou requer mais esforço da nossa parte.

JUP: Por fim, hoje foi a vossa segunda paragem, ontem estiveram em Leiria, amanhã seguem para Lisboa e depois, quais são os próximos destinos?

Q: Dia 27 de Maio estaremos no Centro Cultural de Barcelos e dia 28 de Maio em Monção, no Coca’In ‘Festa. Depois, vamos ao Milhões de Festa e brevemente será isso. Talvez consigamos uma data num festival maior, mas ainda nada definido.

Podes ouvir o álbum na íntegra, aqui.

 

 

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