Cultura
“ATÉ COMPRAVA O TEU AMOR” – O LADO FALHADO DAS RELAÇÕES HUMANAS
O público foi dividido em grupos e assim fomos percorrendo as salas do Palacete Pinto Leite. O primeiro monólogo era passado num quarto, onde um rapaz escrevia dias a fio para esquecer uma relação que ele nunca quis acabar. “Arruma”, metaforicamente, a sua vida, através da organização da sua roupa por cores, como que numa organização em sectores do seu próprio coração e dos seus sentimentos. Tenta andar com a sua vida para a frente, ainda sem saber muito bem qual a direcção que vai tomar. Um monólogo que transparece, de forma inequívoca, o típico comportamento de quem termina uma relação, numa constante buscar de explicações e respostas para o fracasso amoroso.
O segundo monólogo conta, através de fotografias, a história de um rapaz que deambula entre o passado e o presente, uma época em que não sabe muito bem quem é. Depois do fim de uma relação entrega-se com os amigos à vida boémia, onde se tenta refugiar.
O terceiro monólogo é sobre a vida de uma mulher perturbada, que refugia o seu sombrio passado amoroso numa desmedida preocupação com o lar e a limpeza. Não lida bem com a vida amorosa profícua dos hóspedes que alberga e parte loiça como grito de revolta.
O quarto monólogo passa-se na casa de um homem, numa sala com vestígios de festa mas também de solidão, onde o nosso olhar pára num coração animal colocado num prato em cima da mesa. A sua vida roda entre traições e desilusões constantes, que o levam a afirmar que não tem motivo para confiar nas pessoas. Guarda com decoro o enxoval, talvez à espera de um dia lhe conseguir vir a dar uso.
No quinto monólogo viajamos para o quarto de uma mulher que nos conta uma história “que não é sobre nós, é sobre eles”. Nunca casou e justifica o seu fracasso amoroso nos quartos virados a norte onde sucessivamente tem morado. Vive encantada com a história de amor dos pais, à distância.
Por fim, no último monólogo o público visita a infância de um fotógrafo, que tem saudades de ser criança e das viagens que fazia, todos os verões, entre Paris, onde vivia, e Portugal, de onde era natural. Uma história sobre o saudosismo, esse sentimento tão português.
Toda a peça gira em torno daquilo que é mais querido ao ser humano: as suas relações. Por entre a intimidade da casa de cada personagem viajamos num mundo de ilusões, traições e desilusões, que os impedem de ser felizes. O saudosismo, a melancolia e a tristeza do fracasso de um grande amor pautam todos estes monólogos, que apesar de espelharem seis tipos diferentes de pessoas e histórias, partilham da igual fragilidade de cada um perante o amor.