Cultura
MODERAT SUGAM ENERGIA COM MÚSICA E RETRIBUEM COM MEMÓRIAS ETERNAS
As honras do terceiro dia de festival foram dadas por Manel e Cate Le Bon, que antecederam Linda Martini, a única banda portuguesa a atuar no Palco NOS. Sentem-se em família e a felicidade de estar a tocar ali é notória nos seus rostos.
Seguiram-se os Algiers, liderados por Franklin James Fisher, cuja presença abanou o Palco Super Bock. Franklin Fisher entregou-se de corpo e alma, deixando que a letra das suas músicas tivesse poder sobre si e os seus movimentos. Com “Blood” deixou o público arrebatado, quase sem reação, após gritar “Four hundred years of torture, four hundred years a slave/ Dead just to watch you squander, just what we tried to save”, relembrando tempos de escravidão e tortura que deixaram marcas na história e não devem ser esquecidos.
Para equilibrar o ambiente do festival, os Chairlift trouxeram a leveza e o ar angelical que lhes é característico. Assim que entra no palco, Caroline Polachek, a vocalista, grita “Primavera!” deixando as primeiras filas em êxtase. A banda americana foi mostrando a sua versatilidade ao trocar de posições nos instrumentos; Patrick Kimberly tanto tocava bateria como de seguida se encontrava no baixo. Com “Amanaemonesia”, Caroline corre pelo palco e passa a sua energia para o público, com “Ch-Ching” despede-se e mostra que valeu a pena ter estado ali.
O dream pop dos Autolux recebeu o pôr do sol. No ar os drones quase se confundiam com as gaivotas que sobrevoavam, relembrando o quão especial era a localização do NOS Primavera Sound, num jardim que cheirava a mar. A correria entre palcos continuava, as pausas para jantar ficavam mais curtas e os caminhos iam dar a Battles. O trio de música experimental fez o deleite do público tocando “The Yabba” e mostrou a bagagem cultural que possui, sendo possível identificar influências de diferentes estilos musicais. Os passos de dança do lado de cá do palco iam saindo de improviso, com naturalidade. Ao mesmo tempo Car Seat Headrest tocavam no Pitchfork e Drive Like Jehu no Palco..
Ainda faltava uma hora para Air, mas, ao mesmo tempo que o cenário era montado, as primeiras filas ficavam preenchidas por pessoas que diziam ter esperado seis anos para poder voltar a sentir algo que só a banda francesa lhes tinha proporcionado. Três espelhos refletiam o público e os instrumentos musicais, as luzes apagam-se e os membros entram vestidos de branco, destacando-sena escuridão. Não precisam de apresentações e começam o concerto com “Venus”, que cria logo a sensação de que vamos estar num ambiente celestial durante a próxima hora e meia. Nos espelhos por trás dos músicos é projetado “AIR”, uma letra por cada espelho, para que tenhamos a certeza de que são eles, aquele momento é real e valeu a pena esperar para os voltar a ver. A reação a “Playground Love” já era expectável – há casais que se abraçam e trocam juras eternas; há um sentimento que une toda a gente. Em “Kelly Watch The Stars” a nave espacial do lado direito do palco iluminam-se com jogos de cores que rimam com as projeções nos espelhos, e envia luzes brancas que rompem as nuvens. No palco há luzes brancas que brilham com a rapidez de uma estrela cadente. Tal como em Sigur Rós, sentimos que atravessamos o céu e viajamos para bem longe.
Titus Andronicus, A.R. Kane e Unsane não eram segundas escolhas, mas antes alternativas. Como é habitual dizer, “bom filho a casa torna”, e foi isso que os Explosions in The Sky fizeram, contando com um relvado preenchido por completo. Se em 2013 já tinham deixado os portugueses rendidos à magia que fazem com apenas duas guitarras, em 2016 convenceram-nos de que nunca é de mais assistir a um concerto seu.
A escolha mais difícil dos três dias tinha chegado: Ty Segall ou Moderat? De um lado o californiano de 28 anos e a possibilidade de ouvir Emocional Mugger, do outro Moderat e o privilégio de ver o que de bom se faz com a música na era digital. O JUP viu-se obrigado a optar e seguiu para o Palco NOS. Algo épico parecia estar prestes a acontecer. “Reminder” foi uma das primeiras músicas e, apesar de o sistema de som não estar no seu melhor, criaram logo o impacto necessário para prender o público desde o início. As projeções contavam a história das músicas, sendo muitas delas os videoclipes das mesmas; ganhavam na sensação de tridimensionalidade, que quase transportava, um a um, aqueles que se deixavam contagiar pela fusão entre música e imagens. Vão interagindo com o público e perguntam “Conhecem esta música? Alguma vez ouviram esta música?”, começando de seguida a tocar “Bad Kingdom”, com excertos do videoclipe projetados em grande plano atrás da banda, e proporcionando assim um momento em que cantam em uníssono com o público. A entrega da multidão a Moderat foi imediata e a despedida foi difícil. MODESELEKTOR e Apparat mostraram a diferença entre “concerto” e “espetáculo”, provando que os detalhes fazem a diferença. Este foi, certamente, um momento que se transformará numa memória que o Primavera Sound quererá recordar eternamente.
Shellac preparavam o Palco Pitchfork para receber a madrugada com Royal Headache e os primeiros raios de sol com Fort Romeau.
Acabou assim a quinta edição do NOS Primavera Sound, com uma média de 80 mil pessoas a sentir a música de maneiras diferentes mas com uma característica em comum: a escolha de um festival que é considerado por muitos o melhor do Mundo, nem que seja pela sua autenticidade e diversidade.
A próxima edição já tem data marcada de 8 a 10 de junho de 2016, e os bilhetes já se encontram à venda a partir de 4 de julho.