Cultura
NOVENTA E OITO MOTIVOS PARA NÃO TER PERDIDO O PRIMEIRO DIA DO BONS SONS
Há festivais únicos pelo cartaz, festivais únicos pelas boas condições e depois há festivais únicos por motivos que simplesmente não se explicam. É o caso do Bons Sons, que além da sua aura ímpar, nos dá ainda uma excelente oportunidade de visitar Tomar.
Cem Soldos por vezes assemelha-se a um cenário de um Western à Portuguesa, e a cada esquina, entre os vários chapéus cowboyescos, parece existir a possibilidade de nos cruzarmos com o Clint Eastwood, de olhos semi-cerrados, pronto a disparar… uma bisnagada de abençoada água – é desta forma que os muitos voluntários do Bons Sons vão mantendo os fregueses vivos neste calor que se sente um pouco por todo o país.
Para tomar o gosto ao ambiente de um festival nada como meter conversa com veteranos e nativos. Foi assim que o Sr. António Carlos, após posar e agradecer a fotografia, me contou que “dantes vivia aqui muita gente que ia trabalhar à cidade ou que se dedicava à agricultura… Agora não está quase ninguém. Isto não me incomoda nada, antes pelo contrário traz muita gente, é bom para todos!”. Se pensarmos bem no assunto, de facto os festivais estão-se a revelar a forma mais eficaz de reavivar e dinamizar o Interior e, neste caso, temos de salientar o particular interesse do Bons Sons, que não só depende de uma enorme equipa de jovens voluntários, como se preocupa efectivamente em colocar aldeia no mapa e pô-la a funcionar em plena força.
Houve ainda tempo para melgar António Félix e Tiago Mourão (na fotografia). O primeiro deu também a sua opinião sobre Cem Soldos: “Esta é uma boa aldeia, (mas não tanto como a minha, aqui perto). Como qualquer outra aldeia tem pouca gente, é assim, o normal… E toda esta malta que cá vem é boa gente, nunca arranja problemas. Venho cá todos os anos”. O companheiro, outro veterano, acrescentou: ”Vim a todas as edições. Acho que desde que o Bons Sons deixou de ser só de dois em dois anos de certa forma perdeu alguma mística, mas sim, continua a ser sem dúvida um festival muito muito especial!”
Neste primeiro dia destacam-se os concertos dos Indignu, Birds Are Indie, Danças Ocultas & Orquestra Filarmónica das Beiras, Best Youth, Kumpania Algazarra e Sensible Soccers. Os primeiros, originários de Barcelos, uma das grandes actuais capitais do Rock Tuga, ajudaram à digestão do chá das seis com um introspectivo Post-Rock.
Já os Pássaros São Independentes optaram por pôr o público de pé a abanar as ancas com grande alegria (à excepção, claro, dos que estavam sentados nas janelas; não queremos que ninguém se aleije!). Seguiram-se as Danças Ocultas & Orquestra Filarmónica, que num toque mais folclórico mantiveram o público a aventurar-se no pézinho de dança, tendo este por vezes assumido, a forma do vira. Virámos depois para os Melhor Juventude, quem sem dúvida souberam cativar a audiência com a sua sincera simpatia, e não contentes com isso tiveram ainda o descaramento de dar um óptimo espectáculo! Kumpania Algazarra trouxe a indispensável pitada Gypsie, à qual só se pode corresponder com muito suor, moche frenético e um ocasional crowd surf. Os últimos (Sensíveis Futebolistas) fecharam o ciclo de concertos com a habitual magistralidade, pondo o público a seguir os seus ritmos afincadamente.
Actuaram ainda os Pega Monstro, João e a Sombra, Luis Antero e o grupo Alentejo Cantado. A DJ Cláudia Duarte fechou o cartaz do primeiro dia e trouxe motivação extra para o segundo.
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