Cultura
O MORNO ÚLTIMO DIA DO PAREDES DE COURA
The Last Internationale entraram com um grito revolucionário que nenhuma banda seguiu até ao final do festival. O último dia em Paredes de Coura foi calmo e reforçou a ideia de que o cartaz desta 24ª edição ficou muito atrás do anterior. O ambiente do festival, esse, é sempre de luxo, segundo a organização, os campistas e mesmo os artistas.
Os americanos (com o baixista meio português Edgey Pires) The Last Internationale abriram o último dia do festival do Taboão a pedir paz no mundo e “power to the people”. A vocalista Delila Paz pediu ajuda ao público em “Wanted Man”, e os seus desejos foram ordens para os corajosos que deixaram as margens do rio e saltaram para a frente do palco na tarde nublada do último dia em Coura. Foi um dos únicos concertos do dia em que o público abanou a cabeça, muitas vezes em sinal de aceitação às mensagens comunistas e às imagens do 25 de abril no ecrã LED atrás da banda. Depois disso, a noite foi de concertos calmos, sentimentais, que só fizeram uma pausa para deixar entrar os CHVRCHES.
Portugal. The Man, uma das bandas mais pedidas à organização nos últimos anos, não convenceram o público apesar da energia em palco. Voltaram a Paredes de Coura sete anos depois, como fizeram questão de recordar ao público, e chegaram com ainda mais influências do que da primeira vez. Canções punk-rock com direito a mosh na plateia, seguidas de baladas pop quase demasiado adormecidas. Houve ainda espaço para uma cover de Oasis, “Don’t Look Back in Anger” que foi muito bem recebida no anfiteatro natural de Paredes de Coura.
“Portugal”. The Man? Um nome escolhido “em cima do joelho”, como já ouvimos em entrevistas no passado. Nesta passagem ao nosso país, a banda do Alasca não fez qualquer referência a essa “estranha coincidência”.
Os Cigarettes After Sex merecem menção nesta passagem por Paredes de Coura. Um caso de sucesso e a formação de uma adoração quase de culto provaram-se no último dia do festival, assim que Grieg Gonzalez e os companheiros entraram num palco mal iluminado e nebuloso. Dizem-se pop, mas sentimos que são algo diferente. Com apenas um single, “Affection” (2015) e um EP, I. (2012), o concerto é minimalista, calmo sem monotonia e sobretudo misterioso. Com o palco Vodafone FM cheio, a banda criada em 2007 apresentou temas do álbum que está para sair, como “Flash” e “Sunsets”. O JUP encontrou a banda nas margens do Taboão durante a tarde, a ouvir uma jam session no Palco Jazz (situado no campismo). Tímidos, mas sorridentes, não esperavam “um sítio tão relaxante, tão bonito”. Curiosamente, dois dias antes os americanos Algiers diziam-nos o mesmo. O anfiteatro natural e as margens animadas do Taboão são mágicas, afinal, não só para os festivaleiros, mas também para os artistas.
A verdadeira magia da noite aconteceu pela voz do sueco Kristian Matsson, mais conhecido como The Tallest Man on Earth (que, na verdade, não deve ter muito mais que 1,70m). Kristian e a sua banda trouxeram ao Paredes de Coura o último álbum “Dark Bird is Home”, depois de terem passado pela Aula Magna também este ano. Apesar de repetentes (em Portugal e no festival), The Tallest Man on Earth não se cansam do espaço e do público. O vocalista de 33 anos chegou a dispensar a letra de várias canções para, ao som da sua guitarra, elogiar os festivaleiros portugueses e o festival: “A sério, eu tenho sonhos com este sítio”, disse Kristian já emocionado. Um começo para o resto de um concerto que, em modo festival, só poderia funcionar no palco principal do Paredes de Coura. O pop-folk muitas vezes triste dos suecos surgiu várias vezes com Kristian a solo no palco, com o público também emocionado num silêncio sepulcral, em “Love is All”, “The Gardner e em “The Wild Hunt” especialmente.
Antes de “King of Spain”, Kristian trouxe “Dark Bird Is Home”, sobre o seu divórcio com a cantora Amanda Bergman e “Sagres”, sobre uma passagem marcante em Portugal em 2014. “Mas ainda acredito no amor, não se preocupem”, garantiu o escandinavo, antes da despedida com “Like The Wheel”, com os restantes membros num comovente coro a cinco vozes. O vocalista demorou a sair de palco mesmo depois de pousar os instrumentos. Sozinho em palco, já sem microfone e de lágrimas nos olhos, agradecia por gestos e despedia-se. E nesse momento sabemos que não é um adeus, mas um até já ao público português.
O Paredes de Coura 2016 termina com o chileno Matias Aguayo que deu música ao recinto no After Hours até ao nascer do dia. As batidas latinas terminam com confettis e a despedida do DJ é, simbolicamente, a despedida de todos os artistas que passaram pelos dois palcos do festival nestes quatro dias.
A edição de 2017 do Paredes de Coura já tem datas: 16, 17, 18 e 19 de agosto. E com um pormenor especial: tanto o festival como a marca patrocinadora (Vodafone) comemoram 25 anos de existência. João Carvalho, organizador do festival, diz que se “podem esperar surpresas”. Avança que bandas que já passaram por Paredes de Coura seriam bem-vindas para comemorarem este quarto de século. “Queens of the Stone Age e Nick Cave fariam sentido, por exemplo”.
O festival Paredes de Coura não seria o mesmo sem o ambiente que envolve o recinto, sem lhe tocar. O campismo à beira rio é a imagem de marca, como é o trânsito de barcos insufláveis, bóias e colchões que habitam o Taboão nestes dias de agosto. Para o ano Paredes de Coura faz 25 anos e nós estaremos lá para festejar numa edição que se adivinha histórica.