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Cultura

“ABERDEEN-UM POSSÍVEL KURT COBAIN” – ESTREIA

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Foi com um grito lancinante que se iniciou esta peça da autoria de Sérgio Roveri, na qual Miguel Ramos veste a pele e a alma do vocalista da lendária banda Nirvana. Este espectáculo desenrola-se ao longo dos três dias em que o músico foi dado como desaparecido até ter sido descoberto na sua mansão já sem vida. No desenrolar desta peça, Kurt Cobain partilha as suas angústias com Boddah, um amigo imaginário de infância, revelando um íntimo profundamente dilacerado e gasto por constantes desilusões.

Ora correndo para o papel onde deixava escrito o seu desânimo, ora atirando diversas vezes objectos para o chão, o músico tentava libertar-se do sofrimento à medida que deixava transparecer momentâneos acessos à loucura. Também os movimentos deambulatórios do ator em palco e as corridas repentinas para a janela pretendiam ilustrar a inconstância e fragilidade de Kurt Cobain, cuja vida foi pautada por sucessivos desencantos. No entanto, o amor que nutria pela sua filha não deixou de ser expressado quando numa das cenas escreve para Courtney, sua esposa, incitando-a a seguir em frente pela Francis.

Outros aspetos da vida do músico foram revelados nesta peça como o abuso de heroína, a ingestão excessiva de tranquilizantes e a insatisfação de viver em Aberdeen, onde “não há nada para odiar (…) para além dos moradores”. Também a depreciação face à admiração do público e o pesar por sentir que já não faz falta neste mundo conduzem o jovem cantor a pôr fim à sua vida, tal como outros familiares o haviam feito, como mencionado na peça. Nos momentos finais, o músico já delirante chama num grito intenso o seu amigo Boddah, porque se este não aparecesse naquele momento não tinha de aparecer mais.

E entre o apagar e acender de inúmeros cigarros para evidenciar um dos vícios que consumia o vocalista, diversos temas da banda Nirvana ressoaram pelas paredes da sala de espectáculo, entre os quais “Come As You Are”, “Smells Like Teen Spirit” e “Lithium”.

Esta peça inspirada num dos maiores ícones da música rock que continua a encantar gerações permanece em exibição até ao dia 11 de Maio, apresentando ao público uma cativante interpretação de “um possível Kurt Cobain”.