Cultura

“NÓS SABEMOS QUE PORTUGAL TEM MÚSICA, MAS E PROFISSIONAIS?”

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Tudo começou quando voltou a Portugal e reparou que havia uma coisa importante a faltar ao setor da música portuguesa. “Notei que havia uma enorme diferença entre a qualidade e o output musical que existia no país, e a falta de profissionalismo dos nossos profissionais sejam agentes, ou managers ou labels”.

Esta falha era a principal “barreira entre os artistas portugueses e a sua internacionalização”, “realidade que perdurou durante muitas décadas” e que significa que “há uma total ausência de conhecimento dos profissionais internacionais do que é Portugal”. A exceção óbvia é claro, “o fado”.

É por isto que considera tão importante o destaque que o Eurosonic deu a Portugal. “A pergunta que se vai fazer por lá nas cabeças de muitos profissionais é “o quê? Portugal é destaque? Mas porquê Portugal?”. Para Nuno só há uma maneira de ripostar.  “Atualmente estamos a trabalhar muito para que o desenvolvimento profissional das labels, dos managers se possa aproximar da qualidade da música que é feita em Portugal, para conseguir levar o barco a outros Eurosonics, para promover a música portuguesa na sua globalidade”.

De Portugal para a Europa

O número de festivais em Portugal é uma das coisas que chamou a atenção da equipa do Eurosonic. “A criação da APORFEST veio ajudar muito na divulgação desses números”, diz Nuno. No entanto, é preciso um “nível de profissionalização” nos “festivais médios e pequenos para ajudar os artistas a internacionalizar”. Um exemplo disso é o Bons Sons, um festival em Tomar conhecido por ter todos os anos um cartaz só com projetos portugueses, mas que na opinião de Nuno “podia ter espaço para a internacionalização”.  “É um excelente festival e eu falei com o Luis (diretor do festival) para participar na rede ETEP (European Challenge Exchange Program) e sugerir artistas nacionais ao provedor do Eurosonic. Mas “é preciso dar para receber”. Neste caso, “é preciso ter um palco para acolher pelo menos 3 artistas europeus, no Bons Sons, e acho que o festival ainda não está pronto para alterar o conceito e receber artistas internacionais”.

Atualmente, o exchange de artistas “tem que ser mais ágil e não um export office tradicional, que paga as viagens aos artistas e os cachés”. É por isto que decidiu criar a Why Portugal. “Queremos celebrar protocolos com os eventos para potenciar a participação das pessoas nesses sítios que valem a pena”. Para o vice-presidente da Associação de Músicos Artistas e Editoras Independentes (AMEI), esta é a única solução que “um país como Portugal pode dar a essa necessidade de internacionalização”.

https://labs.mil.up.pt/blogs/ideal/wp-content/uploads/sites/222/2016/11/Portugal-music-export.mp3?_=1

 

Há já muitos projetos portugueses que fazem mais sucesso lá fora do que cá dentro. “Geralmente são coisas mais de nicho, música eletrónica, discos editados no Japão de projetos que nunca ouvi falar” e que se candidataram ao Eurosonic através de “agentes internacionais que já trabalham esses artistas, tanto sediados em Portugal como lá fora.”

A primeira vez que Nuno falou com a organização do Eurosonic sobre tornar Portugal no country focus a resposta não foi de todo animadora. “Foi há coisa de 6 anos e deram-me uma palmadinha nas costas”. A explicação que se seguiu foi simples. “Nuno, jóia de pessoa, estás cá todos os anos, espetacular… Nós sabemos que Portugal tem música, mas onde estão os profissionais?”.

Faltavam associações, “na altura não havia a AMAEI, não havia a Music Managers Fórum, não havia APORFEST, não havia nada”. Mas então, “como é que se dava destaque a Portugal sem profissionais que representassem o país?”

Passaram-se alguns anos e o panorama começou a alterar-se. “Há coisa de dois anos o Peter Smidt (fundador do Eurosonic) veio a Portugal, ao Westway Lab Festival, o primeiro festival português a inscrever-se na rede ETEP e a ter uma conferência internacional”, e isto começou a colocar Portugal no radar do Eurosonic. Depois, “voltou a Portugal para o TalkFest, organizado pelo APORFEST e viu que tinha um livro de 400 festivais e então percebeu que já havia a AMAEI e que já estávamos a levar dois, às vezes até três artistas portugueses ao Eurosonic”. Portugal começou a ganhar pontos, mas “ao príncipio ainda tentaram colocar a hipótese à Antena 3 de fazer um focus ibérico, Portugal e Espanha”.

A resposta foi pronta: “meus amigos, os países são completamente diferentes, não têm nada a ver uns com os outros, nós conseguimos assumir isto para Portugal”. E foi assim que a Why Portugal começou “a trabalhar no country focus há ano e meio”.

Em 2017 os olhos vão estar em Portugal

Os vinte projetos musicais que vão representar Portugal já estão escolhidos, mas a decisão não parece ter sido fácil. “O Robert, o programador do festival, das 274 candidaturas disse-me que havia cerca de 80 projetos que ele achava espetaculares.”

Uma das maiores diferenças a partir do próximo ano é que “em vez de voltarmos a um artista por ano, vamos potenciar a participação de quatro ou cinco nos anos que se seguem”. Para Nuno Saraiva, isto “é realmente colocar Portugal no mapa de uma forma definitiva”, no sentido em que já não vai ser “um país completamente desconhecido para aqueles 4000 profissionais que vão todos os anos à Holanda”.

Não é a garantia de uma tour internacional

O Eurosonic pode ser uma grande oportunidade, mas Nuno salienta que “não há garantia de nada, nunca”. Para tentar aumentar as oportunidades dos artistas e participantes portugueses, “vai haver agora em dezembro workshops de capacitação especifica para a participação no Eurosonic”, já que nos anos anteriores “aconteceu muito os artistas irem lá convidados pela Antena 3, irem atuar e nem se aperceberem que ao lado há uma conferência com 4 000 profissionais, mais de 400 festivais e é preciso estar lá a ter reuniões de vinte em vinte minutos para usufruir”.

https://labs.mil.up.pt/blogs/ideal/wp-content/uploads/sites/222/2016/11/conferenciar.mp3?_=2

 

Nuno reforça que “o Eurosonic vale a pena porque é o ano de Portugal”. Mas, tipicamente, só vale a pena para um artista nacional “se já estiver naquela altura em que tem um desenvolvimento de carreira no próprio país que possa ser interessante para os agentes internacionais”. O evento não é “entry level, é para quem quer dar o salto do nacional para o europeu”.

E se atuar é importante, “é mais importante estar ali e falar com aquelas pessoas, independentemente se toca ou não toca, vale a pena, a conferência profissional vale a pena”.

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