Connect with us

Cultura

COLISEU (RE)VIVE O ENCANTO DOS HERÓIS INFANTIS

Published

on

Levadas pela mão ou ao colo chegavam as crianças que não conseguiam esconder a ânsia de visitarem os heróis favoritos nos seus mundos de fantasia, trazidos agora pela magia da música. Dos mais velhos aos mais novos, a agitação sentia-se e o entusiasmo parecia replicar-se.

E… música maestro. A Lisbon Film Orchestra, conduzida pelas mãos de Nuno de Sá, rigorosamente articulada, abriu entusiasticamente o espetáculo, onde inúmeros trechos retirados dos mais diversos clássicos da Disney povoaram o grande ecrã atrás dos 55 músicos. O Rei Leão, Dumbo, Aladino, Branca de Neve, O Livro da Selva, Pinóquio ou Peter Pan foram algumas das personagens que fluíram na tela ao som produzido pelo timbre ora estridente, ora aveludado de instrumentos como violinos, violoncelos, trompas ou trompetes.

Depois da abertura, sucedeu-se a apresentação de temas a título individual. Começou no oceano com a Pequena Sereia, a princesa de voz doce que sonhava ter pés para conhecer o mundo dos humanos. Fora do Mar foi o primeiro tema, interpretado pela voz jovial de Soraia Tavares, que não só cantou com a doçura característica de menina como também encarnou a personagem com suaves movimentos em palco. De repente, o clima ficou mais tenso com o crescendo de intensidade instrumental a reproduzir o tema que fazia notar o aparecimento da temível Ursula.

Das profundezas do oceano para os trilhos da floresta, a Pocahontas foi apresentada através da voz de Ana Margarida. Num tom introspetivo e caloroso, pintaram-se as cores do vento à medida que no ecrã a intrépida e exótica princesa apresentava a beleza e a importância da natureza à realidade completamente distinta do colono inglês, John Smith.

Já no Castelo, deu-se as boas-vindas à Bela e o Monstro, com uma representação não só vocal, mas também teatral – com representação e dança à mistura –, que reuniu os quatro cantores em palco. Pra jantar foi o tema escolhido para apresentar os encantamentos escondidos no lugar onde habitava o monstro assustador, sendo o candelabro e o relógio fielmente interpretados por Bruno Ribeiro. Era uma vez foi o outro tema selecionado para retratar o despontar de uma paixão aparentemente impossível.

Do amor incondicional entre a Bela e o Monstro, a orquestra viajou até à importância da amizade com O Livro da Selva. Com Quero Ser Como Tu, Diogo Pinto desafiou os corpos a balançar ao ritmo da música e, apontando para algumas das crianças na plateia, foi conseguindo fazer com que se levantassem e dançassem como bem lhes apetecia. Não havia limites para a diversão.

O ambiente citadino de Londres de 1910 invadiu o Coliseu com Chim Chim Cher-ee, um tema bem conhecido pelas gerações mais velhas do filme Mary Poppins, mas foi com Supercalifragilisticexpialidocious que alguns olhares brilharam, sorrisos não se contiveram e palmas encheram o espaço da sala de espetáculos. Avós sorriram para os netos, pais dançaram com os filhos e algumas crianças tiveram contacto, pela primeira vez, com um dos maiores clássicos da Disney.

As luzes apagaram-se, os instrumentos voltaram a ser afinados e a segunda parte do espetáculo durou quase até às onze da noite. O ambiente citadino trazido por Mary Poppins e os limpa-chaminés ficaram na primeira parte, mas a viagem pelas capitais europeias continuou. A orquestra conduziu o público até Paris, contando a história do Corcunda de Notre Dame. As imagens do filme – acompanhadas por um instrumental inicialmente tenso que desaguou num desfecho comovente – relembravam que é importante aceitar o outro tal como ele é e que a amizade move montanhas.

Um dos momentos mais aguardados da noite pelos mais pequenos residia no reino do gelo. Várias meninas que se haviam vestido a rigor com os trajes de Elsa ou Anna não conseguiram esconder a inquietação ao ouvir os seus temas preferidos. O mais recente clássico da Disney apresentado esta noite chegou pela voz portentosa de Ana Margarida, a versão portuguesa de Elsa na música Já Passou, que encheu as medidas do público, arrancando uma forte ovação.

O gelo de Frozen derreteu com o calor das mil e uma noites. A diversão instalou-se novamente com a performance de Diogo Pinto, ao interpretar o Génio da Lâmpada de Aladdin que “nunca tinha visto um amigo assim”. O entusiasmo deixado pelo Génio acalmou assim que começou “Um Mundo Ideal” e foi retratada a história do amor sem limites de Aladdin e Jasmin, que conseguiam ver a beleza do Mundo com a ajuda de um tapete voador.

Os Piratas das Caraíbas apareceram de surpresa e o tema He’s a Pirate foi exibido para deixar o público inquieto e num ambiente marítimo. Jack Sparrow invadiu o ecrã e as luzes convidaram o público a entrar na sua viagem. A estranheza inicial transformou-se numa vontade de querer ouvir mais e os aplausos pareciam intermináveis.

Apesar de estar próximo do fim, o espetáculo não podia terminar sem o rei da selva. Da savana africana saltaram três temas emblemáticos, nomeadamente Ciclo Sem Fim, Eu Mal Posso Esperar Para Ser Rei e Esta Noite o Amor Chegou. O Rei Leão foi, assim, presenteado com as vozes dos quatro cantores, que retomaram depois das três canções o tema Ciclo Sem Fim, o que pode representar simbolicamente o ciclo interminável das gerações que se cruzam no universo Disney.

Como afirmou Nuno Sá, o concerto não ficaria completo sem o tema oficial da Disney. Small World encerrou o espetáculo de forma festiva e alegre, acompanhado pelas palmas sincronizadas dos espectadores.

Foi com um forte e prolongado aplauso que chegou ao fim uma noite que fazia notar a confluência de gerações em torno do mundo encantado das mais diversas personagens que pautaram a história da Disney e a história de cada um. Para os miúdos era o momento ideal para consolidar histórias e completar a fantasia do seu imaginário. A Maria Vitória, que foi vestida de Elsa explicou ao JUP que o Frozen “é o meu filme favorito e a minha personagem favorita é a Elsa. Mas até agora gostei de tudo”. Este é também o filme favorito de Filipa Fonseca, que usava um vestido da Anna, irmã da Elsa, e percorria o corredor do Coliseu de mão dada com a mãe. “Nós viemos este ano, porque já tínhamos vindo no ano passado e gostámos muito, e ela este ano quis trazer o pai, por isso viemos os três.”, declarou Liliana Carvalho.

Para os graúdos era tempo de regressar ao passado, desterrar memórias e voltar a viver, com outro sabor, a magia da infância, partilhada agora com os namorados, filhos ou netos. Laura Ferreira, de 21 anos, assistiu ao concerto com o namorado, que lhe ofereceu o bilhete por saber que ela gostava muito dos filmes da Disney. Por seu lado, Maria de Fátima e João foram acompanhar o neto Martim, afirmando a avó que “vir ao concerto da Disney é relembrar o que já vimos com os filhos e agora com o neto”. Já o avô foi mais longe: “Eu acho que quando vemos estes filmes da Disney, voltamos a ser um bocadinho crianças”, confessou. Quando lhes foi perguntado qual o seu filme favorito as escolhas ficaram divididas, já que a avó e o neto preferem A Branca de Neve e os Sete Anões e o avô a Mary Poppins.

Também Ana Maria Santos, com uma boina branca onde estava gravado “Mickey Mouse”, revelou o sentimento forte e invariável que nutre desde sempre por esta fábrica de sonhos. “Adoro a Disney. Já lá fui dezenas de vezes na minha vida. A primeira vez foi à Disney World, ainda não havia Euro Disney, e depois fomos a Paris.”, contou. De braço dado com o marido Mário Soares, abandonava a sala de espectáculos depois de uma noite plena de alegria. Além do amor visivelmente sentido um pelo outro, o carinho imenso pela Disney constitui outro fator de união e cumplicidade. “O espetáculo foi fantástico. A música encheu o coração, encheu a cabeça, enfim, acho que encheu tudo, tudo, tudo dentro de mim. Foi um espetáculo muitíssimo bem montado e muitíssimo bem escolhido em relação aos cantores e aos temas”. Para Ana Maria, a paixão pela Disney deve-se ao facto de ter uma criança dentro de si e para Mário esta paixão representa manter viva a força incomensurável do sonho.

O espetáculo, que já havia estado em 2015 no Coliseu do Porto, visita o Campo Pequeno, a 7 e 8 de dezembro, às 21h30 e 16h30, respetivamente, e segue depois para sul até à Arena de Portimão, a 10 de dezembro, pelas 21h30, terminando a sua viagem no Norte a 18 de dezembro no Pavilhão Multiusos de Guimarães, às 21h00.