Cultura
PORTO CARTOON WORLD FESTIVAL: DO PAPEL PARA O PORTO
A obra vencedora da jovem iraquiana, Mahboobeh Pakdel, apresenta um barco sobrelotado num mar embravecido, oscilado não unicamente pelos movimentos ondulatórios, mas também pela movimentação pendular de um sino com enormes dimensões que estadeia as estrelas da União Europeia, e cujo badalo os emigrantes se seguram. Esta obra é provida de uma simbologia imensa e, principalmente, de uma dose de realidade.
“No desenho eu quis mostrar os refugiados inocentes, que imigram para a Europa pondo em perigo as suas vidas, quando a única coisa que pretendem é viver em paz e harmonia”, declara a jovem Iraquiana no seu comunicado (lido por Debora Paiva). Para rematar, diz que espera mais da União Europeia e da Comunidade Internacional.
Rui Ferro, no seu discurso, apela por um mecanismo de rebate sobre a catástrofe emigratória que vivenciamos, mencionando que “só um local com fundações muito fortes e paredes muito sólidas”, como a Europa, é capaz de construir tal mecanismo. Afirma, também, que a sua escultura “propõe uma dimensão de inicio de construção desse mecanismo, em linhas de ligação e estruturação”. O sino tem 6 metros de altura e 8 de comprimento e pesa 1500 kg.
Em vigor desde o ano de 1999, esta competição tem muitos nomes conhecidos como jurados, entre eles, o presente Paquin Marin e Siza Vieira (desenhador do troféu desta iniciativa). George Wolinsky, vítima mortal do atentado na revista Charlie Herdo em 2015, chegou a ser júri desta competição.
Segundo Wolinsky, “o humor é o caminho mais curto entre as pessoas”, e este festival demonstra de uma forma singular essa vertente humorística, desde o desenho vencedor até aos discursos dos membros honorários. Exatamente graças a estas características é que o PortoCartoon – World Festival tem sido um espaço de excelência do humor, colocando Portugal no pódio humorístico mundial.
Na inauguração, que começou com a leitura de um poema do Ministro da Cultura, Luís de Castro Mendes (“A misericórdia dos mercados”), foram prestados agradecimentos e discutidos temas como a crise dos emigrantes refugiados e a necessidade de implementar o humor na sociedade. Estiveram também presentes o Diretor do Museu Nacional da Imprensa e do Porto Cartoon, Luís Humberto Marcos, António Fonseca, Presidente da Junta, Jorge Moreno Delgado, Presidente Executivo do Metro Porto e Paquin Marin, Fundador do Museu de Humor (Espanha) e Júri do Porto Cartoon desde 1999.
A obra foi inaugurada num dia particularmente especial para todo o mundo, visto que o novo Secretário-Geral da ONU, António Guterres, fez o juramento da Carta das Nações Unidas, em Nova Iorque e dele muito se espera, principalmente em relação a assuntos como a paz e desenvolvimento.
Nesta estreia, ficou marcada, de forma simbólica, a celebração de um dos objetivos centrais da carta: o entendimento Global.