Cultura
INDEVIDA COMÉDIA É STAND UP TODAS AS SEMANAS NO SÁ DA BANDEIRA
E parece que sabem mesmo. Todas as quintas feiras de janeiro sobem ao palco, à vez, com cerca de “20 minutos de material” e um convidado conhecido do circuito do humor nacional. A primeira sessão do mês, dizem, “correu muitíssimo bem”. A estreia foi no passado dia 5, com o humorista Paulo Almeida a fazer as honras dos convidados. Na semana seguinte, Hugo Sousa acompanhou o grupo. A próxima sessão é já hoje, dia 19, com a Indevida Comédia a trazer a palco Pedro M. Ribeiro, às 22h.
Na sala principal do Sá da Bandeira está montado o cenário de uma revista e por isso conversamos nas icónicas cadeiras vermelhas da antiga sala de espetáculos do Porto, que carrega uma forte tradição de espetáculos de humor.
João Freitas chegaria mais tarde, mas a entrevista vai correndo com Luís Gomes, Ricardo Leite, Pedro Pedrosa e ainda Rui Xará, que deixa claro não fazer parte do projeto, porque não atua com os restantes, mas “apadrinha e apoia” o conjunto desde o início.
A ideia que juntou os quatro humoristas portuenses num espetáculo de stand up surge da certeza de Rui Xará de que Luís, Ricardo, João e Pedro estão mais do que prontos para o trabalho e surge da sua vontade de “ajudar a malta mais nova”.
Luís explica que não é, claro, a primeira vez que fazem stand up. A diferença é que “iam fazendo, quando o Rui arranjava alguma coisa” e que, agora, houve a necessidade de “juntar os quatro menos maus em palco e, na impossibilidade de isso acontecer, estamos aqui nós”.
Pedro diz que é importante trazer a palco um projeto destes, com quatro comediantes em palco, à vez mas em conjunto. Fazem “uns minutos” individualmente, mas um projeto em conjunto tem, obviamente, mais visibilidade. “Fazer barulho os quatro é totalmente diferente de o fazermos sozinhos”.
Rui Xará desvenda que entram em palco por ordem aleatória, tirada à sorte antes de cada sessão. “O resultado é francamente bom. Somos todos terra a terra e estamos a fazer as coisas como deve ser. E ainda damos um bónus, que é um convidado profissional. O público sai claramente satisfeito”, diz-nos Ricardo.
Sobre as diferenças entre os quatro, para quem não os conhece, Xará descreve: “o (Pedro) Pedrosa é o gajo mais das one-liners, das piadas de observação, o Gomes é o filho que todas as mães querem ter, mas capaz de dizer as maiores barbaridades. O Ricardo está fortíssimo, e decidiu fazer uma coisa deliciosa, como que uma purga da sua própria realidade e que funciona muito bem, e o Freitas é absolutamente irrepreensível”.
Rui Xará avança ainda que “estes miúdos andaram a passar ao lado dos meios de comunicação” e compara a realidade da comédia portuense com a da capital, onde “às vezes os conteúdos não são tão bons, mas conseguem ser muito melhor vendidos”.
Luís relembra que chegarem 4 humoristas a uma sala traz mais público e ajuda-os a crescer individualmente. Todos têm a vontade de atuar, “num futuro próximo de 5 anos”, em grandes salas. Não põem até de parte deixarem tudo o resto de lado para, um dia, se dedicarem exclusivamente à comédia.
João e Ricardo explicam o processo do espetáculo que podemos ver no Estúdio Latino do Sá da Bandeira. João Freitas diz-me que “é mais cada um no seu sítio, a trabalhar os seus textos”, e Ricardo acrescenta que “é verdade que não ensaiamos, mas assistimos muitas vezes ao trabalho uns dos outros, e se calhar isso pode ser considerado uma espécie de ensaio”.
Em conjunto não ensaiam, mas e individualmente, como constroem os seus textos? Luís diz que o seu método é muito simples: o seu humor é substancialmente mais negro do que o dos restantes, e a sua namorada “detesta humor negro”. “Por isso digo-lhe os meus textos, e o que ela não gosta eu sei que está como eu quero”. E avança que, para si, 5 minutos correspondem mais ou menos a 30 piadas e que não consegue contabilizar o tempo que demora a escrever um texto para apresentar. Ricardo diz que demorou 4 meses a preparar 20 minutos de material, desde escrevê-lo, a prepará-lo, passando, claro, por memorizá-lo.
Quanto às influências, João Freitas refere o “mentor” Rui Xará e diz que consome muitos espetáculos de stand up por ano. “Bruno Nogueira, Raminhos, Daniel Leitão, …” e diz que o espetáculo de comédia que mais gostou foi o Portátil, da Porta dos Fundos com o César Mourão, que esteve em cena na Casa da Música.
Ricardo fala de Raul Solnado, Ricardo Araújo Pereira, Rui Xará e Bruno Nogueira e admite que não tem muito juízo crítico, porque consome tudo e só mais tarde aplica um filtro. Das influências internacionais falam de Lenny Bruce, Jim Jefferies ou Ricky Gervais.
Para terminar, pergunto-lhes o que é que podemos ver na Sala Estúdio Latino, se não conhecermos nenhum dos quatro. “Vêm ver quatro rapazes que vão certamente dar cartas no futuro, responde Rui Xará. E garante ainda que é stand up puro: “e o stand up não é mais do que um gajo, um microfone, e uma forma muito particular de ver o mundo”.
Ainda há bilhetes para as restantes sessões, avisam, que podem ser comprados online ou no teatro. A Indevida Comédia terá mais duas sessões de stand up, sempre com um convidado diferente. A próxima é já hoje, dia 19, com Pedro M. Ribeiro e João Seabra fecha esta estreia do projeto no dia 26 de janeiro.
O conjunto avança que escolheram o Sá da Bandeira para dar o mote à iniciativa, por ser um espaço com tradição no humor e um ícone da cidade do Porto, mas a Indevida Comédia deverá continuar, noutras salas, cafés ou bares e, quem sabe, com “um conjunto de sessões em Lisboa”.