Cultura
ROYAL RUSSIAN BALLET ESTREIA-SE COM “O LAGO DOS CISNES”
Não é a primeira vez que o Porto assiste a’O Lago dos Cisnes, mas é a missão do Royal Russian Ballet difundir e fazer perdurar a coreografia de Marius Petipa e de Lev Ivanov, como apresentada em 1895 com produção do Teatro Mariinsky (São Petersburgo). Este bailado tornou-se icónico pelos elegantes e vulneráveis cisnes e pela forma como Lev Ivanov traduziu o seu movimento nos corpos das bailarinas em perfeita simbiose com a música de Pyotr Tchaikovsky (1876). O artifício técnico exigido e a estrutura coreográfica contribuíram para a definição da técnica e da estética clássicas e o cisne tornou-se o epítome da bailarina clássica. O seu desafio é encarnar, no mesmo espetáculo, o cisne branco, Odette, amedrontada e melancólica, e o seu oposto cisne negro, Odile, calculista e traiçoeira. É neste espírito dualista que se desenvolve o enredo.
Odette (Iryna Khandazhevska), uma jovem princesa, foi amaldiçoada pelo malévolo Rothbart (Fedir Zarodyshev), sujeita a ser humana apenas durante a noite e transformando-se em cisne durante o dia. Só a promessa do amor verdadeiro quebrará o feitiço.
O Príncipe Siegfried (Anatolii Khandazhevskyi) celebra o seu aniversário e o palácio está em festa. Luminoso, colorido e de decoração rica convida-nos à alegria e à celebração, onde o Bufon (Constantin Tcaci) energiza a cena e diverte-nos com as suas danças e acrobacias, enquanto os convidados dançam valsas e um pas de trois.
É de noite, e o Príncipe e os seus companheiros vão para o bosque caçar quando veem um bando de cisnes a sobrevoá-los. O Príncipe aponta-lhes com a sua besta mas, ao ver a beleza e fragilidade de Odette que se aproxima, rende-se. Entram todos os cisnes e sobre um fundo escuro de azuis da noite, ao som de allegros e moderatos, destacam-se os port de bras do corpo de baile como voláteis asas que carregam em si a melancolia. A rainha dos cisnes e o príncipe dançam o Pas de Deux, um adágio lírico em que a bailarina se revela dramaticamente. Iryna traz a escola russa nos braços e no torso, usando-os harmonicamente entre a estrutura e o movimento suave e contínuo. Ao saber da maldição, Siegfried declara o seu amor a Odette e promete-lhe fidelidade, convidando-a para o baile no dia seguinte no seu palácio.
No ato 3, as festividades tomam novo tom com danças inspiradas nas tradições de vários países: a espanhola, a húngara (Czardas), a napolitana e a distinta dança russa em que Nataliia Kazatska encantou com a sua musicalidade e doçura. Rothbart irrompe pela festa com a sua filha Odile, que se faz passar por Odette para enganar o Príncipe e levá-lo a quebrar a sua promessa. Juntos dançam o Pas de Deux mais icónico, virtuoso e de forte carácter, em que Odile nos lança olhares furtivos e desafiadores. Odile domina as emoções de Siegfried, chegando ele a pedir a sua mão. Nisto aparece o espírito de Odette e Siegfried apercebe-se da artimanha e logo se arrepende.
Siegfried volta ao lago para obter o perdão de Odette, mas ela diz-lhe que está condenada à morte devido à traição. Entre densos e inquietantes allegros agitato, vivace e maestoso que marcam o culminar da tragédia, Odette atira-se sem esperança ao lago para morrer e Siegfried logo se atira também. O sacrifício por amor é mais forte que a maldição de Rothbart, que assim se vê derrotado. Todos os cisnes se libertam e Odette e Siegfried unem-se no amor eterno.
O Lago dos Cisnes notabiliza-se como uma peça onde se deve contemplar a coreografia e a magistral música que funcionam em uníssono, capaz de captar e prender o espectador a toda a sequência coreográfica e ao desenrolar dramático. Faltou na produção a grandiosidade dos palcos mundiais e a música pela orquestra ao vivo. O corpo de baile sincronizou a execução dos passos, mas sem, no entanto, tirar o maior partido do port de bras russo, distinto das demais técnicas. Iryna, no papel de Odette/Odile foi surpreendente, recebendo ela e Constantin os aplausos mais entusiastas do público.