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Cultura

TIAGO BRAGA: “O SUCESSO NA MÚSICA DEVE PASSAR PELA INTERNET”

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A Internet é um meio cada vez mais poderoso no quotidiano. Mesmo quando comparada aos meios tradicionais de comunicação, as características da web possibilitam novas realidades. Será mais fácil atingir o sucesso através deste meio?

“Na área da música, o caminho para o sucesso pode estar na Internet. Mas não tem de estar necessariamente”, conclui Tiago Braga. O músico relembra que há métodos antigos (como contactar diretamente editoras para expor capacidades) ainda eficazes.

No entanto, o artista desvaloriza as idas à televisão. “Já ninguém vê televisão”, adverte. Na sua experiência, Tiago Braga não sentiu uma subida exponencial do número de seguidores. “A interação com os meus fãs aumenta quando vou à televisão, mas a televisão não me dá seguidores novos”, confessa o músico.

A indústria musical tem características específicas e diferentes da generalidade cultural. Este foi um dos temas mencionados na Web Summit, em Lisboa, no final de 2016. Enquanto se discute, a nível internacional, os modelos de financiamento dos serviços de streaming (em que ouvir uma música vale 0,005€), em Portugal “a indústria da música não é muito open minded”, de acordo com Tiago Braga.

“É muito restrita. É um lobby” – é assim que o YouTuber descreve a indústria musical portuguesa. Segundo Tiago, o mercado é controlado por “um número limitado de pessoas” que detêm o poder. O domínio é apenas derrotado pela Internet. “Tem que se cair na graça dessas pessoas para se chegar a algum lado, a não ser que se tenha uma presença online enorme e que não se possa ignorar”, afirma o músico.

“As editoras só apoiam o tipo de artistas que gostam e que acham que vão vender. Tudo se trata de um negócio”, comenta Tiago Braga.

O músico justifica o esquecimento de vencedores de talent shows com essa posição das editoras. Contudo, alegra-se pela Internet permitir novos métodos. “A Internet é mais justa do que outros meios, no sentido em que qualquer pessoa pode mostrar-se e crescer. Numa editora, há uma barreira”, acrescenta. Tiago conclui que “o sucesso na música deve passar pela Internet”.

A Internet como meio de comunicação será democrática?

Tiago Braga já publica conteúdo na web desde 2009, quando criou o seu canal no YouTube. A sua experiência na captação de público neste meio permite-o concluir que não há justiça na Internet, “no sentido de que só aquilo que é verdadeiramente bom é que é conhecido, porque há imenso lixo”.

Sobre o caráter democrático da Internet, o YouTuber confessou ter assistido a uma palestra da Web Summit que se debruçou sobre a temática da liberdade na Internet com filtros e algoritmos. Para Tiago Braga, “a Internet é livre, mas é menos livre do que há uns anos, porque não havia esta quantidade de algoritmos para filtrar conteúdos”. O músico admite que, por vezes, estes sistemas filtram conteúdo que o internauta acharia interessante.

Todavia, o artista lembra que “os criadores de conteúdo podem tirar partido desses algoritmos”. Com a identificação das características de conteúdo selecionadas pelos mesmos, pode-se adaptar o conteúdo para influenciar os resultados de uma pesquisa, por exemplo.

“Acho que a Internet é muito mais democrática, sim. Para o bem e para o mal”, garante Tiago Braga, ao comparar a Internet com a televisão e com a rádio.

As plataformas e as possibilidades da web

O facto de a web ser global permitiu que o trabalho de Tiago Braga atingisse público além fronteiras. Em 2011, o artista foi convidado a gravar um single em Itália.

Mas a Internet possibilitou mais avanços na pequena carreira do cantor: “Tudo o que aconteceu na minha vida até agora, em termos de carreira é devido à música, ao YouTube e à Internet. Falo de coisas tão simples como ir atuar ao Via Catarina, dar concertos, ou fazer presenças em canais de televisão”, conta Tiago.

A escolha da plataforma online correta também é fulcral para atingir o maior número de pessoas. “Há umas plataformas mais acertadas do que outras, dependendo daquilo que se pretende fazer”, comenta o artista com exemplos.

No entanto, é importante conjugar a escolha acertada de plataformas com outras variáveis para atingir o sucesso. “O sucesso acaba por ser um misto de trabalho, oportunidade e sorte”.

O futuro dos meios tradicionais e os hábitos de consumo

Apesar das possibilidades que a Internet fornece, a televisão e a rádio continuam a marcar presença no quotidiano da atualidade. O seu futuro passará só pela Internet?

Tiago Braga considera que “é uma batalha muito difícil que eles têm de travar”. A luta é mais difícil para a televisão, porque “a rádio tem feito um esforço maior para se aproximar da Internet do que a televisão”, segundo o artista, que volta a dar como exemplo uma palestra da Web Summit:

O crescimento do vídeo on demand é evidente. Aliás, para o YouTuber, “a vantagem do YouTube e do video on demand é serem a solução utópica da televisão”. Tiago Braga explica que a vantagem é a interatividade que não é alcançável na totalidade na televisão por causa da grelha de programação. O cantor estabelece uma comparação: “Ver um programa de televisão e ter uma aplicação a tentar interagir com o televisor em tempo real não é a mesma coisa que um livestream na Internet”.

Na sua perspetiva, “há uma pressão muito menor na Internet do que há na televisão ou até mesmo na rádio”. “O YouTube é muito mais adaptável, livre e configurável”.

E isso cativa o público? Tiago considera que sim, devido à abundância de programas formatados, falsos e semelhantes entre si, na televisão. Esse modelo funcionou no passado, de acordo com o artista, mas já não é tão eficaz: “Hoje em dia, com as redes sociais – sobretudo nas faixas etárias mais novas que estão habituadas a expor-se na Internet – as pessoas já não são tão ingénuas como antigamente”.

Segundo o YouTuber, atualmente, as plataformas online ganham mais popularidade porque “no YouTube as pessoas podem ser verdadeiramente genuínas”.

O poder da Internet em Portugal e no mundo

Tiago Braga considera que Portugal está a começar a acompanhar o que se faz no estrangeiro. Para concretizar a ideia, o YouTuber exemplifica. “Há imensas marcas que estão finalmente a abrir os olhos e a apostar em colaborações com YouTubers como a Sumol ou a Canon”.

O que falta, então, à indústria portuguesa? O artista compara a indústria portuguesa com o mercado norte-americano. “Hollywood criou um departamento de raiz novo só para acolher estrelas do YouTube. Chegaram à conclusão de que grandes YouTubers como Tyler Oakley ou Joey Graceffa eram muito mais influentes do que estrelas de cinema”, afirma. A perceção da influência da Internet e dos cibernautas é o que falta em Portugal.

O poder da Internet abrange também o campo da informação. A quantidade de informação disponível na Internet e a sua facilidade de acesso são muito maiores do que no passado. Mas o impacto nos mais jovens pode não ser o esperado.

“Não é necessariamente por as gerações mais novas terem acesso à Internet que vão ficar mais cultas. As pessoas usam as ferramentas como quiserem”, explica Tiago Braga. Além deste aspeto, o artista ainda acrescenta que “o facto de existir acesso a informação não quer dizer que essa informação esteja correta”.

A Internet e a web são meios novos que requerem uma adaptação por parte da sociedade. Apesar desta adaptação ser mais lenta em Portugal do que noutros países, as possibilidades da Internet são inegáveis, para Tiago Braga, especialmente no campo da música onde se insere.

(Nota de redação: a entrevista foi conduzida em 14 de novembro de 2016)