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“THIS IS US”: A SÉRIE QUE NÃO EUFEMIZA MAS ENCORAJA A POSITIVIDADE

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No episódio piloto de “This is Us”, o espectador é apresentado a Jack (Milo Ventimiglia), Kate (Chrissy Metz), Randall (Sterling K. Brown) e Kevin (Justin Hartley), quatro indivíduos que partilham a mesma data de aniversário. O episódio percorre o modo como cada um deles celebra o seu 36º aniversário, aparentemente sugerindo que o dia em que nasceram é mesmo a única coisa que os une.

Jack namora com Rebecca (Mandy Moore), grávida de trigémeos, que entra em trabalho de parto seis semanas antes do previsto. Kate, por sua vez, é uma mulher que luta com o excesso de peso e que frequenta, inclusive, reuniões de apoio para pessoas que sofrem do mesmo problema. Num desses encontros conhece Toby (Chris Sullivan), um homem que, por outro lado, não parece tão incomodado com o seu peso, mas que se compromete a perdê-lo para se poder aproximar de Kate.

Já Randall é um bem sucedido empresário, casado com Beth (Susan Kelechi Watson) e pai de duas filhas. Randall, adotado, contrata um detetive para localizar o seu pai biológico que o abandonou à nascença, num quartel de bombeiros.

Por último, Kevin é o protagonista de “The Man-ny”, uma sitcom frívola que depende, para o seu sucesso, de atitudes supérfluas e isentas de uma carga dramática real por parte do seu elenco. Extenuado, Kevin atinge um colapso durante as gravações e demite-se.

À medida que o episódio se desenrola, apercebemo-nos do risco associado ao parto de Rebecca, estando a possibilidade de alguma das crianças não sobreviver em cima da mesa. Randall confronta o seu pai biológico e acaba a convida-lo para sua casa. Kevin enfrenta as repercussões da sua demissão e procura conforto na sua irmã gémea, de quem é muito próximo, Kate; está lançada a primeira de várias relações entre os elementos do grupo de maior relevo da série.

Os receios confirmam-se e o terceiro filho de Jack e Rebecca nasce já sem vida. Jack é encorajado pelo obstetra a ser forte e a procurar sempre maneira de “converter o limão mais amargo que a vida oferecer em limonada”. Ao ver pela primeira vez os seus dois filhos, um menino e uma menina, Jack conversa com um bombeiro que revela não ser pai de nenhuma das crianças, mas apenas responsável por ter levado ao hospital um recém-nascido abandonado no quartel onde trabalha. Designados a levarem para casa três crianças, Jack e Rebecca adotam o menino abandonado: Randall.

Findado o episódio, estão delineados os laços familiares e estão lançadas as bases para os episódios subsequentes: Kate, Kevin e Randall são irmãos e filhos de Jack e Rebecca. Seguindo uma estrutura narrativa de alternância, a série preocupa-se não só em acompanhar o presente dos seus protagonistas, mas também a revelar momentos por eles vividos no passado, permitindo ao espectador aprofundar o seu conhecimento sobre os mesmos.

“This is Us” é um pequeno puzzle e cada episódio compromete-se a completa-lo um bocadinho mais, sendo as analepses fundamentais para esse efeito. São estas analepses que aproximam o passado e o presente, comprovando o quão indissociáveis são.

A luta de Kate contra a obesidade constitui um exemplo significativo daquela que é a realidade de, estima-se, 35% dos norte-americanos. Através dos momentos que retratam a sua infância e adolescência, assistimos à emergência do problema e ao modo como o mesmo afeta a saúde, particularmente a psicológica, de uma criança.

Randall é um menino negro que cedo se destaca dos seus irmãos, demonstrando um elevado domínio da matemática. Preocupados em fazer com que Randall não se sinta diferente por ser negro, Jack e Rebecca lutam para tratar todos os filhos do mesmo modo. Contudo, depressa se apercebem que não podem menosprezar as capacidades de Randall e que a sua herança cultural deve ser salvaguardada. Assim, também a cultura afro-americana é destacada e questionada no desenvolver da trama, que sugere uma perspetiva inovadora da situação ao enquadrar o negro no seio de uma família branca.

Kevin mantém com Randall uma relação áspera e distanciada. Amargurado por ser alvo de menor atenção por parte dos pais, Kevin revolta-se contra o irmão. Ademais, o facto de trabalhar como ator de televisão na costa Oeste americana contribui para o acentuar do afastamento entre ambos, já que Randall vive na costa Leste. No entanto, a busca por um trabalho que considere real e digno leva-o a fazer teatro em Nova Iorque e, consequentemente, a aproximar-se de Randall. Kevin exprime o desejo de se entregar e dedicar a uma forma de arte que considere verdadeira e significativa. Num país onde o cinema, a televisão e o teatro são formas de arte profundamente exploradas, a série problematiza a realidade subjacente a essas indústrias.

Abordando várias questões que fazem parte do leque cultural dos Estados Unidos da América, “This is Us” é, realmente, uma série sobre eles, os norte-americanos. Porém, não deixa de ser uma série atual e universal, cuja abordagem delicada das suas temáticas e a agradabilidade das suas personagens contribuem para a sua qualidade. Trata-se de um drama sério sobre a vida real, mas que sensibiliza o seu público pela sua afabilidade. A sua perspetiva otimista encoraja-nos, de facto, a transformar as maiores amarguras da vida em limonada. O drama, criado por Dan Fogelman e produzido pelo canal NBC, promete agarrar o espectador à televisão, servindo-se, não raras vezes, de dramáticos cliffhangers que irão aguçar a sua curiosidade.

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