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OCIDENTE: ENTRE O DUETO E O DUELO

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Maria do Céu Ribeiro e Pedro Frias são o “Ela” e “Ele” deste diálogo a oscilar permantentemente entre o dueto e o duelo. Os dois são, como as suas carreiras permitiam já esperar, brilhantes. Juntos, verdadeiramente juntos, cumprem um jogo extremamente delicado entre a naturalidade que traz verdade e a estilização que autoriza ao espectador toda a ponderação. Noite após noite, num espaço quase quarto, quase sótão, que oscila também ele entre o sagrado e o claustrofóbico, refúgio e cela, num desequílibrio que a cenografia de F. Ribeiro acentua, “Ele” regressa. O álcool que traz do Palace ou do Flandres asseguram uma conversa nua, violenta, apaixonada, com alguns ecos do eterno estereótipo de feminino/masculino: “Ele”, guerreiro, violento, frágil, secretamente impotente, chega até “Ela” e narra; “Ela”, espectadora, madura, comenta, interpreta, alerta e acusa num misto de amargura e protecção. O feminino surge quase sempre envolvido pela névoa do desconhecido (o que fará “Ela” durante o dia atormenta), sempre marcado pela sexualidade. O masculino sai do privado, rompe o particular, mas fá-lo sempre na violência, no erro, no medo e na compensação. E, no entanto, de Vos surpreende e subverte-nos as cumplicidades; entrega a razão e a força ora a um, ora a outro, ora a nenhum.

A marcar as noites, uma narrativa trazida de fora, a irromper o espaço íntimo; uma narrativa que desejaríamos datada mas que ouvimos imbuída de uma assustadora actualidade. O respeito pelo Outro que Victor Hugo Pontes quis ter como mensagem central une-se de forma assustadora à representação da maneira insidiosa, viscosa, como o ódio se apodera dos homens – dos carrascos e das vítimas. Rémi de Vos declara ter querido “mostrar o húmus donde brota a flor venenosa da rejeição do outro”. Dói, de facto, ver assim a ligeireza do extremismo, a naturalidade da agressão, do medo, da polarização – mas é uma dor urgente que cumpre a verdadeira missão cívica do Teatro.

Em entrevista ao JUP, Victor Hugo Pontes explicou o desafio por ele escolhido de, com todo o seu historial de coreógrafo, colocar a palavra no centro de Ocidente e deixar o corpo, o gesto, num lugar instrumental. E, no entanto, a sensabilidade do coreógrafo nos movimentos, na composição dos quadros, nas pausas e nas coreografias, concede a este Ocidente uma profundidade emocional e um potencial de reflexão notáveis. Os belíssimos desenhos de luz (Wilma Moutinho) e de som (Luís Aly) integram este todo numa profunda harmonia que denota um maestro completamente consciente e em controlo da sua criação. Interpretação, cenografia, luz, som são magistralmente unidos pela mão de um encenador que, para bem de Ocidente, sabe muito de coreografia, mas deixa bem claro que sabe igualmente muito de bom teatro.

De Rémi de Vos
Encenação Victor Hugo Pontes
Com Maria do Céu Ribeiro e Pedro Frias
9-18 maio 2014
Teatro Carlos Alberto – Porto
quarta-feira a sábado 21h30 domingo 16h
Maiores de 16 anos
Duração aproximada: 1h

 

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