Cultura
A PALAVRA DE CAPICUA COMO “MEGAFONE” DA REVOLUÇÃO QUE NUNCA MORRE
Numa Avenida repleta de gente de todas as idades, o Porto viveu na segunda-feira à noite mais uma comemoração da revolução de 25 de abril de 1974. A portuense Capicua encheu o palco, levando ao público mais ou menos graúdo, o significado de abril.
Falou de liberdade, desenvolvimento, igualdade, de uma Europa fragilizada que a seu ver necessita de compreensão e abertura. Mas sobretudo falou ao coração da cidade que a viu crescer, com o poder da sua palavra e um entusiasmo que a acompanhou do início ao fim. Quem lá esteve soube acompanhá-la, reconhecendo no seu hip-hop a identidade do país, e as mutações que a sociedade atravessa.
Na multidão portuense eram muitos os que nada sabiam sobre este estilo musical, contudo a revolução que lhes corre nas veias impulsionou-os, numa enorme onda de braços no ar e alguns versos soltos já antes ouvidos na rádio.
Durante todo o concerto, o grafismo do cenário seguia o tema de cada canção, através das ilustrações de Vítor Ferreira. A cor, vida e ação deram lugar a um país outrora cinzento e fechado, saído do fascismo.
Capicua revelou a ansiedade que a inundava por cantar na cidade que tanto ama, o seu “Porto unido”, sobre o qual tanto continua a escrever.
Mas não se deixou deter, e apresentou um repertório desde um dos seus primeiros mixtape em 2008 até ao álbum “Medusa”, de 2015. Fez-se acompanhar por diversos músicos, entre eles o baixista dos Salto, Luís Montenegro, e a rapper e sua grande amiga, M7.
Juntas cantaram por diversos momentos, com a garra de versos interventivos, também sobre a igualdade de género e da luta pelos direitos da mulher, num espetáculo que delineou o perfil forte, emancipado e resiliente da figura feminina, na sua caminhada por vezes tão tumultuosa.
Desde as desigualdades no mercado de trabalho até à violência doméstica, a rapper relembrou que apesar das conquistas, ainda muito há a fazer. Passaram-se 43 anos e o dia 25 continua vivo, atravessando gerações e cumprindo o dever de motivar cada um de nós a lutar pela liberdade, que como Capicua disse, “não é um dado adquirido”.
Num fim que pareceu precoce para os espectadores, a rapper abandonou o palco mas regressou, desta vez com um hip-hop em formato clássico. Um DJ e um MC, para dar ao público aquilo que ele pedia, mais canções, mais energia. Mais liberdade, mais abril.
Ainda antes desta noite comemorativa encerrar, o Coral de Letras da Universidade do Porto subiu ao palco, para preceder o fogo de artifício que fez o ofício de iluminar a cidade mais um pouco. E o Porto manteve-se assim, luminoso, numa noite que se adivinhava longa para aqueles que na rua prolongaram as celebrações madrugada fora.
Na Avenida dos Aliados os festejos musicais da revolução continuaram durante a tarde de terça-feira, com o Concerto Magano às 15h e o Cante Alentejano com os Mineiros de Aljustrel às 16h.