Cultura
EU SOU CULTURA URBANA: UM VIRUS NAS PAREDES
13h30. Dedicated Store, Porto. É aqui que Virus se abastece quando vai pintar o Porto e foi aqui que o JUP o conheceu.
À primeira vista, Virus é apenas um rapaz comum, com sacos de quem acabou de vir do supermercado para preparar o seu almoço. É dentro deles que se esconde o talento inegável deste jovem. As latas de spray são a sua vida, uma vida que já leva há sete anos, a par com os estudos.
Virus, como tantos outros artistas que se “vêem” pelas paredes do Porto, é um apaixonado pelo graffiti, a arte que continua a ser motivo de discussão pela sua clandestinidade. Mas, para o artista, a ilegalidade do graffiti não é um problema, pois, como explica, “nós sabemos que isto [o graffiti] é ilegal”, que tem o seu ponto “não” [ilegalidade]», que está na raíz desta arte.
O graffiter rejeita ainda a possibilidade da legalização total do graffiti, que retiraria uma das características desta arte de rua, «espalhar a mensagem onde se quer». No entanto, este graffiter portuense vai mais longe, afirmando, com toda a irreverência da sua idade, que o graffiti não é controlado por todos, «é um meio de revolução». Acrescentando que o graffiti pode ser legalizado e ele aceitará com todo o gosto, mas nunca colocará de parte o lado ilegal «por ir contra princípios que estão errados, por ir contra cabeças duras.»
Tudo isto é explicado enquanto Virus prepara o seu spot, o seu local para pintar.
As paredes estão repletas de outras intervenções e o chão repleto de ervas que assemelham aquele local a uma selva. “É preciso um jardineiro”, brinca. Como não há nenhum, é o graffiter que vai tirando as ervas e plantas mais teimosas do caminho, à medida que vai pintando com uma cor base o local escolhido para a pintura.
Num clima divertido, Virus começa a explicar como escolheu este caminho e o que o motivou. Mas cedo se percebe que foi o graffiiti que o escolheu. “Havia um tag a caminho da minha escola para a minha casa, era Fat Krew e eu sempre vi esse tag”. Um tag que tinha o símbolo da anarquia, trazendo à flor da pele a anarquia de Virus, mas, acima de tudo, incitando o bichinho do spray que perdura até hoje.
Segundo filho, Virus deixou os pais preocupados com a adopção deste estilo de vida, pois, como afirma, “no início, vêm sempre com maus olhos”. No entanto, já se habituaram, em parte pelas “visitas” do filho à prisão (já foram duas), mas também pelas exposições de street art e graffiti que começam a ter mais impacto.
A mais recente no Porto foi a Street Art AXA. Uma exposição “altamente” que serviu para mostrar que estes artistas não são “malfeitores” e que apenas querem “espalhar o que é nosso”. “Venham mais” é a sugestão deixada por Virus.
Enquanto a conversa flui, o graffiti também vai crescendo na dimensão e detalhe. A cor base é posta e as linhas da palavra “Virus” são desenhadas. Esta palavra, a par de Brous Krew, é o que Virus mostra ao mundo quando pinta uma parede. É, literalmente, um Virus nas paredes.
A ideia para o nome veio do que é , para ele, o graffiti. “Uma pessoa tem de ser um vírus, infiltrar-se por tudo o que é lado”. Daí que a escolha do local para o desenho tenha de ser um local “vistoso”, que influencie “o maior número de pessoas possível”. Esses locais de grande impacto visual já originaram alguns confrontos entre o artista e o corpo policial.
Virus conta tudo isto enquanto começa a preencher as letras já delineadas. As cores, tons quentes, contrastam com a agressividade das letras, aguçadas e “picantes”.
Este é o estilo de Virus: cores fortes conjugadas com letras aguçadas. Um estilo conseguido pela experiência ganha com os sete anos que leva como graffiter, mas também pela influência do dia-a-dia e dos seus gostos. “Tu podes tentar fugir ao que é teu, mas acho que não adianta. O estilo reflecte uma pessoa e vem naturalmente com os anos”, diz como se estivesse numa aula de are urbana.
O graffiti começa a ser delineado pela lata de spray laranja, marcando os “picos” das letras e dando uma vivacidade incrível ao nome deste artista.
Embora seja clara a influência e predominância da pintura na vida de Virus, o artista já se iniciou no caminho musical. Primeiro veio a produção de minimal, depois passou para o hip hop, intimamente ligado ao graffiti. “A minha cena é pintar e isso nunca ninguém me vai tirar, mas pintar custa muito dinheiro”, explica. Assim, as suas letras reflectem uma “sedenta vontade de pintar” (Amor às Krews), com letras tão aguçadas como as que pintam, com letras tão irreverentes como Virus.
O artista pega na lata de spray branco: é hora de dar os retoques finais. Segue-se a lata do spray amarela, a cor inevitavelmente usada para “chocar” o olhar do público.
“Brous Krew, 2014” é escrito. A obra de arte está acabada.
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