O mais recente álbum da banda, pela Constellation, é, possivelmente, o seu trabalho mais ruidoso, explosivo e, simultaneamente, consistente. Do início ao fim, através de uma abordagem direta e agressiva, o ouvinte confronta-se com um ambiente extremamente pesado composto por camadas e camadas de distorção de guitarras que chegam mesmo a adquirir um cariz psicadélico. A apaixonante, comovente e simultaneamente assustadora “What We Loved Was Not Enough” destaca-se pela densidade emocional tanto melódica como lírica.
Com LP1, pela Young Turks, FKA prova que não teme revolucionar o panorama Pop fundindo-o com eletrónica futurista, elementos de R&B alternativo e trip-hop. Com faixas como a vulnerável “Give Up” e a sedutora “Two Weeks”, Twigs envolve o ouvinte numa atmosfera de mistério repleta de batidas em câmara lenta, sintetizadores que se fundem com a sua voz e letras desafiantes. É, resumidamente, um trabalho leve e vanguardista, simples e dinâmico, que dá a conhecer a perspetiva musicalmente singular da artista.
Foi em fevereiro que, pela Jagjaguwar, Angel Olsen lançou uma compilação que oscila entre o obscuro e a claridade, a angústia e a festividade e que, pela transparência e expressividade relembram artistas como Joni Mitchell e Leonard Cohen. Com hinos como a hipnótica “White Fire”, a sincera “Enemy” e a festiva “Hi-Five”, Burn Your Fire For No Witness mistura mágoas com melodias de verão, corações partidos com daydreams e impulsivas declarações ideológicas, tornando-o num álbum absolutamente apaixonante e genuíno.
Swans lançaram, em maio, um álbum que certamente se encontra entre os melhores da sua longa carreira. Uma compilação construída por camadas espessas de instrumental, rico em poderosos sintetizadores, guitarras e baixo aliados aos agressivos vocais de Gira, que se adensa progressivamente e origina um caos simultaneamente excitante e anestesiante. Das sufocantes 2 horas de música, destacam-se a inquietante “Bring The Sun/Toussaint L’Ouverture” e a balada “Kirsten Supine”, que contêm a fórmula de que vive este álbum: tensão, variedade e hipnose.
Em agosto, as duas artistas norueguesas deram a conhecer, pela SusannaSonata, um álbum que envolve o ouvinte através de uma intimidade desconcertante com composições simultaneamente complexas, cuidadosas e minimalistas como “Black Lake” e “O Sun O Medusa”. A simplicidade da sobreposição de vozes e personalidades indubitavelmente distintas funciona na perfeição. A isso juntam-se as dicotomias de luz e escuridão, ruído e silêncio, consonância e dissonância com que jogam ao longo de toda a compilação e que a tornam cada vez mais arrebatadora a cada audição.
Cinema Documental, por Luís Azevedo
Estes não são os melhores filmes de 2014. Apenas 5 dos melhores documentários do ano que finda e preconizam um 2015 profícuo, nacional e internacionalmente.
Após o estrondoso “The Act of Killing”, Joshua Oppenheimer quis provar que não era um (utilizando a gíria musical) one hit wonder.
Utilizando o mesmo tema, centra-se agora nas vítimas dos massacres indonésios, mais especificamente no percurso de Adi, que procura e confronta os assassinos do seu irmão. Com a mesma crueza, com o mesmo sentimento de incredulidade perante a atrocidade humana.
Mais do que referir os prémios, é de realçar a capacidade de relativização dos acontecimentos e dos problemas consoante a distância a que nos encontramos dos mesmos, ao estilo queirosiano. Um filme que apresenta uma das mais assombrosas histórias de Ventura, numa época em que tudo muda em Portugal.
Este filme, pré-nomeado para os Óscares e que estreará em breve por cá, é um hino à fotografia e ao humanitarismo.
As imagens da vida que Sebastião Salgado capturou são fortes, impregnadas de uma realidade que o Homem sempre tentou varrer para debaixo do tapete da civilização. Etiópia, Ruanda, ex-Jugoslávia. Cada foto é um “murro no estômago” daqueles que apregoaram avanços civilizacionais.
“Storm Children – Book One” de Lav Dias
Ver um filme deste conceituado realizador é peculiar. Mesmo sabendo da duração das suas obras, não estamos preparados para ser arrastados juntamente com os magníficos planos do período caótico que sucede a catástrofe. Este rescaldo a preto e branco confere ao filme uma poeticidade quase etérea.
O vigésimo milésimo dia na Terra de Nick Cave, “contado” neste filme, deixa o espetador espantado com a cor que o cinzento de Brighton ganha quando Cave o atravessa no seu Jaguar, à conversa com os seus não-tão imaginários companheiros. “20.000 Days on Earth” é mais um exemplo da intrínseca relação do cinema do Real com a Ficção.