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CLÉRIGOS COMEDY CLUB RECEBE PAULO ALMEIDA: “O STAND-UP COMEDY É VISTO COMO UMA ARTE MENOR”

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Depois de várias tentativas falhadas, voltam ao país as noites regulares de stand-up comedy no formato de “clube de comédia”. Todas as quartas-feiras até 21 de junho, o JUP vai acompanhar as “warm up sessions” do Clérigos Comedy Club, no Clube 3C, no Porto, programadas pelo humorista Rui Xará, mentor do projeto. Todas as semanas contamos o que vimos em palco e o que nos contaram fora dele.

Fotos: Ana Marta Ferreira e João Pedreda

Pouco antes das 23h, hora marcada para começarem as “warm up sessions“, o Clube 3C está cheio. Algumas caras são habituais, outras conhecidas do público. Há quem venha pela terceira vez (Rui Xará inaugurou o projeto, no dia 3, e Paulo Baldaia atuou na semana seguinte, dia 10 de maio), e a mesa mais próxima do palco é daqueles que o vão pisar. Paulo Almeida está sentado e conversa com os colegas: discutem o livro de histórias infantis que Ricardo Couto vai usar em palco, não se sabe bem como.

Com vista para a famosa torre, o público e os artistas entram pela mesma porta do bar, e isso faz do Clérigos Comedy Club um verdadeiro “clube de comédia”: um ambiente intimista onde nomes conhecidos do humor convivem e discutem a arte com novos comediantes e com o público geral. Em Portugal houve várias tentativas de formalizar um espaço dentro do género, com pouco ou nenhum sucesso. Rui Xará, um nome incontornável do humor portuense e português, muniu-se dos seus conhecimentos na área para mais uma tentativa.

Paulo Almeida, que acaba esta semana a tour com o seu espetáculo “Overdose de Tourette”, conta ao JUP que veio ao Porto de propósito porque tinha de “sentir o pulso” ao novo espaço que diz fazer “muita falta ao Porto”. A Invicta é, de resto, a cidade onde o humorista gosta mais de atuar no país, mas foi também pela amizade com Rui Xará que veio. “As noites com o Xará valem sempre a pena”, confessa.

Todas as noites funcionam da seguinte forma: o público entra como num clube normal e recebe um cartão de consumo (nestas noites, o consumo obrigatório é de 4 euros). Não há bilhete, e em vez da música eletrónica ou dos últimos êxitos brasileiros, o público senta-se e ouve stand-up comedy. Para aquecer o ambiente, há espaço para “open-mic” (qualquer membro do público se pode oferecer para ir ao palco). Seguem-se “os comediantes da casa”, como lhes chama Rui Xará, e a noite fecha com o nome anunciado no cartaz.

Na passada quarta-feira (17), os “protegidos” do Rui Xará que subiram ao palco foram Ricardo Couto, Pedro Pedrosa e Luís Gomes. E porque um bom clube de comédia serve para isso mesmo, Ricardo diz-nos que está “a testar novo material”. Traz um livro de histórias infantis e, sem revelar o que vai fazer com ele, responde às perguntas e aos risos dos colegas. O JUP já tinha conhecido Luís e Pedro a propósito do projeto Indevida Comédia. Luís Gomes traz um bloco de notas que – percebemos mais tarde – tem poemas escritos, que vai recitar.

Entre as atuações dos três rapazes, Rui Xará anuncia o momento “open-mic” da noite. Pedro Gabriel é um “novo talento” que contactou Xará pelo Facebook e lhe enviou um texto que gostaria de apresentar em público, para o humorista veterano avaliar. Xará respondeu-lhe, como diz “a todos”, que “um texto não serve de nada”. “Sei lá se vai funcionar em palco. O Pedro tem um sotaque que funciona muito bem, por exemplo, e eu não sabia. Digo sempre que, para vermos se funciona, têm de fazer ao vivo”, explica Xará. E por isso Pedro veio. Com uma cábula na palma esquerda, pediu desculpa em avanço, caso se esquecesse do texto. Não se esqueceu e foi bem recebido pela casa cheia.

Rui Xará é conhecido no país como um dos “pais” da comédia em Portugal, especialmente no Norte. Não exatamente por ter sido dos primeiros a escrever ou interpretar comédia no país, mas também porque Xará, nos seus 18 anos de carreira, catapultou para a perceção pública nomes como João Paulo Rodrigues ou Hugo Sousa. E continua a fazê-lo, a procurar talento nos mais novos e a marcar-lhes datas para atuarem, a criticar-lhes os textos.

Foto: Ana Marta Ferreira

Hugo Sousa também estava no público na passada quarta-feira e, se alguém havia que não tivesse reparado, Xará fez questão que Hugo subisse ao palco “para fazer uns minutos”. Hugo Sousa está neste momento em tour com o seu solo “On The Rocks”, e revelou algum do seu material novo ao público do Clérigos Comedy Club.

Intervalo para mais uma bebida e um cigarro e a noite é de Paulo Almeida. O lisboeta assistiu aos momentos dos colegas com entusiasmo e, antes de subir ao palco, diz ao JUP que a atuação no Porto “vai ser uma das últimas durante largos meses”, porque vai fazer uma pausa para preparar o seu solo que apresentará a um país onde “a comédia ainda é um parente pobre das artes”. Paulo, perante um bar cheio à espera de o ouvir, revela que tal não acontece em todo o país. “Há salas que não aceitam receber tours de stand-up que estão a ser vantajosas economicamente porque dizem que não faz sentido. A comédia, e principalmente o stand-up, ainda é visto como uma arte menor”.

O humor negro assumido e corrosivo de Paulo Almeida é ainda menos consensual pelo país, mas no Clube 3C qualquer assunto pode virar piada. Na próxima quarta-feira, dia 24 de maio, o Clérigos Comedy Club recebe Jel e o JUP sabe que, para além de subir ao palco com algum material novo, o humorista trará consigo Vasco Duarte, a outra metade da dupla Homens da Luta.

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