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Cultura

“É LEVIÔSA, NÃO LEVIOSÁ”: HARRY POTTER EM CONCERTO

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Ainda faltam 2 horas para o início do concerto, mas já a fila em frente do MEO-Arena se começa a formar. “Vamos ficar aqui mais meia hora, de certeza”, diz uma rapariga que veste a camisola da casa de Harry Potter, Gryffindor.

Estão pessoas sentadas no chão, sob o calor da capital. Uns conversam sobre os seus filmes favoritos, outros falam sobre os livros. Todos estão ali por um motivo: poder reviver a magia de Harry Potter e a Pedra Filosofal, mas desta vez, com música ao vivo.

O Parque das Nações está transformado numa verdadeira escola de magia e feitiçaria. Por todos os lados veem-se pessoas vestidas a rigor. Varinha na mão, capas colocadas. Nem os quase 30ºC impedem que se use o uniforme de Hogwarts, que relembra algumas das vestes académicas portuguesas.

São 19h04 quando finalmente as primeiras pessoas começam a correr pelas escadarias da arena. Os lugares nos balcões do pavilhão não são marcados, então todos querem chegar primeiro para ficar com o melhor sítio.

Já lá dentro, os lugares começam a encher. Chama-se pelos que ficaram para trás perdidos na multidão. “Encontrei um lugar!” é o que se ouve à medida que as pessoas se sentam.

Começam a vender-se pipocas para acompanhar a projeção do filme. Ainda estamos longe das 20h30 mas o entusiasmo é evidente. Toca uma música de fundo e no palco todos os instrumentos já estão à espera do momento em que vão dar vida à banda sonora de John Williams.

Encostadas ao limite dos balcões, as pessoas tiram fotografias, com o ecrã de 12 metros como fundo, onde se pode ler “Harry Potter and the Philosopher’s Stone – In Concert”. Mais abaixo, as plateias começam a receber o seu público, no entanto, ainda está vazio quando comparado com os balcões.

O calor de Lisboa é atenuado quando se entra no pavilhão. Os cachecóis à volta do pescoço identificam as casas de Hogwarts. Ora é azul de Ravenclaw, ora amarelo de Hufflepuff, verde de Slytherin ou vermelho de Gryffindor. A casa a que se pertence dá origem a conversas entre estranhos. “Também sou de Slytherin! Somos uns incompreendidos.” A equipa de Draco Malfoy é uma das que têm mais fama. Mas nenhuma fica de parte. Numa terra de Muggles, os “feiticeiros” orgulham-se de vestir a cor da sua equipa mesmo sem ter uniforme: uma simples t-shirt chega. E a caracterização é quase geral. Na camisola de duas mães que acompanham os seus filhos ao concerto pode-se ler “Eu não sou uma mãe qualquer. Sou uma Potter-mãe”. Não há idade para se acreditar em magia.

São 19h52, e do lado direito do balcão 1 começam a ouvir-se palmas. Ninguém sabe ao certo o porquê, mas a alegria é contagiante e espalha-se por toda a arena.

Às 20h11 surge no ecrã um vídeo para apresentar o concerto. As imagens dos filmes e entrevistas a Daniel Radcliffe, ator que faz o papel de Harry, bem como aos produtores David Barron e David Heyman não parecem captar a atenção do público. Surge ainda John Williams, compositor das bandas sonoras dos três primeiros filmes da saga. O vídeo retrata o processo de composição de alguns dos temas do filme e faz-se acompanhar por imagens das pautas com as notas musicais.

Às 20h30 a Orquestra Filarmónica das Beiras surge detrás do ecrã e à medida que sobem para o palco são aclamados pelos potterheads. Começam os preparativos, afinam-se instrumentos. Chega, então, a maestrina Sara Hicks. Tudo a postos. Surge o momento pelo qual todos esperavam. Inclinam-se para a frente nas cadeiras. As primeiras notas do irreconhecível tema que marca o início do filme são ouvidas e ninguém consegue conter o entusiasmo. Ouvem-se palmas e gritos enquanto aparece o logótipo da Warner Bros.

Apesar de algumas falas não serem percetíveis e de as cenas mais escuras do filme quase não serem visíveis nada impede os olhos das pessoas brilharem à medida que os momentos mais icónicos ganham vida à sua frente. “És um feiticeiro, Harry” são as palavras de Hagrid que marcam a revelação feita ao jovem de 11 anos e que lhe viria a mudar a vida. Ouve-se a resposta a ser sussurrada entre risos e lágrimas: “Sou um quê?”

Muitos são os momentos em que as gargalhadas enchem o recinto. Especialmente quando Ron Weasley e Hermione Granger interagem. Uma das cenas mais conhecidas e uma das favoritas é o momento em que a personagem de Emma Watson corrige Ron (Rupert Grint) durante o feitiço “Wingardium Leviosa”. No MEO-Arena ninguém diz Leviosa da forma errada, a lição está aprendida. Tudo isto acompanhado pelos instrumentos tocados pelos cerca de 90 músicos, tornou a experiência verdadeiramente inesquecível e, claro, mágica.

É um dos filmes mais acarinhados da história, marcou uma geração inteira e continua a criar fãs. E nem as más condições acústicas tornaram a noite menos especial.

Nem todos ficaram para acompanhar os créditos finais. Mas o som da orquestra ainda se fazia ouvir junto à saída. Muitos atravessam a rua em direção à Gare do Oriente para retornar a casa. Não há vassouras voadoras pelo ar. No entanto, há sorrisos e um sentimento de união, causados pelas recordações que Harry Potter e a Pedra Filosofal trouxe a uma das noites mais mágicas de Lisboa.

 

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