Cultura
PORTO BLUES FEST: A “FILHA DO BLUES” DEITOU A CASA ABAIXO
Shirley King e Rui Veloso levaram ao rubro o público nos Jardins do Palácio de Cristal, apoiados pela banda portuguesa Budda Power Blues. O concerto deste sábado, dia 27, homenageou B.B. King – pai de Shirley – e encerrou a primeira edição do Porto Blues Fest.
Antes de os músicos pisarem a Concha Acústica – o palco do festival – Álvaro Costa, o anfitrião da noite, “aquecia” o público para o que aí vinha, passando música blues como DJ. As pessoas iam-se juntando – grande parte sentada na relva, outra de pé, e em número consideravelmente maior do que na noite anterior.
Foi o mesmo Álvaro Costa que “fez as honras da casa” e apresentou os músicos, dando as boas vindas aos portuenses: “Porto, boa noite! “The blues is in town”!”, dizia. “É a minha primeira aparição pública depois de sete meses de blues numa cama de hospital… Blues também é isso, também é o sofrimento!”, continuou, numa alusão ao significado da palavra em inglês. De seguida, fez um trocadilho com uma música de B.B. King para chamar os músicos ao palco: “Mas, “Let The Good Times Roll!…” Porto, o blues está na cidade, com Shirley King e Budda Power Blues! “Long live the blues“!”
Shirley King apareceu em palco, entrando no ritmo da banda portuguesa Budda Power Blues, e começando logo a interagir com a audiência: “quero que me ajudem”, pedia, cantando, em inglês. O público respondia com entusiasmo, batendo palmas e entoando os refrões, contagiado pela energia da cantora.
À medida que cantava, Shirley King ia improvisando as letras e os ritmos, à boa maneira do blues, e ia conversando diretamente com o público enquanto cantava, com uma enorme boa-disposição. A “filha do blues” debruçava-se sobre os corrimões da Concha Acústica, dançava, fazia twerk… Até do momento em que despiu casaco dourado fez uma brincadeira. Mais tarde, dizia: “Sou uma palhaça!” [clown, em inglês], “Vou mudar de nome para Shirley Clown!”.
Antes da próxima música, Shirley dirigiu-se mais uma vez ao público: “Quero chamar ao palco seis cães!… Sim, ouviram bem: 6 cães! Porque eu sou um gato, não quero mais gatos aqui!”. Subiram ao palco seis voluntários, todos homens, que tiveram a missão de “mostrar como é que se passeia o cão”. Um a um, dançaram com Shirley King no momento instrumental, e atrás dela, enquanto cantava. Tiveram direito a uma grande salva de palmas do público, como pediu a norte-americana.
De seguida, foi a vez de chamar ao palco a estrela que todos tanto aguardavam: Rui Veloso. Shirley King não escondeu a sua admiração pelo músico português ao apresentá-lo: “Já tocou com o meu pai e é muito conhecido lá fora… É um de vocês – mas não lhe é dado o devido valor!”.
O público brindou Rui Veloso com uma grande ovação, e “o maior bluesman português” começou logo, com I Got My Mojo Working, a mostrar a sua qualidade técnica como guitarrista. E a voz apareceu também – mas sempre dando papel de destaque a Shirley King, notando-se sempre o grande respeito e admiração mútua, que se refletiu num grande espetáculo de blues.
Em I Got My Mojo Working, subiu também ao palco uma cantora que Shirley conhecera no Porto – portuguesa, mas de nome Elisabeth – que arrancou muitos aplausos do público pela sua fantástica voz. “Somos irmãs e o B.B. não me contou”, brincava Shirley, congratulando a prestação da portuguesa.
O concerto continuou, com a anunciada homenagem a B.B. King, “rei do blues” e pai da cantora. Antes de Why I Sing The Blues, Shirley King lembrava que o pai era insubstituível: “É uma homenagem, mas ninguém faz isto como o B.B. King. O que vos vou tocar é o meu arranjo”, frisou.
Repetiu o discurso antes de interpretar um dos maiores sucessos do pai, The Thrill Is Gone. Numa atuação altamente emotiva, levantou os braços, enquanto se dirigia ao pai, cantando. Pedia para ele “descer”, para “tocar connosco”… “Sintam o espírito do B.B. King, ele está aqui”, cantava. O público aplaudia efusivamente, e todos os que estavam sentados se puseram de pé. Ninguém se voltou a sentar.
Naquela que era para ser a última música, Let The Good Times Roll, toda a gente estava de pé, a aplaudir e a vibrar com a magia do blues. Shirley King, em jeito de despedida, agradecia a todos pela presença, por gostarem da música dela e por homenageado o pai: “Devia haver uma estátua do B.B. King em todas as cidades do mundo”.
Os aplausos não tinham fim, e o público portuense queria mais – ninguém arredou pé, à espera do encore. Pouco depois, a espera deu frutos: Shirley King, Rui Veloso e Budda Power Blues voltaram a subir à Concha Acústica, para cantar Everyday I Have The Blues.
Lembrando a primeira vez que tocou esta música, com B.B. King, Rui Veloso contou uma história: “Era a primeira vez que ia tocar com o B.B. King e eu estava todo “borradinho”! (…) E o B.B. disse: “Começa tu!” (…) Uma música qualquer, tanto faz! A banda vai atrás!” – Espero que agora aconteça o mesmo, vou começar!”, disse, antes de se ouvirem as primeiras notas. O músico português também fez saber que o boné que trazia lhe tinha sido dado pelo próprio B.B. King, quando tocaram juntos em Lisboa.
Mas o encore ainda não tinha terminado. Houve tempo para mais uma música: o grande êxito Stormy Monday, a propósito do qual Shirley King aproveitou para aludir ao tempo que se fazia sentir ontem no Porto. Mas, apesar de ter estado previsto um temporal, a chuva deu tréguas durante todo o concerto, só tendo começado a cair já no fnal.
Shirley King ficou, no fim, a dar autógrafos aos fãs, e a promover os seus álbuns e discos do pai. Segundo a própria, a cantora tem já data marcada par voltar a Portugal, dia 12 de agosto, “mas desta vez no sul” do país, em Reguengos de Monsaraz.