Cultura
CLÉRIGOS COMEDY CLUB: JEL E VASCO DUARTE PRESIDIRAM NOITE DE HUMOR “MUSICAL”
Depois de várias tentativas falhadas, voltam ao país as noites regulares de stand-up comedy no formato de “clube de comédia”. Todas as quartas-feiras até 21 de junho, o JUP vai acompanhar as “warm up sessions” do Clérigos Comedy Club, no Clube 3C, no Porto, programadas pelo humorista Rui Xará, mentor do projeto. Todas as semanas contamos o que vimos em palco e o que nos contaram fora dele.
Quando o JUP chegou ao Clube 3C na passada quarta-feira (24) ouvia-se música, alguém a cantar. Seria o sítio certo? Ouvindo melhor a letra, percebe-se que sim. Em palco estava já o Paulo Baldaia, que construía histórias para, à guitarra, cantar as punchlines. Uma particularidade das quartas-feiras no Clérigos Comedy Club é que, para além do nome cabeça de cartaz anunciado publicamente, mais nenhum nome da noite é conhecido. O público nunca sabe, realmente, para o que vai.
A dupla MD, os “Manos Duarte” (Jel e Vasco) foi quem tornou na noite de 24 de maio a mais concorrida até agora das “warm-up sessions” do novo clube de comédia da baixa. A casa está a rebentar pelas costuras e o público, sentado e de pé, rapidamente percebe que vai ser uma noite diferente. Há música, há storytelling. E há stand-up, claro.
André Boaventura é um rapaz grande, adorável, e dizem que é um “storyteller“. Custa acreditar que vai subir a um palco de stand-up às 23h de uma quarta-feira. Mas as histórias que vem contar trazem bolinha vermelha no canto superior direito. Está tudo explicado.
Como de costume, Rui Xará faz as pontes entre os convidados e está na hora de mais um “protégé” seu. Gabriel Mendes já tem anos disto e quebrou o gelo com as imitações de Star Wars, mas foi a cantar que conquistou a sala, num repertório que foi desde Bob Marley a Eros Ramazzotti.
Era uma noite musical, estava visto. Mas se isso ainda não tivesse ficado claro, os irmãos Duarte fizeram questão de sublinhar, enquanto se sentavam em duas cadeiras no palco, que aquilo ia ser sério. “Isto não é stand-up. Vou-vos contar umas histórias e quero que estejam muito atentos porque agora o assunto é sério.”
As músicas eram, de facto, sobre assuntos sérios: as drogas, o Tarrafal. Mas as letras de Jel, acompanhadas à guitarra por Vasco, levaram o Clube 3C às lágrimas de tanto se rir.
Os irmãos, apesar de se apresentarem ao vivo como “Manos Duarte”, ainda revisitaram alguns êxitos dos seus tempos de “Vai Tudo Abaixo” e dos “Homens da Luta”. “Al Gore sou eu e tu / Al Gore sou eu e tu / Vamos salvar a Terra, o nosso planeta / O planeta azul” saiu de cor e em coro do público da 4ª noite do Clérigos Comedy Club.
No final, o JUP esteve à conversa com Jel e Vasco sobre a comédia em Portugal, os seus projetos paralelos e futuros e ainda sobre o prazer que deu aos irmãos “matar” os “Homens da Luta”.
Vasco Duarte começou por elogiar o trabalho de Xará na divulgação da comédia: “Acho muito importante um espaço como este. E o Xará traz aqui, não só comédia do Porto, mas comédia nacional. É no Porto, mas não é um espaço de comédia local”. Apesar de tudo, o espetáculo que os irmãos trouxeram ao Clube 3C não foi stand-up, algo que, na sua forma tradicional, Jel nunca fez: “Não é algo que viva ansioso para fazer. Mas como eu sou um gajo que gosta de fazer coisas diferentes, de experimentar, um dia vou ter que fazer.”
Os irmãos, nas músicas que apresentam, satirizam (nas palavras de Jel) “as canções de esperança que nos dão a ilusão de participar numa solução que não existe”. Mas não é isso mesmo o que é o humor? Jel confessa que sim, que o humor também funciona como essas baladas que satiriza. “É um escape, um alívio nesta existência tão absurda que é a vida. O riso acaba por mandar abaixo muita coisa, muitas explicações racionais que arranjamos.”, disse Jel.
Vasco Duarte aproveitou para revelar ao JUP os pormenores do seu novo projeto musical “Paralelo 38”: “É um personagem psicodélico, que acredita em várias coisas. Acredita que José Cid partiu em 1978, acredita que os Illuminati mataram o Nicolau Breyer… é um gajo moderno”. Vasco avançou ainda que este “não é um projeto para chegar às massas, como chegou os Homens da Luta. É um projeto que me dá gozo, e isso basta.”
À pergunta “deu-vos mais gozo criar os projetos Homens da Luta e Jean Carreira ou mata-los”, os irmãos riem-se. E respondem, discutindo entre eles se os “Homens da Luta” estão mesmo “mortos”. Vasco Duarte faz questão de frisar que nunca terminaram oficialmente o projeto, como ele fez com Jean Carreira. Jel argumenta que “nunca os matamos, é verdade, mas congelamos. Não podemos matar projetos como esse ou como os Kalashnikov. Nunca se sabe se vamos precisar deles daqui a 15 ou 20 anos, quando outra geração precisar deles.”
A próxima noite de comédia no Clérigos Comedy Club é esta quarta-feira, 31 de maio, com o stand-up de Bruno Henriques (conhecido pelas redes sociais como o “Jovem Conservador de Direita).