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Cultura

ROMANI 2.0 – A HISTÓRIA DA ETNIA ATRAVÉS DA MÚSICA E DA DANÇA

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A Casa da Música abriu portas a mais um “Romani”. Jorge Prendas, Coordenador do Serviço Executivo da Casa da Música, explica que “há dois anos surgiu o primeiro projeto com a comunidade cigana, com pessoas dos conjuntos habitacionais do Seixo e da Biquinha”. “Romani 2.0” surge através de “Romani”, o primeiro espetáculo apresentado ao público, estreado a 29 de abril de 2015.

O evento teve início às 21h, na sala Suggia. Antes da apresentação, foi pedido um minuto de silêncio em homenagem às vítimas do incêndio em Pedrógão Grande. Os músicos já se encontravam no palco. Após o momento, surgem os 25 participantes de etnia cigana e os alunos do 3º ano do curso de dança do Balleteatro Escola Profissional. Nuno Caldeira e Elton Prudêncio tocam guitarra, enquanto Filipe Ricardo dá vida à concertina e ao acordeão. Na voz, é Sara Yasmine quem acompanha as danças dos protagonistas. Sérgio Bastos é o responsável pelo piano e pelo baixo, e Sérgio Gonzales pela voz e teclas.

No final de cada demonstração, os grupos sentam-se nos bancos que estão dispostos nos dois lados do palco, para dar lugar a outros números, com outros intervenientes. Com José Vasconcelos e Jorge Queijo na percussão, o espetáculo continua.

“Romani 2.0” é uma criação que destaca a identidade do povo cigano, através da dança, da música e da religiosidade. Através das atuações em palco, o grupo exalta a tristeza e a dor, mas também a diversão da etnia cigana, como forma de celebrar a raça e a liberdade. É um espetáculo que procura combater preconceitos, protagonizado por um grupo que pretende evidenciar a história da etnia.

A iluminação é alternada, como forma de adaptação ao momento que está a ser vivido em palco. Entre as cores que fazem parte da indumentária, está o branco, o vermelho, o preto, o cor de rosa e o azul. “O espetáculo tem uma policromia muito bonita”, revela Teresa Macedo, professora de dança. Acrescenta ainda que “o tempo de atuação é pouco, mas representa meses de trabalho. Hoje tenho a certeza que ninguém sai daqui triste”.

“Romani 2.0” tem direção artística e coreográfica de Isabel Barros e direção musical de Jorge Queijo. Romani é o idioma da criação do projeto e é aquele que é usado em cada ensaio. Carlos Silva, de 40 anos, é responsável pela assistência de coreografia, em conjunto com Sónia Cunha. “A Isabel lançava os temas e eu ensaiava as ideias com os alunos. Tínhamos ensaios do Balleteatro à semana e ensaios aos fins de semana com a comunidade cigana”, revela Carlos.

“A dança é a minha paixão”, revela Ana Sofia Pereira, de 18 anos, aluna do 3º ano do curso de Balleteatro. “Luto todos os dias por ser melhor na área que eu escolhi”, acrescenta.

Elton Prudêncio, de 26 anos, toca guitarra flamenga e é comprador e vendedor de carros. Em entrevista ao JUP, revela o que o levou a integrar o grupo: “Eu comecei porque um colega me disse que havia um projeto capaz de mostrar às pessoas que os ciganos não são bem aquilo que se pensa que são”.

Elton participou no primeiro Romani, em 2015, no entanto confessa que o “Romani 2.0” foi “mais completo, porque já estávamos todos mais sincronizados”.

Para Elton, há outra realidade que o espectáculo procura mostrar. “O que eu espero realmente com este trabalho, é que a imagem que as pessoas têm dos ciganos possa acabar, e que se perceba que a nossa comunidade tem talento. Não é só o Quaresma ou o Ibrahimović. É muito importante mostrar às pessoas que somos iguais. Nós não somos aldrabões, impostores nem mentirosos, como vem escrito nos dicionários”, afirma o músico.

“Já vi muita gente a virar costas em entrevistas de emprego, simplesmente porque somos ciganos. Se um faz mal, pagam todos, mas eu não acho que tenha de assumir as consequências dos atos de outra pessoa. Foi ela que agiu mal, não eu”, continua Elton Prudêncio. “Espero que as oportunidades possam surgir. Estar ligado a este meio é uma experiência espetacular. Conheci artistas em Espanha, com quem já toquei e cantei. E são pessoas que nunca sonhei sequer conhecer”, conclui.

O espetáculo assinala o vigésimo quinto aniversário da ADEIMA – Associação para o Desenvolvimento Integrado de Matosinhos, uma instituição que garante o trabalho social perto das populações mais debilitadas do concelho – e a Câmara Municipal de Matosinhos, que contribuíram para a concretização do projeto.