A 23 de abril assinala-se o Dia Mundial do Livro, pois neste dia (1616) faleceram Cervantes e Shakespeare. Por ter sido recente essa efeméride, é justo recordar a obra 21 glosas de Carlos Drummond de Andrade a 21 desenhos de Cândido Portinari sobre cenas do Dom Quixote de Cervantes. As glosas dos poetas nordestinos e de Cervantes diferenciam-se na estrutura e na época, mas Drummond de Andrade faz uma espécie de síntese temática e formal de ambas, utilizando sonetos, quadras, verso livres e até poesia visual (“Um em Quatro”) de pendor mais narrativo. O primeiro poema, “Soneto da Loucura”, evoca o tema principal da obra, a alienação do cavaleiro andante, mas há também textos mais bucólicos (dedicados à paisagem e personagens) ao lado de outros de experimentação do som, homólogos líricos das ilustrações a lápis de cor. O leitor pode até reconhecer-se nas dúvidas de Sancho Pança: “Eis-me, talvez, o único maluco/e me sabendo tal, (…) sou – que doideira – um louco de juízo”.