Cultura

COMO SE VIVE UM DIA DE FEST

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No sábado, dia 24 de junho, o Fest, em Espinho, estava a chegar a fim.

De acordo com Fábio Martins, membro da organização do festival, o grande objetivo do evento é “potenciar um networking informal”. É dado grande ênfase às relações pessoais deste mercado de trabalho já que “mais do que os filmes em si, o grande objetivo é a experiência humana”, diz a organização.

A divulgação do trabalho de jovens realizadores na fase inicial da sua carreira é das maiores preocupações do festival, visível na vertente mais focada na competição, cujas categorias principais são as curtas-metragens de realizadores até aos 30 anos (Competição Lince de Prata) e longas-metragens de realizadores na sua primeira ou segunda produção, independentemente da idade (Competição Lince de Ouro).

“O Fest é promovido no exterior noutros festivais e em escolas parceira”, explica Fábio, ao JUP. Isto relaciona-se com o principal propósito do festival, que é dar espaço às novas gerações para crescerem e explorarem o seu trabalho, assim como entrar em contacto com nomes importantes do cinema, de forma informal e mais próxima.

Este tipo de promoção reflete-se na enorme adesão de jovens estrangeiros às atividades que decorreram durante esta semana, correspondendo à grande maioria de participantes.

Uma manhã de Fest

Às 9h30 de Sábado, o Centro Multimeios de Espinho enche-se de jovens cineastas, sedentos de conhecimento e curiosidade, vindos de vários pontos do mundo. Durante o pequeno-almoço estabelecem contacto com pessoas que partilham a sua paixão pela arte do cinema e que pretendem desenvolver projetos com valor. Aqui não se fala português.

Passados 30 minutos de convívio, está na hora da primeira masterclass do dia. Esta insere-se no programa do Training Ground, que inclui mais de 25 masterclasses e 10 workshops orientados por profissionais reconhecidos na indústria cinematográfica.

O auditório principal do Multimeios concentra os jovens realizadores. No centro do palco encontra-se Edward Lachman, diretor de fotografia, que irá orientar a sessão. Começa por congratular todos por estarem acordados tão cedo, depois da longa noite de São João, que suscitou grande curiosidade aos participantes.

O orador, conhecido por filmes como Erin Brockovich, The Virgin Suicides e I’m Not There, deu a conhecer o processo por de trás da criação de um filme. Analisou excertos das suas obras para explicar como atingir o resultado final e divulgou diferentes técnicas de trabalho. Foram dadas dicas sobre a importância da luz, da cor na transmissão de sentimentos e sensações, como contar uma história e o porquê de filmar em analógico. Várias questões foram feitas pelos participantes, relativas ao movimento da câmara, quais as técnicas de gravação e como é feita a exploração dos sentidos.

Melissa Leo, atriz americana, esteve presente, desenvolvendo-se um diálogo entre os dois, onde foi abordada a sua perspetiva durante a gravação de um filme, a relação entre realizador e atriz, dicas e o ambiente durante as gravações.

Uma hora depois teve início uma outra masterclass, orientada por Nancy Bishop, uma reputada diretora de casting, autora e formadora de atores, cuja temática se prendia com o processo de casting de atores.

As duas da tarde marcam o início de duas atividades: uma sessão de cinema e um workshop.

Uma tarde de Fest

Na sala Spatium (Planetário) do Centro Multimeios inicia-se a sessão do Nexxt, uma secção competitiva que destaca o trabalho de jovens, provenientes de escolas de cinema de todo o mundo. Foram projetados oito filmes, com a presença de dois dos realizadores na sala.

Num ambiente acolhedor, com apenas um pequeno candeeiro ligado, Matthew Campbell e Claudia Hoey fizeram um tímido testemunho sobre os seus filmes, dando o mote para o início da sessão. As características da sala originaram uma sessão confortável e familiar.

Paralelamente, Carolina Duarte orienta um workshop sobre audiências.

Horas mortas é algo inexistente neste festival, há sempre atividades ricas em conhecimento e de grande interesse para descobrir.

“Ter uma oferta incrível de oradores, muito recetivos e que te mostram exemplos práticos de como fazer as coisas, ter acesso a esse tipo de conhecimento – mesmo não sendo da área – é inspirador”, diz Marcelo Baptista, voluntário no festival. Frescura e dinamismo caraterizam este evento.

Acabada a projeção no Multimeios, o Casino de Espinho recebe a segunda sessão do dia do Nexxt.

O relógio marca as 16h30 e no Centro Multimeios continuam a ouvir-se muitas línguas que o português. Está na hora da sessão de Curtas de Ficção. Foram apresentados seis filmes, um deles português e com o realizador presente na sala. Desta vez, a sessão conta com mais espinhenses.

As pessoas entram mais hesitantes, ouve-se em sussurros “Qual o lugar onde se vê melhor?”, “Achas que devemos ir para mais perto ou mais longe da tela?”. Com sala cheia, Ricardo Leite, falou um pouco sobre o seu filme, que iria ser projetado dentro de minutos e agradeceu a oportunidade.

 

Ricardo Leite – “The Fear Installation” Fotos: Marcelo Baptista

São 18h e vários participantes voltam a reunir-se na cafetaria do Centro Multimeios. É altura da última masterclass do dia, desta vez orientada por Melissa Leo, atriz galardoada com um óscar, Jen Gatien, produtora e Nicole Quinn, argumentista.

O tema da sessão, intitulada de “A adaptação do argumento ao grande ecrã” prende-se com o que é o cinema independente nos dias de hoje.

Com muito humor e boa disposição, as três personalidades deram a conhecer o seu percurso profissional, responderam às inquietações dos participantes e incentivaram-nos a não desistir deste meio.

Foram abordadas questões como o processo de desenvolvimento de um guião, como entrar no mercado de trabalho, como lidar com a falta de propostas e qual a dinâmica inerente à gravação e produção de um filme.

Melissa Leo, Nicole Quinn e Jen Gatien

Terminada a masterclass, inicia-se a projeção de filmes na Filmmaker’s Corner. Esta secção do evento consiste numa sala dedicada a sessões de cinema, que pode ser reservada por todos os participantes. Através da distribuição de panfletos ou do convite pessoal de cada realizador, várias pessoas são incentivadas a testemunhar a projeção do filme. Resulta, assim, numa oportunidade para partilhar um filme com pessoas do meio.

O festival não resulta apenas numa oportunidade para os participantes inscritos desenvolverem as suas capacidades e serem incentivados a continuar a trabalhar. Os voluntários do Fest também beneficiaram com o evento e com a “possibilidade de estar envolvido num evento destes, colocar fasquias altas e desafiares-te a fazer coisas”, confidencia Marcelo Baptista, voluntário. “Acho que é importantíssimo aproveitares isso, sem atropelar ninguém, mas abrires portas a ti mesmo”, conclui.

A sessões no auditório do Centro Multimeios encerram com a projeção do filme Park, de Sofia Exarchou, a concorrer para o Prémio Lince de Ouro Ficção.

Sessão Grande Prémio Nacional

Ao pôr-do-sol, na esplanada na praia do bar Green Coast, ergue-se uma tela de cinema, pronta para dar a conhecer o Grande Prémio Nacional. Passaram quatro filmes portugueses e dois dos realizadores estiveram presentes.

Após a projeção do segundo filme – Ivan, de Bernardo Lopes, o realizador respondeu a algumas questões sobre a sua curta-metragem, como de onde surgiu a inspiração, o seu percurso profissional e quais os seus próximos projetos. Seguiram-se mais duas projeções.

No final, o realizador Tiago Amorim e o produtor da última curta, 78.4 Rádio Plutão, deram um pequeno testemunho. Foram respondidas algumas questões sobre a realização do filme, a construção do cenário e a origem dos adereços. Já era noite quando sessão terminou, com inúmeros aplausos.

 

Bernardo Lopes – “Ivan”

A noite não traz o fim do Fest

A programação terminou às 23h, com a exibição do filme The Road Movie, de Dmitrii Kalashnikov, a concorrer para o Prémio Lince de Ouro Documentário.

O extenso auditório do Casino de Espinho reúne curiosos e participantes do Fest, que no fim da sessão atribuem uma classificação ao filme, de 1 a 5.

A programação termina, mas o Fest não. Depois de um dia de filmes e masterclasses, chega a altura da Fest Night, que possibilita um maior contacto entre os jovens realizadores e os convidados. A tela da sessão do Grande Prémio Nacional já não está no Green Coast, agora repleto de participantes, personalidades do cinema e o staff do festival.

Marcelo falou sobre o feedback dos jovens realizadores: “os participantes também pareceram adorar o Fest, o que a cidade e a organização lhes ofereceu e isso também conta.”. A noite prolonga-se, fazem-se amizades e vive-se a cidade à beira-mar, que os recebe de braços abertos.

Fábio Martins, da organização, refere que nesta edição a adesão da cidade foi maior. Isto relaciona-se com o cuidado na distribuição de convites para as sessões aos moradores da cidade e a criação de iniciativas que potenciam um maior contacto entre espinhenses e o cinema – o FESTinha, o Fest Village e as sessões na praia, em parceria com a Espinho Surf Destination.

Quanto às espectativas relativas ao Fest, Fábio realça terem sido alcançadas e que foram partilhados muitos projetos novos em banho maria”, prontos para projeção e maior destaque, numa indústria com elevada concorrência e de grande exigência.

 

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