Cultura
DIÁRIO DE CARMINHO E GUITARRA DE RUI VELOSO NO FESTIVAL F
“Hoje vai ser outra vez até às quatro”, relembrava a funcionária do Museu Municipal. E assim foi.
Depois de S. Pedro, They’re Heading West, The Happy Mess e The Black Mamba, Carminho subiu ao Palco para um – se não “o” – concerto da noite. Com uma plateia muito mais generosa que a do dia anterior, o Palco Ria voltou a ser o centro das atenções com a fadista que partilhou um passado comum com o sítio em que atua.
Com dois anos, Carminho viveu numa pequena aldeia algarvia e desde então a sua ligação com esta zona do país é inquestionável. “Eu vivi cá, mas o meu pai investiu numa casa de fados e deixámos o Algarve para trás. (…) Isto tudo para dizer que a minha mãe abriu uma casa de fados, que se chamava Embuçado, e lá eu comecei a ouvir os fadistas, as guitarras portuguesas, os artistas… Foi lá que conheci a Amália Rodrigues – senti uma grande emoção nesse dia”.
Tendo como cenário a Ria Formosa, este bem que poderia ter sido um concerto dos Azeitonas, pois Carminho levou toda a gente a ver os aviões, não parecessem estes que eram chamados pelo fado. “Isto é aviões e comboios a passar… Quem chegou atrasado arranja sempre uma solução!”, brincou a fadista.
Num concerto intimista onde estórias foram partilhadas e sentimentos foram expressados, Carminho declarou-se ao público e este rendeu-se a ela. “O amor é lamechas. E eu sou lamechas com o amor, acho que é assim que tem que ser”.
Numa só voz e numa única emoção, o público aplaudiu e da noite fez-se dia: “Bom Dia, Amor” foi um dos pontos altos da noite. “O amor é lamechas (…) e eu quero que cantem esta música para alguém que tenham aí. (…) Não se comecem a beijar, porque eu preciso das bocas”.
Num acorde final, as guitarras e teclas calaram-se, como que num tom de despedida. Acapella, Carminho prosseguiu num dos momentos mais aplaudidos, “Ah, fadista!”.
“A seguir, neste palco, têm o fantástico Rui Veloso”, relembrou a fadista. Enquanto isso, dava-se um salto no Palco Sé, onde os Mão Morta ateavam o público.
A banda bracarense mostrou que está para ficar e que não cairá no esquecimento. Com o álbum “Nós Somos Aqueles Contra Quem Os Nossos Pais Nos Avisaram” editado este ano, a banda prosseguiu com um concerto que para quem não conhece o seu estilo, olhou de lado, estranhando.
Rui Veloso, por outro lado, fez-se ouvir rapidamente, num outro (grande) concerto no Palco Ria.
A Set List começou com melodias desconhecidas pela maioria do público, que perpetuou esperançoso para poder assistir aos hits intemporais compostos pelo artista portuense. “Canta o Anel de Rubi [“Paixão”]”, gritava uma fã do lado esquerdo do palco. “Nunca Me Esqueci de Ti”, contudo, foi o primeiro hit cantado em uníssono com o público. “Porto Como” e “Jura” sucederam-se e o público rendeu-se. “Há aqui alguém do Porto?”, perguntou o músico portuense.
Foi este o tiro de partida para “Porto Sentido”, um dos momentos nostálgicos da noite.
No balanço da saudade, a viagem ao tempo fez-se – e o ritmo dos blues foi recuperado do início do concerto. Ao som de “Lado Lunar” e “Sayago Blues”, o artista deu uma lição de guitarra como já tinha feito em “Irmãos de Sangue”, “Não Evoquem o Amor Em Vão” e “Os Velhos do Jardim”, cantados no prólogo daquele romance.
O Festival F tem hoje o seu último dia, onde vão atua artistas como Jorge Palma, Miguel Araújo, HMB, Frankie Chavez, Diana Martinez & The Crib, Noiserv, Orelha Negra e Dillaz.