Cultura

CLARICE FALCÃO NÃO FOI “MEIO CHATA” NA CASA DA MÚSICA

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A faltar 10 minutos para o início do concerto, o movimento começa a ser notável. De bilhetes a postos, as pessoas começam a dirigir-se para o local do espetáculo, a Sala Suggia. Vão em grupos, e não há um padrão no que diz respeito a idades. A música e alegria de Clarice são capazes de mover qualquer pessoa para dentro da Casa da Música. Do lado de fora, nevoeiro e alguma chuva: a noite perfeita de Outono. Ouvem-se gargalhadas e o entusiasmo é percetível, porque nem um pouco de frio consegue arrefecer o calor dos fãs de Clarice.

Quatro portas abertas dão acesso à Sala Guilhermina Suggia. As pessoas são guiadas até aos lugares indicados nos bilhetes. São 21h59 e já há telemóveis no ar para fotografar o palco. Em cima do mesmo, instrumentos de percussão, a guitarra, os suportes de microfone e uma pequena mesa.

Pouco antes do início do concerto, as pessoas são convidadas a passar para os lugares da frente. O concerto promete ser algo intimista, com uma proximidade evidente entre a artista e o público. Às 22h04 as portas são fechadas e uma voz feminina indica que o espetáculo vai começar.

Clarice Falcão e o guitarrista João Erbetta entram no palco. A cantora entra a sorrir e vai diretamente para o seu lugar. O guitarrista prepara-se e arranca com “e um, dois, três, quatro” ao que Clarice responde batendo no surdo de marcação para dar início ao tema “Irónico”. De olhos postos no público, interpreta o tema com o seu toque teatral com o qual nos familiarizamos na época da sua participação no canal Porta dos Fundos.

Com um tímido “obrigado” termina o primeiro tema e segue rapidamente para “Escolhi você”. Tal como no anterior, o tom de riso e ironia mantêm-se sempre presentes. As letras das músicas dão origem a risadas do público. Entre palmas e gritos, começa o tema “Eu esqueci você”.

Às 22h15, Clarice dirige-se ao público para falar pela primeira vez. Explica de forma sarcástica o porquê de não ter uma banda com ela. “O euro está muito valorizado”, diz com uma cara séria. Mas logo de seguida, ri e fala sobre como o Porto é uma cidade linda e como ela não diz isto em todos os concertos que faz.

Como não podia faltar, faz referência ao prato típico da Invicta, a francesinha. Conta como quase não coube no figurino, mas com um pouco de esforço e “um momento meio Hitchcock” lá conseguiu entrar. Clarice acaba o pequeno momento de conversa e canta o tema “Deve ter sido eu”.

De seguida, a cantora pernambucana pega no copo que se encontra na mesa ao seu lado. Tudo indica que a música vai ser sobre bebida. É o tema “Se esse bar fechar”, muito calmo, com uma luz muito fraca e leve. Contudo, não tarda a voltar a animação: pega de novo nas baquetas e canta um tema em inglês, e imediatamente a seguir surge a música “Talvez”, novamente num registo mais lento.

Clarice toca também harmónica, ainda que considere que não sabe como é que isso se faz, tal como os instrumentos de percussão. E surge mais um momento de história.

Segundo a artista, muitas vezes é questionada sobre as letras das suas músicas: são ou não inspiradas em factos reais? A resposta não é concreta, mas explica que o tema que se segue é o motivo pelo qual ela tem um CD, o motivo pelo qual partiu em turné: encontrar a Marta Helena.

Há cinco anos anda a receber chamadas e mensagens direcionadas a Marta, que aparentemente é uma pessoa com várias dívidas e problemas. “Então se conhecerem alguma Marta Helena digam-lhe que os bens dela vão ser penhorados!” diz de forma séria. Se é verdade? Ninguém sabe. Mas toda a gente sabe a letra e cantam animados enquanto Clarice toca pandeireta.

Continua o concerto com mais temas dos álbuns “Monomania” (2013) e “Problema Meu” (2016). Juntamente com João Erbetta canta “Eu me lembro”, seguida de “Banho de Piscina”, que são duas das favoritas do público.

Entre as duas músicas que dão título aos álbuns, inclui o tema “Clarice”, no qual faz piadas auto depreciativas e ilumina as críticas feitas às temáticas e a sonoridade das suas músicas, com frases como “Essa música barata/ Serve nem pra serenata/ Não tem nem metáfora/ E fora que é meio chata”.

No final da música torce o nariz e diz “Obrigado, acho”. O público ri e aplaude com ainda mais força do que antes, porque de facto parecem gostar daquilo que ouvem e da sua sinceridade.

O ar juvenil e simpático de Clarice não parece ir ao encontro das palavras que saem da sua boca. “Macaé” e “Oitavo andar” são exemplo disso. Para quem não entende português, as mensagens por trás das melodias animadas não são de todo sobre morte e perseguição. No final do tema “Macaé”, em que a narradora pede para que a pessoa em questão não fuja dela, o guitarrista pousa tudo e foge do palco. Todos perceberam a referência e o riso foi conjunto. Clarice vai atrás e pouco depois regressam ambos para mais uns temas.

Pouco depois das 23h, cantou a sua versão da música “Survivor” das Destiny’s Child, seguida de “Vagabunda” e tentou terminar o concerto com “Como é que eu vou dizer que acabou?”. Mas, assim que saiu do palco, os aplausos e gritos não pararam. Voltou pouco depois e perguntou o que mais queriam ouvir. Repetiu-se “Eu esqueci você”, já com todo o público de pé a bater palmas. Logo de seguida interpretou o tema “Eu sou Stephany”, um cover da música “Thousand Miles”, de uma forma muito relaxada, visto ser algo inesperado num concerto dela.

Os fãs pediram várias vezes que cantasse o tema “Fred Astaire”, mas em vez disso cantou “De todos os loucos do mundo” a capella, outra das mais esperadas na Casa da Música. Para terminar repetiu a adorada “Banho de Piscina” e desta vez sim, o concerto acabou. Estes últimos momentos foram os de maior proximidade, com as pessoas fora da cadeira, de pé ao lado do palco, sentadas no chão em frente a Clarice e já com as luzes da sala ligadas e as portas abertas. Repetiu muitas vezes o quão feliz estava por estar ali, e o público quis ter a certeza de que Clarice e João iam embora de coração cheio.

À saída, formou-se uma fila para que os fãs tivessem ainda a oportunidade de conhecer Clarice. Falou com todos durante uns minutos, tirou fotografias e autografou os bilhetes, sempre com a maior naturalidade possível. Despedia-se com abraços e agradecia olhando cada pessoa nos olhos com um sorriso estampado no rosto.

 

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