Cultura
OH LEE MUSIC SHOWCASE: À PROCURA DA “CONEXÃO”
O Oh Lee Music Showcase deu dois dias de música à Casa do Livro. A ideia é que este mini festival sirva de warm-up para o festival-conferência Tomorrow Comes Today, marcado para outubro de 2018. Mas não só, segundo o que disse Nelson Reis – organizador do evento, mais conhecido pelo seu projeto We Bless This Mess – ao JUP. O festival-showcase teve também como objetivo servir para que “o pessoal se junte e fale neste ambiente”. Nelson insistiu nesta ideia nas intervenções que fazia entre concertos. A conexão parecia ser a palavra central deste evento. Aliás, o lema do festival era mesmo “celebrar a vida através da música e mantermo-nos conectados”.
Dia 1, quinta-feira: 2 horas, 4 concertos
Foi com 8 minutos de atraso que, no primeiro dia do festival, João Cardoso, conhecido no mundo da música como O Mau Olhado começou o seu concerto. Apresentou-se em jeito de one man band, com uma guitarra acústica e um pedal de loop. O conceito não é novo nem inovador, mas foi bem reinventado pelo natural da Maia. Uma boa capacidade técnica, com sobreposições muito bem trabalhadas, a deixar o público a adivinhar quantas horas de trabalho estarão ali aplicadas. Da Maia seguiu para o centro da sala da Casa do Livro e, daí, diretamente para a memória de todos os que assistiram ao seu concerto.
Até queria tocar mais, mas o tempo não o deixou. Estava definido que cada atuação teria apenas 30 minutos. O público, tímido, ia entrando e ficava pelo corredor do espaço. O apelo de um presente para que se desligassem as luzes foi a solução para pôr fim à vergonha e fazer com que todos entrassem na sala. “Isto assim está muito mais gourmet”, afirmou um outro elemento do público presente.
To all my friends assumiram o leme pelas 18h30, com um formato muito diferente daquele que costuma ser o seu. O punk rock elétrico dos sadinos foi substituído por uma atuação calma, envolvente. Aqueles que assistem e não conhecem a sonoridade original da banda ficariam surpreendidos. Um baixo acústico, uma guitarra igualmente acústica e uma voz chegaram para recriarem as suas músicas em formato unplugged.
Seguia-se a simplicidade de Giant’s Magazine. Pedro Melo, nome civil do artista, assume-se como um storyteller. Este é, aliás, o nome do seu mais recente trabalho. O que faz na guitarra talvez se mantenha simples precisamente para que quem o vê se foque no que tem para dizer, para que oiça a sua história.
A derradeira atuação coube a Emmy Curl. Problemas técnicos obrigaram a aveirense a ter de atuar com a guitarra do artista anterior, Giant’s Magazine, que prontamente a emprestou. Problema resolvido: era hora de Catarina encher a Casa do Livro com a sua sonoridade psicadélica, provocada pela sobreposse de efeitos, tanto na voz como na guitarra.
“Aqui as pessoas conectam-se mais”, disse, no decorrer do concerto, agradecendo ao Porto por ser diferente de outros sítios menos humildes, e ao evento, mais uma vez reforçando a ideia da conexão. “Que Deus te tenha”, gritou um dos presentes. “Que o Universo vos guarde”, respondeu Emmy.
Dia 2, sexta-feira: o ponto máximo da “conexão”
No segundo e último dia de festival tudo se processou de forma diferente. O esquema frenético de concerto acaba/concerto começa não existiu. Em vez disso, quem se deslocou à Casa do Livro pôde ver Tio Rex, Fast Eddie Nelson e We Bless This Mess tocar alguns temas em conjunto. Alternadamente, iam tocando sozinhos temas dos seus projetos. Sentiu-se uma grande intimidade entre os três artistas, que iam enviando recados uns aos outros, sempre em jeito de brincadeira.
Fast Eddie Nelson, num registo muito diferente daquele que é o seu habitual, manteve-se a personificação do blues. Tio Rex aproveito para tocar músicas novas, mas não sem antes pedir autorização ao público. We Bless This Mess também aproveitou para experimentar material novo: a sua nova música Ocean, que estará inserida no novo álbum com lançamento previsto para março do próximo ano. Sobre esse novo álbum, Nelson disse ao JUP que se pode esperar algo “mais barulhento, uma cena mesmo full band, mas sempre com as raízes folk”.
No fim, o que ficou na memória dos presentes foi mesmo a intimidade entre os três artistas. A tão procurada conexão atingia o seu ponto máximo no momento em que tocavam juntos. Ficou a impressão que era um grupo de amigos que havia decidido juntar-se na Casa do Livro.
Coube ao grupo Mojave a função de fechar o festival: o primeiro e único concerto que não foi em formato acústico. A energia smooth do seu concerto, em muito sustentada pelo contrabaixo, foi bem recebida pelos presentes na Casa do Livro. Viram-se até forçados a tocar duas vezes a mesma música, face aos apelos do público para que não parassem.
Acabado o concerto de Mojave chegava ao fim o mini-festival, ficando ainda na sala alguns dos artistas a conversar entre si e com aqueles que assistiram aos concertos. Ficam as memórias dos momentos vividos entre as quatros paredes daquela pequena sala da Casa do Livro onde a Oh Lee Music quis juntar todos os amantes da música.