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IBERANIME OPO: COSPLAY, ARTE OU HOBBY?

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Quem passou perto do Multiusos de Gondomar no fim de semana do IberAnime (21 e 22 de outubro) teve oportunidade de fugir um pouco à realidade e ver desenhos animados fora da televisão e fora dos livros de banda desenhada. O JUP falou com alguns dos (muitos) cosplayers que durante dois dias fizeram as delícias de quem é fã da cultura pop japonesa. Todo o trabalho que os cosplayers têm até ao momento em que vestem o fato acaba por resultar em muitas fotos, muitas poses e muita conversa.

Uma discussão que surge com frequência na comunidade do cosplay está relacionada com a categoria em que este conceito se insere. Cosplay por definição é “costume play“, ou seja “disfarce”, representar uma personagem fictícia ou real e interpretar outras características dessa personagem além da roupa. Mas, para fazer tudo isso de forma completa, é necessário tempo, espaço, material e uma boa gestão do dinheiro. A cosplayer profissional Yaya Han defendeu isso mesmo na sua apresentação no primeiro dia do IberAnime. Agora consegue viver de algo que começou por ser somente uma diversão, sem objetivos muito definidos.

Mas o facto de ser só um passatempo para alguns não impede que o façam de forma cuidadosa. Outro cosplayer, Riki admite que é satisfatório quando alguém reconhece a personagem que está a tentar representar, pois é sinal de que o cosplay está bem feito. Tal como tudo, o objetivo é ir sempre melhorando.

Todos aconselham o mesmo: para fazer um bom cosplay é preciso ter em atenção a parecença com a personagem, mas também o conforto e saber se é viável utilizar o fato ou não.

Daniela Pereira tem 22 anos e é de Aveiro. No sábado (21), não era Daniela que estava no IberAnime, mas sim Erza, uma das personagens do anime Fairy Tail.
Criar um cosplay para alguém que tem horários difíceis pode ser bastante complicado, dependendo do nível de exigência do próprio fato. No entanto, não é impossível e Daniela foi prova viva disso. Alguns dos materiais que utilizou para criar o seu cosplay foram arame e PVC. Nas asas da armadura criou um sistema que fazia as asas abrirem. E sendo ela uma guerreira, não podia faltar a espada. No entanto, é feita de esponja para facilitar o seu transporte durante o dia inteiro.

Um dos cosplays mais comuns nos dois dias foi o de personagens do anime Sailor Moon. No entanto, Cristina Almeida, de Viseu, marcou pela diferença e fez um crossover entre Sailor Moon e o Pokémon Umbreon. No entanto, há sempre alguns percalços e o seu fato foi acabado no próprio dia, no carro. Ainda assim foi muito elogiada e interpelada para posar para fotos.

Vera Maio optou por representar a personagem Ashe de League of Legends. A sua personagem é um diplomata, alguém poderoso e é isso que pretende demonstrar quando lhe pedem fotografias.
Já faz cosplay há dois anos e além de personagens de League of Legends também pretende fazer cosplay de Hades, o deus do submundo no desenho animado Hércules.
Quem faz os seus fatos é a sua mãe. O cosplay que Vera estava a usar no dia em que o JUP a entrevistou demorou dois anos a ser concluído. Era suposto já o ter usado antes, mas acabou por desistir, pois uma das partes mais importantes da personagem, o arco, acabou por partir. Voltou a tentar, utilizando materiais como contraplacado, placas de isolamento e também recortes de tapetes de exercício para partes da armadura.

Na opinião de Vera, o cosplay “é um hobby”, é algo que a ajuda a expressar-se através de personagens que adora.
Vera é fã do Para Para Dance, uma das animações do IberAnime, mas, por causa da armadura que estava a utilizar nesse dia, não conseguiu participar.

 

A cosplayer Beatriz Bastos, portuense de 17 anos, começou a participar neste mundo em 2013, na Comic Con. Nesta edição do Iberanime apresentou o personagem Shizuo do anime Durarara. Beatriz descreveu Shizuo como sendo bastante nervoso e é por isso que o representa com um sinal de STOP na mão: Shizou tem por hábito arrancar a sinalização da rua para bater na outra personagem (representada pela amiga de Beatriz).
Porque é que faz cosplay? Beatriz contou ao JUP que “a realidade é tão seca” que sempre que pode ser outra pessoa que não ela, agarra essa oportunidade. Já fez cosplay de Doctor Who, Professor Snape e Hermione de Harry Potter.

Outro cosplay de grupo foi inspirado no anime/mangá Assassination Classroom. Inês Aguiar (conhecida no mundo do cosplay por Nintya) e Cris fazem cosplay todos os anos. Ambas são visitantes assíduas do IberAnime, no entanto as suas opiniões divergem quando questionadas sobre a qualidade de outras edições comparadas com o ano de 2017. Inês considera que piorou desde o ano anterior, mas Cris diz que a organização é melhor este ano.

Para o cosplay não há uma idade certa para começar. Prova disso é Iara, de 7 anos, que juntamente com a sua irmã Fátima, apresentou a personagem Kanna do anime Kobayashi-San Chi No Maid Dragon. Em 2016, fugiu um pouco ao tema japonês e fez cosplay da super-vilã Harley Quinn. Um dos animes favoritos de Iara é Sailor Moon e espera um dia vestir-se da personagem Chibi-Chibi.

Vitor Magalhães, de 17 anos, foi Bell Kranel, do anime DanMachi. Estava com o seu grupo de amigos, todos eles disfarçados, que se conheceram graças ao cosplay. A armadura que Vitor usava foi feita pela loja Altercos em Braga e representa um dos vários níveis mais avançados dessa personagem.

Luzia Gomes não é simplesmente uma cosplayer. Tudo na sua vida é trabalhado ao pormenor. Ser uma “Sweet Lolita” (parte do estilo “Lolita” da moda nipónica) implica que Luzia nunca utilize um par de calças de ganga. Opta sempre por saias e vestidos. Luzia contou ao JUP que algumas pessoas em Portugal ainda estranham ao ver a forma como se veste, mas noutros países da Europa o seu estilo não é de todo um problema. No entanto, é um pouco difícil viver uma vida toda a tons de pastel, pelo que a maior parte das suas peças de roupa e acessórios são comprados online ou adquiridos através de parcerias.

Francisco (à esquerda) faz parte do universo do cosplay português. Conheceu parte dos seus amigos mais próximos, como Loveka, Riki e Andreia graças ao cosplay e ao facto de todos terem gostos em comum relacionados com o universo nipónico. Para Francisco “cosplay em si é uma arte, mas nós fazemos como hobby“, pois não se dedicam a tempo inteiro a esta atividade.

Já para Lokeva (nome artístico da cosplayer mais à esquerda) tudo isto não passa de um hobby stressante. Acredita que na sociedade atual ainda é muito difícil as pessoas levarem a sério quem faz dos disfarces uma profissão. Além disso, confessa que em Portugal é muito difícil viver do cosplay de forma profissional. Requer muita atenção a muitos detalhes, muitas competências e muito tempo disponível. Por vezes, chegam a faltar materiais, que não existem ainda no mercado português (dá o exemplo do material “worbla” transparente, para aplicar luzes LED num fato).

Sendo arte ou passatempo, é algo cada vez mais praticado em Portugal. A comunidade está a crescer e a criatividade não tem fim. São vários os eventos onde pessoas de Portugal inteiro se reúnem e aproveitam para conviver. Para muitos, foi graças ao cosplay que encontraram os seus “amigos para a vida”. A sensação de pertencer a algo é o que os une. E mesmo não passando de um passatempo para a maioria, fazem-no com muita dedicação.

 

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