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QUEM É JIM CARREY E QUEM É ANDY KAUFMAN?

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Certo dia, há pouco menos de vinte anos atrás, Jim Carrey não dera presença na realização do videoclip de The Great Beyond, música dos R.E.M.. Algures neste mês, a Netflix lança um dos mais belos documentários sobre representação que, mesmo não tendo conhecimento suficiente sobre documentários do género, o posso afirmar com certeza. Jim & Andy é transversal ao rótulo de documentário para se transformar numa obra de arte na qual Jim Carrey (ou Andy Kaufman?) é, ele próprio, arte.

A monstruosa atuação de Jim no filme Man on the Moon não fica indiferente a quem a já viu. Não só pela própria representação, algo a roçar no perfeito, como também pela figura de Andy Kaufman. Ator, comediante ou performer, Andy, além de imitações, tinha aparições públicas no mínimo bizarras, como luta com mulheres num ringue, um alter-ego (ou apenas personagem) chamado Tony Clifton que cantava e dançava de uma forma pouco sóbria – talvez fosse ele assim mesmo – ou a leitura integral d’O Grande Gatsby numa sala de teatro. A verdade é que Kaufman tinha público e continuava a aparecer em programas de televisão. Entre eles, Jim Carrey, jovem promessa que falava e representava para a parede do seu quarto que era o mundo, assistia a isto tudo e ia percebendo quem seria o seu ídolo. Andy Kaufman acabaria por morrer em 1984 devido a cancro do pulmão.

Na década de 90, Jim Carrey construia-se como figura importante na comédia americana, estando na ribalta em meados desse período e constituindo-se um dos atores mais reconhecidos em Hollywood. Nessa altura, antes da fama, escreveu um cheque de 10 milhões de dólares a si mesmo para dali a cinco anos, por trabalhos de representação.Cinco anos depois, Jim Carrey tinha 10 milhões de dólares.

No fim dos anos 90, Jim ouviu falar sobre o filme/documentário sobre o seu ídolo e teve de fazer o casting para o papel. Escusado será dizer que o conseguiu.

O que se seguiu foi inexplicável e surreal. Uma entrada num limbo que Jim Carrey não controlou. Podemos agradecer a Spike Jonze, a Chris Smith e a companheiros, por, agora, em 2017, termos acesso a um acontecimento que, felizmente, ocorreu na mesma passagem pelo planeta que a nossa. Jim & Andy: The Great Beyond é o documentário que retrata os bizarros quatro meses de gravações do filme Man on the Moon, nos quais Jim Carrey se mostra possuído de uma maneira total pela figura de Andy Kaufman e Tony Clifton, de tal forma que continuava (ou permanecia) em personagem fora dos momentos de gravação, isto é, na ida e volta do estúdio e todas as horas que por lá se encontrava.

De uma coisa pode o público duvidar: estas imagens, gravadas pela namorada do verdadeiro Andy Kaufman, que andava sempre com uma câmara atrás de Jim, foram autorizadas pelo próprio e pela produção do filme; poder-se-á dizer que esta possessão e descontrolo de Carrey apenas aconteceu porque sabia que estava a ser filmado – eu próprio pensei que ele apenas estava a fazer arte sem ninguém o saber, sabendo que aquilo seria único, belo, cómico e surreal. Penso que estas teorias, por mais legítimas que sejam, se volatizam assim que se se dá conta do que se tem diante dos olhos. O material que agora veio mostrado a público (na verdade são mais de 100 horas de gravações) compensa qualquer angústia de ideia relativa a um jogo duplo de Jim. Aquilo aconteceu, é um facto. E obrigado por isso.

A beleza e a satisfação na visualização deste documentário está na dimensão. Há certos pontos em que se pensa que estamos a olhar para Andy Kaufman. Outros tantos que o Tony Clifton é aquele e mais nenhum. Só se lembra de Jim Carrey quando ele aparece na entrevista paralela ao filme, barbudo, lúcido e consciente daquele momento. Questiona-se até se não terá levado aquilo longe de mais. Bob Zmuda, amigo de Andy, num momento de discussão com Jim (Andy?) diz-lhe que vão ser acusados de causarem demasiado stress mental na realização do filme; Milos Forman, realizador, em resposta a Jim (Andy?) que lhe diz que pode fazer uma imitação lhe responde que só quer o Jim de volta; o momento em que o pai de Kaufman começa a discutir e a ralhar com Jim como se do seu próprio filho se tratasse.

Este documentário é isto e muito mais. É ver o brilho nos olhos de Jim Carrey quando a personagem se apodera dele. Mergulhou em Andy Kaufman assim que o viu e não sabemos se ainda veio à tona. Adormeceu na produção do filme e foi acordando, lentamente, até aos dias de hoje. Agora, que está quase seco, percebe-se que nunca vai haver separação entre Andy Kaufman e Jim Carrey. Continua a voar no além e deixa-nos a ver-te.

1 Comment

  1. Kildare Lourenço de Oliveira

    30/11/2017 at 04:10

    Maior ator de todos os tempos! Jim Carrey vc é o cara!

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