Cultura

ENCHENTE NO MUSEU SOARES DOS REIS PARA VER ALMADA

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Pouco passava das seis da tarde, e já havia dezenas de pessoas à entrada do Museu Soares dos Reis. Algumas conversavam do lado de fora do edifício, mas a grande parte já tinha entrado – uns ficavam-se pelo hall, outros dispersavam pela loja do museu e pelo café. O staff do Museu ia entregando folhetos a quem chegava.

A  inauguração estava marcada para as 18h30, mas começou com um quarto de hora de atraso. As pessoas foram-se chegando para o hall de entrada, amontoando-se para conseguir ouvir os pequenos discursos de abertura. Daí a pouco, não cabia ninguém. Havia até gente do lado de fora do edifício, à porta.

Depois desta abertura mais solene, a curadora Mariana Pinto dos Santos convidou o público para subir até à sala de exposições temporária, onde está a exposição. Assim fizemos, juntamente com as centenas de portuenses que foram até ao Museu Soares dos Reis para ver a obra de Almada Negreiros.

Antes da entrada da sala, vê-se representado em ponto grande um dos mais famosos auto-retratos de Almada, acompanhado de um pequeno texto. Este começa logo por dizer: “esta exposição propõe um olhar sobre o caráter cinematográfico da linguagem artística da modernidade (…) na obra de José de Almada Negreiros”.

Entramos na exposição por uma rampa, à esquerda. Enquanto descíamos, íamos lendo, nas paredes, pequenos excertos literários do próprio Almada, que davam o mote para a exposição.

“Toda a razão de ser de uma arte, a sua independência, ainda que essa arte se chame cinema, está exatamente no desenho. […] a mãe de todas as artes chama-se desenho” – lia-se, numa parede.

Conforme tinha explicado a curadora no seu discurso, esta exposição tem a particularidade de ligar a obra artística de Almada à sua obra literária. As citações são uma parte importante da exposição, e acompanham muitas vezes as pinturas e desenhos.

Para além disso, parte dessa obra literária está, ela própria, exposta. De entre as várias obras apresentadas, estão “Manifesto Anti-Dantas”, “A Engomadeira” e “K4: O Quadrado Azul”.

“Auto-retrato”, por José de Almada Negreiros (1948).
(Foto: DR Fundação Calouste Gulbenkian)

Na sala, estão 90 obras de Almada Negreiros. Muitas, são bem conhecidas do público – como “A Engomadeira”, os auto-retratos, os desenhos e pinturas dos acrobatas e os arlequins, sem esquecer os desenhos satíricos. Mas também há obras inéditas.

No entanto, a vertente que esta exposição quis salientar foi, sobretudo, a especial ligação de Almada com o cinema.

Estão expostos os desenhos que compõe o  filme satírico “O Naufrágio na Ínsua”, de 1934. Os desenhos estão iluminados por trás, e, em sequência, contam uma história de um naufrágio e salvamento passada em Moledo, recheada de personagens cómicas.

Podem ser vistos, ainda, os seis quadros originais de lanterna mágica para o teatro musical “La Tragedia de Doña Ajada”. Estes quadros são, na verdade, placas de vidro pintado à mão que, depois, eram projetadas durante a peça. O teatro foi uma colaboração de Almada com o músico Salvador Bacarisse e o poeta Manuel Abril – e foi representado apenas uma vez, em Madrid, em 1929, no Palacio de La Musica.

Muito mais há para descobrir nesta exposição, que mostra as várias facetas deste artista,  uma das figuras mais importantes do Modernismo português. Como podemos ler numa das paredes:

Um dos desenhos de “La tragédia de Doña Ajada”: “IV, La luna rota”, de José de Almada Negreiros (Foto: DR Fundação Calouste Gulbenkian)

“Desenho, escrevo, esculpo, vitralizo, danço, teatralizo, cinematrografico e, se a minha arte não falar por qualquer destas vozes, que havemos nós de fazer? Façam de conta que eu já morri – e que deixei essas obras póstumas…” – José de Almada Negreiros

 

A exposição “José de Almada Negreiros: Desenhos em Movimento” é uma colaboração com a Fundação Calouste Gulbenkian, e está até dia 18 de março no Museu Soares dos Reis.

 

1 Comment

  1. Rodrigo Pita de Meireles

    04/12/2017 at 19:48

    Mais uma excelente exposição do Grande Almada Negreiros, desta vez no MNSR!

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