Cultura
WBTM E DUCKING PUNCHES EM CONCERTO INTIMISTA NO CAFÉ AU LAIT
Passam trinta minutos da hora marcada quando se ouvem os primeiros acordes. É Nelson que dá vida à guitarra, na pequena sala do piso superior do Café au Lait, pelas 22h30.
No cartaz não consta o nome de Nelson Reis, mas sim o nome do seu projeto, We Bless This Mess (WBTM). O artista é natural do Porto, a cidade que o acolhe esta quarta-feira, depois de ter passado por várias cidades europeias nas últimas semanas. O seu parceiro de estrada tem sido Dan, músico representante da banda Ducking Punches, que partilha os palcos europeus com o músico portuense e que tocará mais tarde.
O público reúne-se dentro do bar, fugindo ao frio lá de fora, entre risos, conversa e os primeiros finos. O ambiente é acolhedor, a luz baixa confere-lhe um caráter intimista. Amigos e conhecidos reencontram-se e trocam abraços, enquanto We Bless This Mess começa por contar que a tour “está a ser engraçada”.
Nelson abre a noite com a Love This Life, seguida da Silence. Apenas a sua voz e o som da guitarra que segura. O público é imediatamente cativado, não fosse grande parte da plateia sua amiga.
Apresenta o seu novo single, Ocean, reconhecido pela audiência. Nelson compara o movimento respiratório ao movimento das ondas e arranca palmas do público. A certo ponto, dispensa o microfone e o público interpreta o gesto como um convite. A sala do Café au Lait constitui um pequeno coro.
A ligação entre o músico e plateia permite um concerto próximo, com espaço para comentários da sala e muitas gargalhadas à mistura. Numa atmosfera envolta em amizade e positividade, Nelson partilha alguns dos seus momentos mais escuros e a sua voz durante Joy transborda emoção.
Manifesto é a maneira como o músico vê a realidade à sua volta. “Quem tem uma verdade absoluta controla muita gente e isso não é justo”, explica We Bless This Mess.
Chega o momento dos agradecimentos e elogios. “É bom trabalhar com pessoas que estejam abertas, no bulshit”- diz, sobre o companheiro de estrada, Dan – “I’m just saying you’re a great man, because you really are”. O espaço não fica esquecido. “Obrigado ao Café au Lait, por apoiar estas iniciativas”.
Segue-se Darling e termina o concerto com um cover, a Sink, Florida, Sink, dos Against Me!. O regresso do projeto We Bless This Mess ao Café au Lait, dois meses depois, é aplaudido veemente.
Pelas 23h15, o som das cordas de guitarra voltam a soar pela sala. É a vez de Dan, o vocalista dos ingleses Ducking Punches, que participa na tour a solo, de se apresentar à plateia portuense, no seu primero gig em Portugal.
Nelson ocupa a frontline imaginária, sabe as letras de cor e tem as reações mais efusivas. O restante público recebe o músico punk rock com agrado e o desconhecimento do artista não impede a abertura e recetividade (“amigo do meu amigo, meu amigo é”).
Dan percorre algumas músicas da banda, formada por mais três elementos. A It’s been a bad few weeks é merecedora de fortes aplausos, que só não são mais pela impossibilidade das mãos ocupadas com os finos, restabelecidos durante a pausa entre concertos.
Dan traz músicas novas – “I’m gonna play some new songs if that’s okay…If it’s not okay, I’ll play them anyway, f*** you”. Surge a Smoking Spot e Dan convida a audiência a ficar mais próxima dele. Ela adere, e as pessoas descolam-se das paredes e concentram-se no centro, à frente dos microfones.
Dan conta que passou o fim de tarde nas Virtudes e que a cidade é incrível. Acredita que as pessoas são um produto do ambiente em que se inserem e garante que o Porto tem uma ótima envolvente, de onde surge Nelson, “the most wonderful man”.
Esta é a introdução para convidar Nelson a dividar as restantes canções com ele. O músico portuense ocupa-se daquilo que Dan designa por “neck guitar”, mais habitualmente conhecido como violino, instrumento que o artista compreende desde muito novo. Tocam e cantam a Sobriety e a I Ruin Everything, sempre com boas respostas do público.
A Six Years é antecedida de um pequeno discurso do vocalista dos Ducking Punches sobre a forma como a sociedade pressiona e ensina os homens a não expressarem os seus sentimentos e emoções, e a maneira como esta opressão pode conduzir à morte. Dedica a música mais sentida do seu reportório a todos aqueles que já se sentiram vulneráveis ou inseguros e a canção é fechada com um abraço entre os músicos.
A última música é a Big Brown Pills e Dan ensina o refrão ao público, que se une aos músicos e, juntos, ressuscitam o coro daquela noite de quarta-feira, no Café au Lait.
A tour termina hoje (dia 1) em Loulé, no espaço Bafo de Baco, pelas 23h.