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FLIP: CINEMA DE ANIMAÇÃO, MÚSICA E WORKSHOPS EM AMARANTE

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O Flip 2017 – III Mostra Internacional de Animação ocorreu entre os dias 30 de novembro e 3 de dezembro e contou com a exibição de curtas-metragens animadas premiadas nacional e internacionalmente, bem como concertos, workshops, masterclasses e palestras abertas à comunidade em locais, espalhados pela cidade de Amarante. Esta é a terceira edição do evento organizado pela Gatilho – Associação para o Desenvolvimento Artístico-Cultural Local e que conta com o apoio da Câmara Municipal de Amarante, do Cineclube de Amarante, do Centro Cultural de Amarante (CCA) e do Ministério da Cultura.

A Gatilho é uma associação de formação e promoção artística e cultural de Amarante que, além do Flip, promove concertos, exposições e cursos de artes plásticas, fotografia e animação na cidade. Diogo Cardoso, formador da Gatilho, explica que o seu foco, contudo, é a formação dos mais novos. “São eles o futuro. As crianças que fazem parte da Gatilho já têm vindo a desenvolver animações, a criar argumentos, storyboards, já fotografam, já desenham, já animam, já iluminam, já editam e produzem. Com 10 anos. Às vezes achamos que as crianças não são capazes, mas são”, disse ao JUP.

A abertura do Flip 2017 fez-se com dois workshops dirigidos a alunos do ensino secundário. Uma aula de Artes Visuais na Escola Secundária de Amarante (ESA) recebeu Rui Gonçalves e André Jesus, criadores do genérico do festival DocLisboa em 2016, que elucidaram os alunos acerca dos princípios de tempo e ritmo em animação. Os artistas visitaram também o Colégio S. Gonçalo, onde os alunos de Comunicação e Multimédia tiveram ainda a oportunidade de ouvir o formador da Gatilho, Diogo Cardoso, num workshop intitulado “A Ilustração Como Ferramenta de Comunicação Universal”.

O primeiro dia de mostra incluiu também a inauguração de “Persona”, uma série de trabalhos da ilustradora aveirense Cinara Paralta Pisco – autoapelidada de Cinara Saiónára – que estará em exposição até ao último dia do ano na sede da Gatilho, o Porta 43, em pleno centro histórico de Amarante.

O Cinema Teixeira de Pascoaes recebeu, ainda na noite de 30 de novembro, a exibição de nove das curtas de animação contempladas na edição deste ano do Festival Cinanima, de realizadores de Portugal, Austrália, Estónia, Bélgica, Polónia e Roménia. O Cinanima é uma associação de apoio ao cinema de animação português com 41 anos de existência, apoiada pelo Instituto do Cinema e Audiovisual (ICA) – inserido no Ministério da Cultura – e pelo Instituto Português da Juventude, sendo uma estrutura vital à divulgação desta vertente do cinema, tanto em Portugal como internacionalmente.

Os filmes premiados anualmente pelo Cinanima são automaticamente selecionados a pré-concurso às nomeações aos Óscares e todos os participantes ficam apurados para o Cartoon D’Or, concurso promovido pelo CARTOON – European Association of Animated Film, que premeia os melhores filmes de animação europeus. O galardoado com o Grande Prémio Cinanima da edição de 2017 foi a curta-metragem “A Abençoada Morte Acidental”, do realizador romeno Negulici Sergiu, cuja exibição fechou a primeira noite do Flip 2017.

Na primeira noite de dezembro, o recém-restaurado Hostel des Arts recebeu a sessão “Best of Estugarda 2017”, onde foram expostos os filmes premiados pelo Stuttgart International Festival of Animated Film, que organiza, anualmente, na cidade alemã de Estugarda, um dos mais importantes eventos de reconhecimento do cinema de animação a nível mundial. O galardoado com o Grand Prix na 24ª edição, este ano, foi a curta-metragem “Figuras Impossíveis e Outras Histórias II”, da realizadora polaca Marta Pajek.

A sétima arte abriu espaço à música, que se fez ouvir nessa noite no Hostel des Arts. Amarante “ainda é daquelas pérolas de Portugal”, refere Homem em Catarse, alter-ego de Afonso Dorido, que apresentou o seu mais recente álbum Viagem Interior no Flip. Este disco retrata justamente “esse Portugal um bocado na sombra. Amarante fica às portas desse Interior”, disse ao JUP.

A sua música não ficou pelo hostel nem por essa noite, tendo Afonso Dorido regressado no penúltimo dia de Flip com a banda indignu [lat.] ao auditório Maria Amélia Laranjeira, no CCA. “É a primeira vez que toco em Amarante e toco logo dois dias seguidos: como Indignu, já toco há bastante tempo; é aquela banda de putos que se conhecem há 13 anos. O Homem em Catarse é diferente, mas o sentimento é o mesmo, apesar de ontem ter sido um momento mais intimista e hoje ter sido mais intenso, mais elétrico”. Os concertos seguiram-se às exibições cinematográficas, fechando as noites de sexta-feira e sábado.

Tendo em vista o objetivo formativo da Gatilho, o Flip dedicou o dia 2 de dezembro, terceiro da mostra, às crianças: o Porta 43, sede da associação, abriu portas para uma sessão de apresentação da curta-metragem “Condição”, criada por alunos da Gatilho com idades entre os 5 e os 10 anos, seguida de uma conversa entre pais e filhos, o formador e Valéria Pinheiro, protagonista real da condição retratada na animação – a ostomia. O formador Diogo Cardoso contou ao JUP que “foi muito interessante [tê-la a] dar o seu testemunho para as crianças, juntamente com o filme, e foi incrível vê-las a questionarem e a dialogarem, a relacionarem o filme com o testemunho ali presente”. O público mais novo pôde ainda assistir às curtas animadas nomeadas na categoria “Oficinas” do Prémio Nacional de Animação, promovido pela Casa da Animação, associação de cinema portuense. Os filmes exibidos foram totalmente produzidos por alunos do ensino básico e secundário, sob orientação dos cineastas jurados.

O Flip passou também pelo Cinema Teixeira de Pascoaes, onde decorreu a masterclass “Da Pedra ao Píxel – O meu Processo Criativo” com  Regina Pessoa, no sábado, 2 de dezembro. A ilustradora, em colaboração com o cineasta Abi Feijó, inaugurou a Casa Museu de Vilar, em Lousada, dedicada à Arte da Animação. Na palestra, estiveram presentes os alunos da ESA e do Colégio S. Gonçalo, que puderam desvendar o processo de criação das curtas “A Noite”, “História Trágica Com Final Feliz” e “Kali, o Pequeno Vampiro”. Estes filmes tinham já sido trabalhados pelos estudantes da ESA no âmbito do Plano Nacional de Cinema (PNC), iniciativa do Ministério da Cultura.

Elsa Cerqueira, colaboradora da Gatilho, estabelece a ponte entre o PNC e o Flip: “é na qualidade de Coordenadora do Plano Nacional de Cinema da Escola Secundária de Amarante e, sobretudo, de alguém apaixonada pelo Cinema e que tem a missão de educar o olhar dos jovens para ampliar o pensar, o sentir e o imaginar que estabeleci uma parceria com esta Mostra de Animação. Potenciar o acesso aos jovens, e demais público, do melhor do cinema de animação realizado em Portugal e no estrangeiro”, disse ao JUP.

Já a última exibição de cinema de animação da edição deste ano, na terceira noite de Flip, contou com as seis curtas nacionais premiadas na vertente “Profissionais” do Prémio Nacional de Animação. A quem escolheu acolher-se do frio no CCA foi exibido, primeiramente, o vídeo que acompanha a canção “É Preciso Que eu Diminua”, de Samuel Úria, da criação de Pedro Serrazina. O último filme exposto foi o grande vencedor desta categoria do prémio da Casa da Animação: “A Sonolenta”, de Marta Monteiro. Seguiu-se o concerto dos barcelenses indignu [lat.], que, entre outros, tocaram temas do seu terceiro e mais recente álbum, lançado em outubro de 2016, “Ophelia”.

No domingo, 3 de dezembro, a Biblioteca Municipal Albano Sardoeira recebeu Isabel Leal para mais um Flip Talks, que fechou a edição deste ano. Da professora do curso de Formação em Competências Básicas no Estabelecimento Prisional de Custóias, em Matosinhos, e da sua colaboração com os reclusos resulta o projeto “Livre Mente”, do qual, por sua vez, nasceram a iniciativa “Livre Trânsito” e a curta-metragem animada “Livre Dança”, totalmente criada pelos alunos e pela professora e centrada na liberdade, exibida na sessão do Flip.

Os alunos de Isabel criaram uma série de bonecos articulados – os “libertos” – que personificam cada um deles e que vão viajando por meio de vários padrinhos, que se ligaram ao projeto – o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, é um deles. Assim, cada aluno transgride a prisão física, criativamente, podendo viajar em “livre trânsito” pela sua criação. Teresa Martins apadrinhou um “liberto” e acompanhou Isabel Leal na Flip Talks.

Num balanço à edição deste ano, Gilberto Pinto, diretor da Gatilho, refere ao JUP: “sinceramente, estava à espera de mais adesão do público; a nível de programação e de organização, as coisas correram como esperado”. O formador Diogo Cardoso aponta como causa para a falta de adesão o facto de terem decorrido outros eventos em Amarante no mesmo período, ressalvando que a equipa tem em vista reforçar a divulgação da edição do próximo ano. No entanto, considera inegável o potencial do conteúdo da mostra: “Eu não achei que o Flip tivesse sido negativo este ano. Sinceramente, das 3 edições, foi a que eu achei mais rica; apesar de não terem tido tantos espectadores, achei que foram as exibições com mais qualidade – sem estar a tirar mérito a todas as outras”.

Para 2018, a pretensão é expandir. “Queremos abrir as portas à Europa, que o festival chegue mesmo à comunidade europeia e que esta possa participar. Já vai ser um sistema diferente, com competição, prémios a atribuir, com júri e todas essas coisas”, revela Gilberto Pinto ao JUP. Elsa Cerqueira define a Mostra como “um evento multidisciplinar que celebra o Homem e as Artes. Para o ano, o Flip atingirá uma outra etapa na sua existência. Reapareçam. Estaremos à vossa espera”.

O mote do Flip – “Agir localmente para Pensar globalmente” – expressa de forma sucinta o trabalho da Gatilho, empenhada em chamar a cultura para áreas descentralizadas e em levar artistas locais a novos horizontes. Através da formação artística, procuram proliferar a arte numa rede criativa que começa em Amarante e que não conhece limites. Diogo Cardoso finaliza: “É como o Agostinho da Silva diria: o Homem não nasceu para trabalhar; o Homem nasceu para ser um poeta à solta”.

 

 

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