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Cultura

OS EXCESSOS EM “OLHAR DE MILHÕES”

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Num cenário futurista que questiona algumas das maiores problemáticas sociais da actualidade, “Olhar de Milhões” quase conseguiu encher o Teatro Carlos Alberto, ontem, pelas 19h00. A autora e encenadora Raquel Castro pensou este seu novo projecto – que teve em Torres Novas, a 25 de novembro, a sua estreia – como uma atividade inter-comunicativa entre duas realidades temporais distintas.

Cada uma das cinco personagens que o sustentam, pertencentes a um porvir distante – do qual pouco se sabe, mas onde se pode observar a menor força do papel humano face a uma vida tecnológica e mecanizada -, chegam à contemporaneidade com todo o seu hedonismo e os seus excessos. É precisamente isto que as torna alvos do afiado e observacional sentido de análise de Raquel Castro, e faz delas o meio perfeito através dos quais ela pode caricaturar e apontar o dedo ao típico homem do século XXI.

Estes referidos excessos podem ser de várias naturezas: as personagens ultrapassam aquilo que se esperaria ou pediria delas, tanto nas suas excentricidades como no seu isolamento. Raquel Castro tem como grandes metas explorar os vícios da sociedade de consumo, o aborrecimento num mundo em que todos os dados informativos/noticiosos passam a correr, e a facilidade com que o elemento da sociabilidade se pode tornar volátil.

Esta descoberta torna-se particularmente importante quando se atenta para a aparente leviandade com que se pode viver em “Olhar de Milhões”: no pequeno universo que torna literal, parece haver pouca reprimenda para o que quer que seja. Sem que haja barreiras a dificultar o acesso aos mais variados desejos, quem poderá dizer o que está certo ou errado? Quem poderá dizer até onde se pode ir? É com base nesta componente trágica que, disfarçada sob o rico e atento sentido de humor de Raquel Castro e da sua equipa, surge uma atividade reflexiva que se preocupa com os impulsos e as cargas negativas da vida moderna. E, referências ao futuro na sua narrativa à parte, é no “agora” que tem os olhos postos; é relativamente a ele que se posiciona e é sobre ele que pensa.

O projeto ruma agora em direção à capital, com presença no Teatro Maria de Matos nos dias 6 e 7.

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