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Cultura

CRÍTICA: O PRINCÍPIO DA INCERTEZA – JÓIA DE FAMÍLIA

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“Não se escreve melhor porque se escreveu muito.” Eis as primeiras palavras do narrador de Joia de Família, o primeiro volume da Trilogia O Princípio da Incerteza, distinguido com o Grande Prémio de Romance e da Novela da APE em 2001 e adaptado ao cinema por Manoel de Oliveira. Partindo do conceito roubado à Física Quântica (princípio da incerteza), neste romance é o narrador que nos envolve numa teia de incertezas em que um bebé, num mesmo episódio, tanto pode ter dez dias (p. 25) como oito (p. 66), pois as personagens são examinadas por um caleidoscópio que reforja tempo e espaço em memória ambígua. Atacam‑se com lucidez e modernidade, sem pejos moralizadores, mas alguma análise ética, os desafios do crescimento da sociedade dos anos 90, em que tanto a ascensão como a queda económica e social, a violência doméstica e do sexo, a sordidez da droga e da prostituição constituem os alicerces de uma trama que nos arrasta para um vórtice labiríntico de extravio da inocência.

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