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Cultura

COMIC CON: REALIDADE MAIS PRÓXIMA DA FANTASIA NÃO HÁ

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De 14 a 17 de dezembro do ano passado. Pela quarta vez consecutiva, a Comic Con Portugal invadiu a Exponor, em Matosinhos.

Com mais de 100 mil visitantes (um crescimento que ronda os 39%), o destaque desta edição vai para Star Wars e, como não poderia deixar de ser, para os cosplayers, que fizeram da maior sala de exposições do país palco de mais uma edição marcada pela dedicação dos fãs da cultura pop.

O dia da abertura do recinto 

Se é a segunda vez que a Comic Con tem 4 dias, esta edição marcou-se também pela diferença: não pelo número de conteúdos, convidados, número de exposições, antestreias e nem pela nova aposta da organização que promove a visita de crianças ao recinto. Não, desta vez as portas abriram um pouco mais tarde, pelas 14 horas, sendo que nos restantes dias os visitantes começaram a entrar às 10 da manhã. Ainda assim, nem isso fez com que a conferência estivesse às moscas no seu primeiro dia.

No mundo do cinema e televisão, James Olmos foi a cabeça de cartaz. No ativo desde os anos 60, no teatro, Olmos interpretou o papel de tenente Castillo, na série dos anos 80 “Miami Vice” e participou em séries como “Battlestar Galactica” e filmes como “Blade Runner”. No ano passado, entrou também em “Coco”, o novo filme da Pixar, onde dá voz a Chicharrón, numa pequena cena.

Em conferência de imprensa, e orgulhoso da sua cidadania mexicana, James Olmos sublinhou a importância de recordar as nossas origens – e a cultura a ela associada – de modo a não perdermos a nossa identidade: uma mensagem em tudo semelhante à transmitida por “Coco”, que demonstra na perfeição como é o “Dia de los Muertos”, no qual os familiares honram a vida dos seus entes queridos ao visitarem as suas campas de modo festivo, tocando, inclusive, algumas das suas músicas preferidas.

Por fim, e desta vez já no painel com os fãs, o ator falou ainda da série por estrear “Mayans MC”, uma “versão latina dos motards”, muito semelhante à tão aclamada “Sons of Anarchy”.

Quem marcou também presença foram os vários artistas de banda desenhada, que todos os anos demonstram que um autógrafo poderá não ser apenas uma assinatura: mas sim um retrato personalizado de uma personagem à sua escolha, feito na hora.

Nuno Plati, ilustrador da Marvel Comics e da EA Games; Pepe Larraz, do mundo de Star Wars e da Marvel; e Alberto Jiminez Albuquerque, de “Fugitifs de l’Ombre” e “Le Dieu des Cendres”, foram alguns dos nomes sonantes do primeiro dia da convenção. Ainda assim, os fãs de “Homem Aranha” não saíram de mãos a abanar: David Lafuente, ilustrador de “The Ultimate Spider-Man”, criou inúmeros sketches  nos vários cadernos de fãs que lhe foram passando pelas mãos.

Quem saiu de olhos cheios foram também os fãs de Star Wars: a história épico-galáctica que, “por coincidência”, como referiu Paulo Rocha Cardoso, diretor da Comic Con, estreou o seu mais recente filme, “Os Últimos Jedi”, nos cinemas, naquele dia.

Contudo, apesar de não existir nenhum convidado relacionado com a saga, a conferência contou com 500 metros quadrados ocupados por  um Imperial Combat Assault Tank, do filme de 2016 “Rogue One” e por um caça rebelde T-65 X-Wing. A acompanhar estas armas de guerra ainda estava um Funko Pop! gigante do robô C3-P0, numa banca que marcou a estreia desta mesma marca na Comic Con Portugal.

Sexta-feira: dia de antestreia e de Katherine McNamara

“Jumanji”, já ouviu falar? Então é porque não foi à Comic Con. Ou então… foi porque não ouviu falar da prequela, datada de 1995.

A história, escrita originalmente por Chris Van Allsburg, em 1982,  descreve um jogo de tabuleiro com temática na natureza, onde cada vez que algum jogador  lança os dados, animais reais e outros elementos aparecem como que  por magia.

Com um elenco renovado e uma nova história que desvenda o que acontece a seguir na trama, “Jumanji: Bem-vindos à Selva” teve a sua antestreia no segundo dia da Comic Con. Madison Iseman, uma das atrizes participantes, só viria sábado, no dia a seguir, apresentar oficialmente o filme em terras lusas.

Com bom feedback de (quase) todos aqueles que assistiram a“Jumanji”, o filme foi, por diversas vezes, classificado como “cómico” e de “rir do início até ao fim”, tendo angariado o contentamento do público que marcou presença no Anfiteatro B.

Mas o entusiasmo não surgiu apenas pelas novidades mostradas no grande ecrã. “Shadow Hunters”, uma série juvenil produzida pelo canal de streaming Netflix, marcou presença no evento através de Katherine McNamara, que interpreta Clary Fray na trama. Bem disposta e sempre sorridente, a atriz participou ainda no segundo filme de Maze Runner.

Sobre a série que atraiu dezenas de fãs ao recinto, McNamara disse que se sente admirada por toda a comunidade que surgiu: “eles têm opiniões, eles discutem sobre a série. Investem mesmo muito tempo a assisti-la, da mesma forma que nós investimos a criá-la”, expressou no painel com os fãs.

Mas nem só o seu trabalho foi explorado: por cada convidado que pisava o palco do Auditório A, uma lição de vida era aprendida e retirada – e Katherine McNamara não foi exceção. Surgindo o bullying como tópico de conversa, a atriz confessou já ter sido “vítima de violência na infância”. Ainda assim, deixou uma mensagem a todos aqueles que a estavam a ouvir e aos seus fãs: “nunca desitam. Procurem sempre novas oportunidades para aprender e para colocarem em prática, seja qual for a paixão que vos move”.

E bem que podem concordar os quase cem artistas da Artists’ Alley. Este ano num novo lugar, fora dos pavilhões. Paulo Cardoso bem que tinha avisado, em conferência de imprensa, “este ano temos o maior Artists’ Alley do país”. E se tiveram.

Com variadas bancas dos mais distintos estilos artísticos, olhar apenas para um lado era impossível: na bancada da “Raquel Sem Interesse” seria impensável não contemplar as caricaturas do dia-a-dia de um portuense e não nos rirmos com tamanha afinidade sentida; no stand mais à frente, vários cartazes alternativos a séries e filmes eram delineados num traço minimalista; num cantinho amadeirado, Raquel Costa presenteava quem por ali passava com retratos feitos a aguarela de personagens que nos enchem os televisores e os corações. Uma infinidade de mundos, cores, traços e arte sem fim: para apreciar cada stand detalhadamente, o visitante teria de se ocupar com esta função durante um dia inteiro, tal é o trabalho destes artistas amadores que muito de profissionais pareciam ter.

Além deste vasto corredor, existiram também demonstrações de produtos, espaços de gaming virtual ou de jogos de tabuleiro, tatuagens a custo zero, um Predador, o Batmobile utilizado no último filme da DC, “Liga da Justiça”, e várias outras atividades, entre elas contando-se até um tanque para promover o recrutamento no exército.

A maré de cosplayers atinge a Exponor

Quem visse a Comic Con no seu primeiro e segundo dia, diria que o terceiro foi uma renovação: como se de uma fénix se tratasse. Com os corredores, filas e auditórios a triplicar de pessoas, face ao que se verificou anteriormente, a Comic Con ganhou uma nova potência e várias caras – não tivesse o cosplay chegado em força.

“Sailor Moon’s” haviam-nas às mãos cheias, champions do jogo League of Legends também. Por momentos pareceu que a Disneyland teria feito uma parceria de última hora com a Comic Con, não andassem a passear em conjunto a Elsa de “Frozen”, a Ariel, Eric, Cinderela e outras personagens deste mundo infantil que atravessa gerações e gerações.

Procurar o Wally também não era tarefa difícil, visto que no recinto existiam pelo menos três pessoas fantasiadas desta personagem que gosta de se esconder em cenários complicados.

Ideias de cosplay para a edição que virá e métodos para o conseguir fazer também não faltaram. Pela tarde, o Sify demonstrou ao vivo como proceder à caracterização do Night King, de “Game of Thrones” – um workshop dado pela caracterizadora real desta personagem na série.

A grande figura do dia, contudo, foi Dominic Purcell, que foi à Comic Con para falar de “Prison Break”, embora os seus outros papéis em “Flash” e “Legends of Tomorrow” não tenham sido esquecidos. Sobre esta última, em conferência de imprensa, Purcell saudou a opção dos produtores em  colocar uma das personagens, Sara Lance, como capitã da nave de viagens do tempo, a bordo da qual a série se passa. “Já era altura de ter uma mulher num lugar de poder na televisão”, referiu.

Embora se recuse a confirmar com certeza a execução de uma sexta temporada de “Prison Break”, Dominic Purcell adiantou que existe um “trabalho em curso” a ser preparado pelo criador Paul Scheuring.

Horas antes, Madison Iseman, a convidada que veio apresentar “Jumanji” ao público português, concordava com o colega de profissão quanto ao aumento de personagens femininas fortes na televisão e no cinema: “esta é uma altura excitante para ser uma atriz nesta indústria. É fixe finalmente ver uma rapariga a ser heroína”, referiu em conferência de imprensa.

Sobre “Jumanji”, a atriz confessou ter achado o guião um pouco confuso à primeira vista, sendo que, posteriomente, se revelou numa experiência “bastante divertida”, uma vez que ela e Jack Black interpretam a mesma personagem durante o filme. “Tal implicou uma grande comunicação. Ele tinha uma pilha de perguntas, como por exemplo, que filmes ver e quais as canções a ouvir. Tivemos um girl time. E acho que o Jack Black é a pessoa mais simpática que conheci em toda a minha vida”, sublinhou.

À semelhança do ano passado, a música marcou também presença  no evento, através do espetáculo “Canal Hollywood in Concert”, interpretado pela Lisbon Film Orchestra, onde “temas icónicos do mundo do cinema” se fizeram ouvir.

Num dia também dedicado à banda desenhada, Felipe Melo e Juan Cadia – vencedores do Galardão BD 2016, com o livro “Os Vampiros” – lançaram o seu novo trabalho, “Comer/Beber”: um livro “mais pessoal”, como declarou Juan, que não chegou a tempo de entregar o prémio de melhor banda desenhada portuguesa 2017, juntamente com o seu colega, por estarem atrasados numa sessão de autógrafos.

Ainda assim, e num momento mais formal, procedeu-se à entrega anual dos Galardões de BD por parte da Comic Con – um compromisso, relembra Paulo Rocha Cardoso, que “pretende distinguir o que de melhor se faz em termos de banda desenhada no país e não só”.

O grande vencedor acabou por ser Francisco Sousa Lobo, com “Deserto/Nuvem”, premiado com o Galardão Anual de BD (que distingue o melhor álbum do ano) e com o Galardão de Melhor Argumento.

O prémio de Melhor BD de Autor Estrangeiro foi para Paco Roca, com “A Casa”; a Melhor Curta para  Filipe Andrade, com “A Muralha”; e o Galardão de Melhor Desenho foi entregue a Ricardo Venâncio, com “Hanuram, o Dourado”.

O melhor fica para o fim

No último dia de Comic Con, Kirsten Vangsness fez as honras da casa. Conhecida pelo seu papel como Penelope Garcia, na série “Mentes Criminosas”, a atriz norte-americana disse estar bastante agradecida por fazer parte do elenco fixo de atores deste fenómeno que teve início em 2005, visto que, inicialmente, a sua presença estava programada para apenas dois episódios.

Confessando em conferência de imprensa que na realidade não é muito diferente da personagem que interpreta, “o que facilita muito a interpretação”, a atriz abordou também o tema da net neutrality. Num mundo em que a Internet é um meio livre, Kirsten refere que existirem pessoas a tentar controlar o mundo através de ferramentas online desvirtua por completo o propósito de uma rede livre.

Uma das presenças mais esperadas deste dia foi, sem dúvida, Daniela Ruah, a atriz portuguesa que tão cedo nos habituamos a ver nos nossos ecrãs de casa através das telenovelas. Ainda assim, em conferência de imprensa,  Daniela remata: “É muito diferente fazer uma novela em Portugal e uma série nos Estados Unidos da América. Numa novela em Portugal faz-se 35 a 40 cenas por dia, enquanto que na série fazem-se nove páginas – porque é contado por páginas, e 35 a 40 cenas correspondem a cerca de 50 páginas”.

A contracenar na série norte-americana “NCIS: Los Angeles” desde 2009, a atriz portuguesa refere que pretende sempre interpretar uma mulher forte de modo a promover algumas ideias de igualdade: “nós queremos representar o melhor possível para as gerações mais novas. Mas ser uma mulher forte não significa não ser vulnerável, não significa não ter os nossos momentos de fraqueza, mas significa a forma como nós ultrapassamos os problemas das personagens”, explica.

Sobre planos futuros, a portuguesa diz não poder revelar muito – sendo que novidades no início deste ano poderão surgir. Não fechando a porta nem a Portugal nem ao grande ecrã, Daniela Ruah abordou ainda o tema dos abusos sexuais em Hollywood, garantindo que “nunca passou nem nunca assistiu a uma situação dessas”.

Clark Gregg, o agente Phil Coulson, de “Agents of S.H.I.E.L.D”, encerrou a quarta edição da Comic Con. Admitindo que considera que cada temporada tem sido melhor que a anterior, Gregg salienta o respeito e o carinho que sente pela Marvel: uma empresa que adora desde pequeno.

Sobre o plot da sua personagem ter sido trazida de novo à vida, o ator avisa que “ainda não acabou”. “Na mitologia grega há sempre um preço a pagar. E ele regressa, mas não sabe que o trouxeram de volta. Então ele depois descobre o segredo obscuro sobre como foi trazido de volta; contra a sua vontade e o quão traumatizante foi”, refere.

Com um crescimento do número de visitantes na ordem dos 39% face ao ano passado – e quadruplicando o número de visitantes ao longo de quatro edições -, o próximo destino da maior conferência de cultura pop do país continua incerto.

Em conferência de imprensa, antes do evento ocorrer, Paulo Rocha Cardoso garantira que no final do evento, “assim como acontece todos os anos”, será feito “um levantamento de melhorias e ver o que é melhor para os parceiros, para os visitantes, para os convidados, para os conteúdos, para tudo”.

“A Comic Con tem uma particularidade: não se chama Comic Con Porto, Comic Con Matosinhos ou Comic Con Lisboa, chama-se Comic Con Portugal”, afirmou perentoriamente o diretor desta conferência.