Cultura

FLÂNEUR: LUGAR DE PERDIÇÃO E DE (RE)ENCONTRO COM A POESIA

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 Neste acolhedor espaço, localizado num recanto da Rua de Fernandes Costa, pode afirmar-se que os versos se transmudam numa presença vívida e que a poesia flui em cada olhar, como se as nossas sensações desafiassem o silêncio dos milhares de páginas dos livros existentes em cada estante. O próprio nome – Flâneur – inspira-se na poesia de Charles Baudelaire e remete-nos para a dimensão do leitor caminhante e observador.

Com efeito, é o espírito itinerante que se encontra na génese do negócio. Há dois anos e meio, Arnaldo Vila Pouca e Cátia Monteiro, dois arrojados livreiros, já utilizavam a Flânerie, bicicleta ambulante que levava o livro tão desejado ao encontro dos leitores do Porto, Matosinhos e Gaia, com ênfase nas obras em segunda mão.  Esta atividade sublinha o desígnio central deste projeto: a primazia do prazer que a leitura sem compromisso pode oferecer aos leitores apaixonados. Mais tarde surge o espaço físico, primeiro num edifício antigo da zona da Constituição e, agora, numa loja com maior visibilidade na Boavista.

“O projeto surgiu devido ao nosso amor comum pela literatura e pelos livros”, refere Cátia – “e a partilha deste amor com os leitores tem de ser autêntica e plena para fazer sentido”. Arnaldo remata: “o nosso objetivo não passa por ser diferente dos outros, mas por ter um espaço único, dotado de uma identidade própria e que reflita, com honestidade e em cada momento, a nossa enorme paixão pelos livros e pela expressão artística”.

Para os livreiros, sempre pareceu evidente o risco de se prescindir do papel que assume um funcionário empenhado, na medida em que não apenas conhecem os livros, partilhando as suas descobertas, mas também no sentido em que procuram conhecer as preferências do cliente, que adquire um novo perfil enquanto leitor. Por essa razão, Cátia e Arnaldo não encaram as pessoas que frequentam a livraria como meros clientes, mas como leitores dotados do seu próprio baú de expectativas que procuram estabelecer um anónimo percurso de autodescoberta.

Neste percurso de partilha e meditação poética, a Flâneur já se aventurou em novos territórios e editou o seu primeiro livro, a Antologia Poética de Carl Sandburg, com traduções de Alexandre O’Neill e de Vasco Gato, já disponível para pré-venda.

Com um ambiente acolhedor que nos atrai e impele a ficar e a voltar, esta casa organiza uma vasta agenda de atividades, que já consagrou um evento à celebração do 82º aniversário da morte de Fernando Pessoa, a Feira do Livro da Flâneur, que termina hoje, e a realização de um café filosófico no último domingo (28) do mês.

Este artigo é da autoria de Miguel Correia.

Fotografia retirada de flaneur.pt.

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