Cultura
CLÁUDIA PASCOAL: “TUDO O QUE SEJA DO MEIO ARTÍSTICO FASCINA-ME”
Dividida entre as mil e uma artes, Cláudia já esteve em três cursos diferentes: ourivesaria (“Porquê? Não sei. Achei que ia ser aquela coisa muito fascinante de fazer as próprias coisas e não foi assim. Gastei imenso dinheiro no material e nunca aconteceu.”), licenciatura em Artes Plásticas, nas Caldas da Rainha, (“Queria muito ser professora de desenho.”) e um mestrado em Produção e Realização Audiovisual, na ESMAE.
Enquanto ambicionava ainda ser professora, surge o CC Casting. Cláudia é uma das selecionadas e descobre o mundo do Audiovisual. O encanto é tanto que tira um mestrado na área e, depois da sua participação no Ídolos, regressa ao Curto Circuito para estagiar. “Porque eu quis. Eles queriam contratar-me, mas para acabar o mestrado eu precisava de um estágio”. Desta experiência, surge a mini-série “A Estagiária”, que brincava com as histórias e funções de Cláudia e era apresentada todas as sextas no Curto Circuito. “O [Pedro] Boucherie Mendes viu aquilo e disse: “Está ridículo! Vai passar na televisão!””.
https://www.youtube.com/watch?v=vJqDfH_stsY
O regresso ao Porto e a formação dos Morhua
“Foi gira a experiência”, afirma sobre a participação no Curto Circuito, “mas houve um contrassenso em que metade da equipa queria que eu reconstruísse o programa, com umas ideias que eu tinha”. A ideia não seguiu avante por falta de orçamento: “mandaram-me embora e tive de voltar para o Porto”.
Com o curso tirado, a experiência televisiva e cinco anos fora de casa, o desejo de Cláudia era agora constituir uma “banda fixe”. “Acho que os melhores músicos estão aqui no Porto”. Desta vontade nascem os Morhua, banda em que se juntam, a Cláudia, os músicos Gabriel Gomes (bateria), André Soares (guitarra), João Sousa (baixo) e Rafael Santos (clarinete).
Os artistas completam-se. “A composição para mim é uma coisa natural. Mas a nível teórico, transpor isso para uma coisa coesa e consistente para cinco elementos já é difícil”. É aqui que os quatro músicos entram: “eles têm toda a teoria e mais alguma. Pegaram nas minhas bases e fizeram realmente músicas”. Cláudia descreve a interação e vibe dentro da banda como algo “muito orgânico”.
A passagem pelo The Voice
Em setembro, o projeto dos Morhua passa para segundo plano, com a entrada de Cláudia no The Voice. O interesse em participar no programa surge com algumas hesitações, baseadas em experiências anteriores: “Nos Ídolos foi horrível. Foram horas e horas. Não havia alimentação. Tive quatro dias que ao todo dormi 3 horas. Foi incrivelmente doloroso.”. Mas Cláudia, que foi marcando presença na SIC, via a falta de uma experiência num outro canal e queria ver o que a presença “na RTP podia dar, podia abrir outras portas”.
Cláudia garante que as condições oferecidas no concurso da RTP eram “inacreditáveis”, tanto “a nível de condições de saúde” como profissionais: “respeitam-te enquanto artista, enquanto entidade”. Sentiu-se apenas, por vezes, limitada a nível musical. “Queriam que eu cantasse a “Despacito” e eu estive para desistir do programa”.
A concorrente do The Voice desejava não se afastar muito do seu registo musical: “Queria que as pessoas que me vissem ao longo do The Voice vissem depois um concerto meu e compreendessem o que eu estava a fazer”. Enquanto tentava adaptar o jazz ao programa, surgiram várias críticas, por cantar um “jazz pop, comercial”, que, supostamente, “o jazz não pode ser”. “Eu acho que o pode ser e acho que o deve ser, porque as pessoas têm que o ouvir” – contraria Cláudia, e remata – “O meu grande objetivo é que tudo o que faço seja para toda a gente”.
Não esquece o momento com Aurea nas Provas Cegas, em que a mentora cantou “Dream a Little Dream of Me” com ela. “Houve uma telepatia e uma conexão, foi inacreditável. Sempre me dei bem com a Aurea. Apesar de ela ser do sul, tem muito espírito do norte”. O duo repetiu-se na passagem de ano no Porto, na Avenida dos Aliados, a convite da cantora de “Busy”. “Foi das melhores sensações de sempre”, assegura Cláudia.
Não venceu e despediu-se do programa , mas classifica a experiência no concurso musical como “muito boa” e garante que se voltasse atrás repetia. Mantém contacto com muitos dos concorrentes, trabalha com alguns e “até namoro com um deles, então é porque correu bem”, brinca, referindo-se a Tiago Nacarato.
“E digo-vos mais: para o ano vou estar no Festival da Canção!”
Estas foram as palavras proferidas por Cláudia numa discussão com os pais. Depois do fim da sua colaboração no Curto Circuito, regressou ao Porto e pediu aos pais, que queriam um emprego estável para a filha, um ano para apostar na música. Se no fim do ano não fosse conhecida do público, cedia. Meio ano passado e os resultados não surgiam e a família começou a ficar impaciente.
É neste ambiente que Cláudia, em tom desafiador, afirma que vai marcar presença na edição do próximo ano do Festival da Canção. Para surpresa de todos, a promessa ganha forma e torna-se verdade. “Claro que os meus pais também ficaram extremamente contentes”, conta Cláudia, “mas foi saboroso esfregar-lhes na cara e cumprir os meus objetivos, mesmo que ditos em tom de gozo”.
Cláudia junta-se a outros doze concorrentes, a 25 de fevereiro, à procura de um lugar entre os finalistas. Leva uma música composta por Isaura, “O Jardim”. “Não só vou ao Festival da Canção, como vou cantar uma música que adoro” – e acrescenta – “só por aí, não podia estar mais feliz”.
Mas a música que vai cantar não foi a primeira escolha. “Ela [Isaura] mandou-me uma música e eu gostei, mas, quando fui gravar, eu não estava a sentir aquilo, nem ela”. Com um dia para enviar a gravação, Isaura apresenta a Cláudia uma segunda opção. Uma música que relata algo muito pessoal da vida dela, que Isaura só esteve disposta a dar a outra pessoa depois de ouvir a gondomarense cantar. “Quando eu ouvi aquela música achei-a inacreditável”, conta Cláudia sobre “O Jardim”, “emocionei-me”.
A artista mostra-se muito curiosa em relação ao que todos os concorrentes vão apresentar. Acredita, porém, que “nenhuma música vai ser melhor do que a do Salvador”. “O pessoal diz: a minha música é fixe, mas não é tão boa como a do Salvador”.
Cláudia Pascoal & Morhua: Plano B, 9 de fevereiro, 23h00
O concerto está marcado. Os bilhetes custam 5€ e parecem voar. “Estou com as expectativas muito altas”, afirma Pascoal, que se mostra surpresa por não receber mais convites para cantar no Porto e diz ser cliente habitual do Plano B.
Quanto a projetos futuros, Cláudia espera lançar ainda alguns singles este ano, processo que é dificultado por a cantora ser “demasiado perfecionista”. “Estamos [Morhua] a gravar uma música há meses e nunca está bom”. A pressão aumentou ainda mais depois da participação no The Voice: “toda a gente está à espera de algo minimamente bom da minha parte e tenho de me sentir mesmo contente com o que vai agora cá pra fora”.
Aos Morhua deseja uma vida longa e financeiramente estável. “Todos nós conseguirmos viver apenas dos Morhua seria um objetivo a cumprir”.