Connect with us

Cultura

CASA (BEM) OCUPADA POR LINDA MARTINI NO HARD CLUB

Published

on

Quando, pelas 21h00, as portas vermelhas do Hard Club abriram, não se deixava ainda adivinhar a enchente que viria ocupar o espaço para ver e vibrar com Linda Martini, que só abandonou o antigo mercado quando já não era dia 23.

Inês e os amigos, contudo, fizeram questão de chegar cedo para marcar lugar bem no centro da frontline: “Estamos aqui desde as 20h30”. Esperam alguns clássicos, mas o concerto é, afinal, de apresentação do disco Linda Martini. “Tem muita qualidade; pareceu um bocado mais agressivo”, comentaram ao JUP, sobre o quinto e mais recente trabalho da banda lisboeta.

Uma hora depois, perto da hora prevista para o início do concerto, a sala estava quase cheia, mas o palco só foi ocupado por André Henriques (voz e guitarra), Cláudia Guerreiro (voz e baixo), Pedro Geraldes (voz e guitarra) e Hélio Morais (voz e bateria) pelas 22h25.

Elisa e Pedro esperavam perto da régie. “É a primeira vez aqui no Hard Club e com Linda Martini também. Venho à descoberta”, revela Elisa ao JUP. Foi Pedro que a trouxe; quanto ao álbum, o fã de longa data considera que “é uma continuação”.

O público não pareceu incomodar-se com o atraso, aplaudindo e gritando enquanto os quatro elementos pisavam o palco, ocupavam os instrumentos e arrancavam prontamente com “Semi Tédio dos Prazeres”. Ouve-se a voz de André, impactante como os acordes e as batidas que a acompanham, mas vêem-se apenas quatro sombras energéticas contra um pano de fundo plastificado.

“Isto ainda nem começou e já estou com calor”, diz Cláudia, que faz rir – talvez por concordância – quem está mesmo abaixo dela, na frontline.

Pedro Costa veio com a filha ao concerto. “Porque fazem tão felizes um grupo tão heterogéneo de ouvintes? Para mim, só existe uma resposta: porque são bons, porque são mesmo muito bons e adoram o que fazem, porque nos preenchem”, reflete. Há, de facto, uma dicotomia geracional no público: os mais jovens estão na frente, os mais velhos mais atrás.

Mas, no cantar e no encantar, não há diferenças de idade. Todos respondem, ainda que de formas diferentes, e, como Pedro Geraldes diz ao JUP – já depois do concerto – a reciprocidade que recebem do público é vital: “quando tocamos ao vivo é quando sentimos o público. É essa troca de amor que nos agrada.”

As canções que se seguem acompanham a ordem do disco Linda Martini: “Caretano” e o segundo single, “Boca de Sal”, conseguem um público atento, mas não menos entusiasmado. No entanto, a euforia cresce quando chega o primeiro clássico da noite: “Panteão”, de 2013. Seguem-se mais canções recentes, marcadas pela energia mútua entre banda e público. Apesar disso, Hélio brinca – “Boa noite, vamos começar agora o concerto” – antes de entrar em “Febril (Tanto Mar)”, quando já todo o Hard Club tinha “o sangue a ferver”.

Em quase duas horas de concerto, nota-se uma clara diferença na adesão às canções antigas – de que Linda Martini fez uma seleção completa, percorrendo todos os álbuns com “Lição de Vôo Nº1”, “Amor Combate” ou “Unicórnio de Sta. Engrácia” – face às do álbum homónimo – apesar de “Gravidade” ter provado que o público conhece bem o single.

Depois de “Se Me Agiganto”, a banda abandona o palco. Ouve-se, das filas da frente, gritar em uníssono (à boa moda de Linda) o clássico “100 Metros Sereia”, que os chama de volta. “Vocês são fofinhos”, intervém Cláudia, que logo acompanha o público para cantar os parabéns a Hélio. “Os clichés são clichés porque há pessoas como vocês”, agradece o aniversariante.

Dividido a meias – ou mais – com todo o público a entoar a famosa frase da canção, é uma “100 Metros Sereia” prolongada que fecha o concerto, e os quatro abandonam o palco. Mas não pelas escadas; todos aproveitam para nadar pelas mãos do público. André dá um “até já”, antecipando um novo encontro, mais próximo, lá fora.

Ninguém sai sem um CD Linda Martini e a grande maioria espera para que o seu saia assinado pela banda, que, de forma descontraída, conversa com quem vai fazendo fila. Hélio e Pedro falam também com o JUP. É na heterogeneidade do seu público – algo recorrente nos seus concertos – que a banda vislumbra a sua imortalidade: “normalmente, uma pessoa de 18 anos vem gritar mais as letras e vem para a frente, vem com os amigos, e uma pessoa já mais para os 40 fica mais para trás, a observar, para tirar outro tipo de experiência do concerto. Agora, para nós, resulta no mesmo: resulta numa sala cheia. (…) Isso deixa-nos muito felizes, porque tu percebes que não estás nem preso a uma geração específica nem a um estilo e isso traz-te a ideia de que se calhar a banda está para durar”, diz Hélio, depois de assinar e oferecer uma baqueta de maçapão, que figurou no seu bolo de aniversário, a um fã.

A exaustão dos álbuns, segundo Pedro Geraldes, é o que traz a motivação de fazer o próximo: “o que nós queremos é tocar este disco ao máximo e, quando nos fartarmos destas músicas, queremos fazer mais e, se calhar, diferente. Não temos vontade nunca de nos repetir, embora também seja difícil fazer extremamente diferente porque somos as mesmas pessoas”. “Convém não perder identidade”, completa Hélio.

Linda Martini, apresentado neste concerto, é a consolidação de uma das mais importantes – e mais inconfundíveis – bandas portuguesas da atualidade. O seu primeiro single, “Gravidade”, afirma que esta é “muito mais da cabeça do que do coração”, mas Pedro Geraldes afirma pela banda que, nos concertos, é o contrário. “A cabeça, às vezes, quando surge (…) tu preferes que não exista, que seja uma coisa totalmente instintiva e fluida. O prazer de tocar Linda Martini é desligar a cabeça e poder só deixar acontecer”.