Cultura
DANCEM!2014 – DIAS 1 E 2
“Sem um tu não pode haver um eu”
Às 21h30 da noite da passada sexta-feira, o Teatro Nacional São João recebeu a peça “Sem um tu não pode haver um eu”. Esta performance, interpretada e criada por Paulo Ribeiro, é um solo que se dança a dois. Paulo Ribeiro dança consigo num espectáculo que tem como mote a possibilidade de dançar Ingmar Bergman, um dramaturgo e cineasta sueco.
A peça começa com um monólogo do intérprete, seguindo-se a familiar melodia de Insensatez (Cukooland), de Robert Wyatt. Durante aproximadamente 50 minutos, Paulo Ribeiro entretém o público com movimentos que oscilam entre o suave e o demarcado, mas todos com gestos límpidos, que embalam o espectador na dança.
Entre monólogos e as músicas de Franz Koglemann (O Moon My Pin-Up: Third Movement, Distinctions – IX), Bach (Cello Suites [Pablo Casals]: Cello Suite #5 In C Minor, BWV 1011 – Prélude e Courante) e Magnus Lindberg (Ictus Clarinet Quintet: Related Rocks), a peça é desenhada com cada movimento que é feito, a afectividade é delineada a cada gesto de Paulo Ribeiro. Aqui há amor, solidão, melancolia, angústia, ódio, luta interior, relações falhadas e “mãos, mãos”, muitas mãos!
O «teatro íntimo» do dançarino chega ao fim e Insensatez (Cukooland) regressa. A audiência aplaude de pé o intérprete, até esvaziar a sala do teatro.
“Como é que eu vou fazer isto? + Bits & Pieces”
No sábado, dia 31, foi a vez de Leonor Keil interpretar duas peças, “Como é que eu vou fazer isto?” e “Bits & Pieces”, a convite da Companhia Paulo Ribeiro, dando oportunidade à dançarina de trabalhar com duas excelentes coreógrafas.
“Como é que eu vou fazer isto?”, «nasceu da inquietação que a dança de Leonor Keil desperta na coreógrafa Tânia Carvalho», e retrata o desafio artístico com que todos os intérpretes se defrontam. Nesta performance, esta qualidade, inerente ao trabalho de um artista, é revisitada de duas formas: na acção, ou seja, no palco; e nos bastidores, lugar “inacessível para o público”.
Com movimentos delicados, a prima ballerina, que completa mais de vinte anos de carreira, move-se ao som de Bach e Mozart.
Em “Bits & Pieces”, Olga Roriz, coreógrafa, reencontra Leonor Keil, «há muito separadas pelo fio que as une: a dança».
Esta peça é uma descoberta mútua entre as duas dançarinas, procurando encontrarem-se num mesmo “passo”. Uma preocupação que nunca foi sustentada, pois Olga Roriz e a prima ballerina nunca chegaram a estar separadas.
“Bits & Pieces” são momentos biográficos de uma mulher, que poderia ser de qualquer uma das duas dançarinas.