Cultura
SLEAFORD MODS + O GRINGO SOU EU: A SEMANA COMEÇA COM REAÇÃO
Os Sleaford Mods tinham concerto marcado no Porto há meses, mas a noite de segunda-feira começou às 21h15 com a subida a palco do projeto de Frankão, O Gringo sou eu. O artista brasileiro apresentou o seu hip hop reacionário a um público entusiasmado, num concerto que deu a mostrar que a música de reação se mantém criativa e forte.
Sempre auxiliado por samples de notícias de escândalos políticos e socais no Brasil, a sua música demonstra um tom irónico e inconformista para os maiores problemas da atualidade. O Gringo sou eu não se intimidou pela contínua enchente da sala de concertos do Hard Club e não faltou a interação com o público e a reação da plateia foi positiva. O artista chegou a saltar fora de palco para levar o seu movimento artístico junto de todos.
O músico, natural de uma cidade industrial do Rio de Janeiro, contou ainda com o apoio de um grupo de percussão alternativo feminino que trabalha com o artista desde 2014. Além de dedicar uma música à Síria devido à situação conflituosa que se vive no país, após a ajuda das artistas vimaranenses, Frankão dedicou “Mija Sentado”, um tema contra o machismo, às jovens percussionistas que o acompanharam na atuação.
Antes de terminar um grande concerto, Frankão, sempre dialogando com público, falou sobre o clima da cidade onde cresceu, sendo filho de um operário. “O meu pai era sindicalista, eu não sou porra nenhuma. O bom de não ser porra nenhuma é que posso falar mal de todos”.
Uma hora após o início do primeiro concerto, chegava a vez da dupla britânica, que, após várias passagens consecutivas em Portugal (NOS Alive 2015, Vodafone Paredes de Coura 2016 e NOS Primavera Sound 2017), dava agora o seu primeiro concerto em nome próprio em palcos portuenses.
A sala de espetáculos já se encontrava cheia aquando da subida a palco do grupo de Nottingham e mesmo antes de soarem as primeiras batidas uma coisa foi clara: a música de intervenção não é apenas para os jovens.
A banda começou por apresentar o seu mais recente trabalho “English Tapas”, que, tal como nos álbuns anteriores, aborda temas sociais e políticos de terras de sua majestade. Não que Jason Williamson, o vocalista da banda, se preocupe muito com a opinião da realeza do seu país. Foram frequentes os lamurios “Fuck England” e quando abordado por um membro do público acerca de um dos membros da realeza musical inglesa, Liam Gallagher, também não se intimidou em dizer “Fuck Liam Gallagher, the man’s like a traitor”.
Sleaford Mods é um projeto musical que conjuga uma sonoridade post-punk com música eletrónica, onde todas as palavras que saem da boca do vocalista saem carregadas de ironia e frustração. É uma banda das classes trabalhadoras, do operariado das cidades industriais inglesas, onde as condições dos operários não fazem headlines nos media.
Toda a sua performance é uma crítica social, desde o minimalismo demonstrado pelo DJ e produtor Andrew Fearn que se apresenta em palco com uma típica garrafa de cerveja e se limita a clicar no play para passar a música, ridicularizando muitos DJ’s comerciais, à linguagem corporal de Jason Williamson, sempre irrequieto e com tiques a expressar fisicamente o que por vezes não é fácil de entender devido ao seu carregado sotaque das Midlands.
A dupla foi dando o concerto à sua maneira, contando com uma excelente receção do público portuense, que foi clara nos olhares surpreendidos de Andrew Fearn. Sempre num tom de irritação, passaram por músicas mais bem-sucedidas como “I Feel so Wrong”, “Army Nights”, “Moptop” e “Jolly Fucker” mas também por temas menos conhecidos.
Após catorze temas, apresentaram ainda ao público um encore, onde tocaram os maiores singles da banda, como “Jobseeker”, “Tied up in Nottz” e “Tweet Tweet Tweet”.
Por fim uma mensagem foi clara: os dias do punk e o rock dos anos 70 podem estar tenebrosos na memória comum, mas não há muito engano quando um dos maiores nomes dessa época, Iggy Pop, disse que os Sleaford Mods são a maior banda rock da atualidade.
Setlist:
I Feel so Wrong
Army Nights
Moptop
Just Like We Do
Dull
Giddy on the Ciggies
TCR
Time Sands
Routine Dean
Jolly Fucker
You’re Brave
Cuddly
Drayton Maroned
B.H.S.
Encore:
Fizzy
Jobseeker
Tied up in Nottz
Tweet Tweet Tweet
Este artigo é da autoria de Francisco Cardoso.