CHARDONNAY BRANCO OU DOURO TINTO, UM DUELO DE CASTAS

Há poucos dias, o Concurso Vinhos de Portugal premiou uma série de colheitas magníficas das nossas vinhas, desde o Douro ao Alentejo. Procurei encontrar um paralelismo entre a fantástica qualidade dos nossos vinhos, a popularidade que merecidamente têm ganho no mundo e o mundo do cinema de “pipoca”. Foi necessário procurar uma obra no espólio da Meca do género.

Com o devido distanciamento (considero o vinho português indiscutivelmente melhor que o de Napa Valley), encontrei Bottle Shock, em português, “Duelo de Castas”, uma visão hollywoodesca do poder de acreditar americano e, claro, da sua vitória sobre a velha e snob Europa.

Utilizando a história verídica da vitória de um Chardonnay americano numa degustação franco-americana com os principais enólogos franceses em 1976, Randall Miller apresenta-nos um filme simples e eficaz. A narrativa é linear, assente no peso da realidade. As exceções são, como seria de esperar, as personagens femininas que não figuravam no relato da vitória do Chateau Montelena, mas é essencial algum romance e sex appeal!

As prestações de Bill Pullman e Alan Rickman atribuem credibilidade ao antagonismo franco-americano, apesar do último ser inglês (e dono da Academie du Vin no centro de Paris!).

O ponto forte deste filme é, como expectável numa história sobre vinho, a fotografia, a cargo de Michael Ozier. Aproveitando a extensão das vinhas assentes nos socalcos de Napa Valley, somos constantemente elevados à condição de ave que passeia pelos vinhedos. O realizador explora estas paisagens a cada prova de vinhos. E é impossível não comparar mentalmente com o Douro Vinhateiro das nossas recordações, mais ou menos recentes.

Uma nota final para os apontamentos em voice over de Stephen (Rickman), metamorfoseando o processo vínico em poesia:

“It all begins with the soil, the vine, the grape. The smell of the vineyard – like inhaling birth.”

Um filme a saborear num domingo chuvoso, acompanhado por um bom vinho português.

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