Cultura

PORTUGAL IMAGINÁRIO: O TURISMO EM TEMPOS DE DITADURA

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José Bártolo e Sara Pinheiro são as mentes criativas por detrás do projeto gráfico que nos traz a imagem criada de um Portugal atrativo aos olhos de um turista durante o Estado Novo. O diretor científico e a gestora de projeto do Esad-idea – Centro de Investigação da Esad – são os responsáveis pela programação artística da Casa do Design, em parceria com a Câmara de Matosinhos.

“Pegavam naquilo que era regional, autêntico e selecionavam e estilizavam-no, portanto,
não era um retrato real daquilo que era de facto Portugal, do que era o camponês, do que
era o trabalho do dia a dia, as dificuldades, a pobreza”, Sara Pinheiro

Os artistas decidiram aliar a atualidade do turismo, e o seu impacto nas cidades e nos processos de gentrificação, à propaganda, que desde então desenvolveu um significado diferente – o de marketing. Assim, contrastando com a situação atual de Portugal, do turismo e da propaganda, os criadores recolheram exemplares de propaganda ditatorial, sob os mais diversos formatos. Segundo Sara, estes artefactos vêm “sobretudo da coleção dele [José Bártolo] e da coleção do designer Jorge Silva, já há muitos anos que recolhem este tipo de material gráfico”. Quanto ao apoio da câmara, Sara frisa ainda que: “para além disto ser um trabalho de colaboração (…) tivemos sobretudo ajuda na montagem e também nos cederam alguns materiais que estão na exposição, algumas peças de arte popular e alguns livros que também se relacionam mais aqui com o território de Matosinhos.”

Foto: ESAD

O nome pode ser “Portugal Imaginário”, mas a extensão do conteúdo desta exposição é bem real. Desde transportes a agências de viagens, caminhos de ferro e hotelaria, museus populares e exposições de trajes, romarias e material de comércio (sabonetes e conservas), e até guias turísticos para cada cidade – são muitas as áreas e formas exploradas na arte popular e tradicional da época. “A arte popular mostrava que isso tudo era instrumentalizado para o Estado nesse sentido de promover uma imagem de um Portugal soalheiro (…) havia sol, é verdade, mas não era tudo sol.”, afirma a artista.

A exposição, organizada por núcleos, conta ainda com material gráfico relativo às colónias ultramarinas: “foi uma tentativa do Estado Novo de que as colónias fossem vistas comos locais turísticos, depois com a guerra colonial e tudo não foi possível, embora inicialmente tenha associado sobretudo como turismo de caça.”

O projeto, idealizado já há algum tempo, exigiu mais trabalho no mês antecedente à data de inauguração, a qual foi estrategicamente escolhida para perto do 25 de Abril, constituindo uma das comemorações por parte da câmara, confessa Sara.

Foto: ESAD

Numa perspetiva pessoal, Sara diz que se aprende sempre imenso com um projeto destes e que “ter acesso a este tipo de materiais que geralmente não estão acessíveis ou que estão dispersos também é uma vantagem”. A gestora de projeto reforça que: “também temos este interesse gráfico dos objetos [em relação à Casa do Design], mas obviamente é uma exposição histórica e iconográfica”.

Sobre trabalhos futuros, Sara adianta apenas que, para já, os visitantes podem contar com uma exposição sobre o processo de impressão e criação de um livro. Com inauguração marcada para 10 de maio, esta nova exposição consiste na decomposição sequencial de uma impressão e exibe maquinaria muito antiga.

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