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Cultura

QUEM QUER DANÇAR COM O B FACHADA?

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Apesar de o seu estilo musical já ter passado por algumas mudanças consideráveis, houve sempre uma coisa que durante todos estes anos se manteve constante com B Fachada: a sua habilidade inata para contar estórias. O músico desde sempre encantou pelo seu modo de cantar estórias sobre os amores que perdemos, mas também sobre aqueles que nunca o chegaram a ser; sobre as infindáveis vontades presas e confusas num único corpo limitado, mas também sobre a estranheza ao nosso próprio corpo; sobre a polícia que fica louca e toda uma série de outras peripécias.

Nunca foi tarefa complicada relacionar-se com o que o cantautor dizia: já nos inícios da sua carreira, assemelhava-se aos nossos amigos quando o ouvíamos a apontar o dedo aos ladrões dos ministros, e também era fácil deixarmo-nos levar pelo seu sentido de humor quando brincava com os Tó-Zés do dia-a-dia mundano e outras personagens parecidas.

No seu estado mais vulnerável, narrava episódios que bem podiam ser os das nossas vidas, e fazia-o com uma simplicidade deslumbrante, tentando encontrar um raio de sol no meio das trevas – ou, pelo menos, rindo-se um pouco da ironia em volta de toda a coisa. A simplicidade cativava de tal forma que até versos como “quero arranjar uma casinha para nós” soavam à mais apaixonada poesia. E é apaixonada poesia mesmo.

No passado dia 26 de maio, o público reuniu-se no Mercado Bom Sucesso para ouvir algumas dessas estórias. Animado como de costume, trouxe consigo apenas uns cavaquinhos, um sintetizador e, de resto, uma grande dose de alegria para partilhar com quem escolheu passar o serão de sábado na sua companhia. Ouviram-se falhas técnicas com a sua guitarra electroacústica logo nos primeiros minutos, mas o artista não deixaria que isso perturbasse a diversão; como se a aparelhagem decidida a não colaborar o tivesse enchido ainda mais de motivação, saltou de uma ponta do pequeno palco à outra, enchendo os pulmões para gritar e tocando com tanta força quanta conseguia juntar.

Das danças alegres à cerveja que volta e meia bebia, à garrafa de água que durante uns instantes se tornou num violino imaginário ou até ao chão que serviu de percussão improvisada, B Fachada mostrou-se igual a si mesmo, como só ele sabe ser, e o público soube mostrar o seu agradecimento por isso mesmo. As estórias contadas deram vontade de rir, mas também deram vontade de chorar; com o B Fachada, as duas muitas vezes vêm ao mesmo tempo. Com uma última advertência de “não sejas pau mandado”, as festividades chegavam ao fim e as pessoas começavam a sair do Mercado, felizes com o que tinham ouvido. Pode não ter havido tempo para a “Monogamia” – como a rapariga entusiasmada numa das mesas da frente muito pediu – mas nem por isso foi mau o dia.

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