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Cultura

NOS PRIMAVERA SOUND: A COR DA MÚSICA COMPENSOU O CINZENTO DO CÉU

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A chuva não intimidou os festivaleiros. O warm up da noite anterior, com Fatboy Slim na Avenida dos Aliados, forneceu o calor necessário para os três dias que se seguiam e os visitantes do NOS Primavera Sound trouxeram a boa disposição e o impermeável.

Por falar em calor, foi com a atuação dos Fogo Fogo e os seus ritmos cabo-verdianos, ao fim da tarde, que S. Pedro deu tréguas e manteve o público seco até ao final da noite.

A revolta descontraída de Father John Misty

“Y’all staying dry?”, pergunta Joshua Tillman, que se apresenta no palco SEAT como Father John Misty. O concerto começa quinze minutos depois da hora marcada com “Nancy From Now On”. Segue-se a “Chateau Lobby #4 (in C for Two Virgins)”, do I Love You, Honeybear (2015). O público que escolhe ficar de pé em frente ao palco é rodeado pela audiência sentada. Todos estão atentos e imersos na voz de Father John Misty, acompanhada por sete músicos.

Do álbum lançado há uma semana, God’s Favorite Customer, surge o single lançado em fevereiro, “Mr. Tillman” e a audiência sabe a letra de cor. Há quatro elementos identificativos de Father John Misty: a barba, os óculos de sol, a voz tão poderosa como suave e a guitarra. Porém, é desta última que se separa para “Hangout at the Gallows”, também do novo álbum, e a liberdade de braços permite-lhe esboçar alguns movimentos de dança. Luzes brancas iluminam o público animado à medida que a música progride e atinge o seu auge.

“Pure Comedy”, a música homónima do álbum lançado no ano passado cuja letra em nada desperta o riso, recebe fortes aplausos no fim da último verso: “I hate to say it, but each other’s all we got”. E juntos continuam, o norte-americano e a audiência, numa viagem de amor, reflexão e crítica social, na visão única do artista. O concerto tem o seu ponto alto com “Holy Shit”, de 2015, e o cantor vira e gira e pousa e levanta o microfone de pé, enquanto se balança ao som da música. A despedida é feita sem cerimónias, com Father John Misty a enviar um beijo à plateia e a rapidamente abandonar o palco.

Falta pouco tempo para a atuação de uma das cabeças de cartaz. Lorde tem presença marcada no palco NOS pelas 22h. Antes, muitos dos festivaleiros aproveitam para reencher os copos reutilizáveis e jantar. Das bifanas do Conga às sandes da Casa Guedes, passando pelos hambúrgueres do Munchie, o recinto conta com cerca de 40 opções, incluindo vegetarianas.

A emoção pura de Lorde

Lorde apresenta-se poucos minutos depois da hora definida com “Sober”, seguida de “Homemade Dynamite”, ambas de Melodrama. O álbum, lançado há um ano, foi nomeado para melhor álbum do ano nos Grammy Awards e é o segundo álbum da neozelandesa, sucedendo o Pure Heroine, que deixou Lorde sob os holofotes públicos em 2013.

“Olá Porto!”, exclama Lorde. Da frontline, vê-se uma imensidão de gente e é difícil definir onde termina o público da cantora, que sabe todas as letras e aplaude energicamente. Esta é a segunda vez que a artista toca em Portugal, depois da edição de 2014 do Rock in Rio Lisboa. A intérprete e compositora regressa ao seu primeiro álbum em “Tennis Court” e “Buzzcut Season”. Pelo meio, agradece à plateia e garante existir uma vibe mágica, e acrescenta: “I know that if you are my fan you have been holding this complicated, intense emotions” – e propõe – “we can dance it out tonight!”.

O fim de “The Louvre” é cantado por Lorde deitada no ar, suportada pelos braços dos bailarinos que a acompanham desde o início do concerto. Um dos momentos altos da noite aproxima-se. Lorde senta-se na beira do palco e fala para a audiência:

“I feel like I’ve been talking to you through my songs for a long time. I write this weird things in my room and you hear them and you attach meaning to them. This song is about a time when I felt very alone. I want you to know that – if you feel like no one’s gonna stay and everyone’s gonna leave, because you can be too much for them – f*ck them, Porto.”

“Liability”, do seu último álbum, é a canção a que Lorde se refere. Emocionados, Lorde e a plateia cantam em coro.

Neste concerto, não faltaram as músicas que colocaram a artista na ribalta – “Royals” e “Team” – e a cantora terminou com o seu último hit, “Green Light”, que colocou o público todo a cantar, dançar, saltar e a aproveitar os últimos minutos de Lorde no palco.

 Tyler, The Creator e a energia contagiante

Movimentação em massa. O público desloca-se para o palco SEAT, onde se inicia o concerto de Tyler, The Creator dentro de breves momentos. Traz o seu já uniforme: a t-shirt branca, onde se lê GOLF (a marca de vestuário de que Tyler é proprietário), os calções amarelos e o colete refletor da mesma cor. As luzes azuis que o iluminam tornam-no brilhante.

Quando “Deathcamp” começa, a grande maioria do público já se reuniu para assistir ao espetáculo do californiano. A música pertence ao álbum Cherry Bomb, lançado em 2015, e o público reconhece e acompanha Tyler. Na verdade, poder-se-ia escrever “o público reconhece e acompanha Tyler” para qualquer uma das músicas.

“Bounce! Bounce”, canta o rapper e o público obedece. As filas da frente são ocupadas por uma camada jovem, que vibra com todas as palavras. The Creator está sozinho em palco, mas domina-o. Desloca-se e salta de um lado para o outro, com a confiança que transmite ao público e que permite pequenos moches.

Surge uma das músicas mais esperadas: “911/ Mr. Lonely”, do último álbum, Flower Boy. Tyler tem esta capacidade de conjugar uma energia viciante com a descontração do R&B. A plateia canta em coro. “I can’t even lie, I’ve been lonely as fuck”, diz Tyler, enquanto a toalha lhe cobre a cabeça.

“I’m gonna do some old songs if you guys don’t mind”. As palavras são cuspidas em “IFHY”, com uma emoção tão explosiva como a letra da música.

Segue-se “Tamale”, “Who Dat Boy” e “November”, esta última cantada sentado no chão. Antes da “I Ain’t Got Time”, Tyler sobe para cima da coluna. “Can we go crazy one more time?”, questiona e os gritos do público são resposta suficiente. O público canta a música do início ao fim – e resta agradecer por não ser Kendrick Lamar quem pisa o palco esta noite.

O concerto termina com a muito aguardada “See You Again”, que deixa o público em êxtase. No final, o instrumental termina e deixa Tyler a cantar a sós com o público. O Flower Boy abandona o palco, mas a plateia quer mais. Tyler regressa, tira a t-shirt e atira-a ao público, que bate palmas uma última vez.

Fim da noite com Jamie XX

A pisar o palco NOS está Jamie XX. O produtor e músico britânico anima agora o público com um DJ Set. A música dance e eletrónica invade a atmosfera do NOS Primavera Sound e influencia o público que, depois de horas a cantar letras de cor, quer agora apenas mover-se e relaxar ao som da música do membro dos The XX.

Também o palco Bits, destinado à música eletrónica, é muito procurado pelos festivaleiros, que encontram a melhor maneira de terminar o primeiro dia de NOS Primavera Sound.

Esta noite, no segundo dia do festival, o público aguarda pelas atuações de A$AP Rocky, Vince Staples, Grizzly Bear e Fever Ray.