Cultura
JUP RADAR: MÚSICA E FOTOGRAFIA – AS DUAS FACES DE EURICO AMORIM
Músico desde uma tenra idade, Eurico Amorim dedica-se hoje, com 35 anos, à sua maior paixão de corpo e alma: a música. Desde sempre apaixonado por esta arte, um grande marco do seu percurso musical foi a sua passagem pelo Instituto Orff do Porto. Aqui nutriu o que sempre fez os seus olhos brilhar, e confessa mesmo, “Sou um apaixonado por artes, pela música especialmente que é a minha profissão”.
Mas nem sempre a música esteve em primeiro plano no percurso que traçara para a sua vida.
O gosto pela geometria e o “jeito para o desenho”, levou-o a querer licenciar-se em Arquitetura na Universidade do Porto, sendo que rapidamente se apercebeu que não era esta área que movia o seu coração. Para o músico, a Arquitetura “é 2% de criatividade e 98% de trabalho e engenharia, coisas que não são tão criativas, mas gostei mesmo muito do curso, saber tudo sobre Arquitetura”.
As oportunidades e trabalhos na área musical que iam surgindo fizeram com que fosse difícil conciliar os estudos com os projetos em que participava, e decidiu, sem olhar para trás, dedicar-se 100% ao que realmente o fazia vibrar… a música.
Desta forma, abandonou o curso e empenhou-se em fazer carreira na área dos seus sonhos. Hoje fala com certeza acerca desta decisão, “Tenho o privilégio de viver daquilo que realmente gosto de fazer”.
Com um caminho recheado de participações e trabalhos realizados com nomes do panorama musical português como os Mesa, Mind da Gap, Mónica Ferraz, André Tentúgal e muitos outros, a sua experiência tem muito que se lhe diga. Nisto também está incluída a produção de conteúdo próprio.
Em 2010, recebeu uma proposta que se pode dizer ser ‘life-changing’ a convite do ícone da música portuguesa, “Pedro Abrunhosa”, e ingressou nos “Comité Caviar”.
Revelou ao JUP esta fase do seu progresso profissional, explicando que inicialmente “tinha a função de fazer os pianos que tinham sido gravados e não poderiam ser feitos ao vivo”. O seu crescimento dentro da banda é notável, pois, atualmente, diz ser o próprio que grava os pianos todos, acrescentado ainda os dois CDs próprios que gravou. “Ganhei a minha posição lá, é uma banda incrível e é um compositor único, desde sempre fui um grande fã do Abrunhosa”. Este convite abriu-lhe horizontes e fez com que ganhasse mais visibilidade, expressando que a nível da comunidade de músicos nacional está bem inserido, mas sempre em constante crescimento.
Com ambições humildes, expressa o seu verdadeiro gosto pelo mundo, “adoro viajar pelo país fora e comer coisas regionais e gostava de atuar muito mais lá fora”. Felizmente, as coisas parecem estar a correr bem. A entrada para os Comité Caviar abriu várias portas ao músico, dando a possibilidade de atuar e viajar por diversos sítios com o grupo. Mais recentemente, marcou presença em Macau e foi a concretização de algo já há muito tempo desejado. “Conhecer a Ásia foi para mim uma experiência incrível, um grande choque cultural”. O espetáculo obteve uma “resposta efusiva, correu bastante bem. A casa cheia foi mesmo uma surpresa!”, revelando assim com satisfação a experiência que teve lugar no início deste mês.
E nesta vontade de ver e mostrar o mundo que nos rodeia, é impossível não falar da sua outra grande paixão, a fotografia. Confessou-nos como este gosto sempre esteve presente na sua vida, com períodos mais ou menos ativos, mas que nunca desapareceu. Cresceu com a câmara analógica do pai nas suas mãos e percebeu aos poucos o que a fotografia poderia oferecer em termos artísticos.
Coloca o ‘clique’ em destaque e afirma ser muito inspirado pelo Porto, “a minha cidade, o Porto, sou um eterno apaixonado e não me canso de aqui tirar fotos”. No entanto, o bichinho por novos lugares está sempre presente, a partilha e o resultado destas experiências são, de facto, especiais. E é na sua conta de Instagram que dá a ver aos outros estas suas visões e demonstra o talento natural que também tem para a fotografia. “O Instagram tem essa parte de ver os outros a evoluir e dá-te mais vontade de evoluir”.
Nas redes sociais revela-se ativo através da partilha de alguns espetáculos que dá e na sua opinião “traz outro público para o Instagram pois podem gostar mais da música que faço do que das fotos, e vice-versa”. Relata um episódio recente que lhe aconteceu em Macau, em que alguém que o conhecia como fotógrafo viu o espetáculo no qual participou e descobriu a sua faceta de músico e mostrou-se bastante surpreso com isso. “Tagaram-me numa story a dizer, ‘multi-facetado Eurico Amorim’”.
Não é de estranhar que, tal como grande parte das pessoas adeptas das redes sociais atualmente, demonstre um cuidado especial que dedica à mancha gráfica do seu Instagram, revelando que “existe a tentativa de ser algo mais rigoroso, a nível artístico”, funcionado como um projeto pessoal. Este projeto também se traduz na visibilidade que tem ganho e continua a ganhar, “cresci bastante no Instagram, à custa do meu trabalho que vou lá apresentando e à evolução desse trabalho que as pessoas gostam de acompanhar, tal como eu gosto de acompanhar a evolução dos outros”.
Quando questionado sobre o futuro, Eurico confessa a sua vontade de um dia trabalhar num estúdio como produtor. “É uma coisa em que gostava de investir mais, no fundo estou a dar o meu contributo para outros projetos”. Apesar de achar que no Porto as oportunidades são escassas, tem vindo a ter a sorte de trabalhar sempre no que realmente gosta. “Estou mesmo grato por viver daquilo que gosto e ainda ser pago por isso”. Mas acrescenta que “o meio também não é muito grande e dá sempre para conhecer várias pessoas e o facto de trabalhar com muitos músicos diferentes também ajuda a ganhar algum reconhecimento e a evoluir como profissional”.
Recentemente participou no piano da versão acústica da música vencedora do Festival da Canção, “O Jardim” de Claúdia Pascoal e Isaura.
Hoje tem a certeza que “A música tem um papel muito forte no quotidiano do ser humano no geral” e considera-se, sobretudo, um sortudo por ter a possibilidade de conseguir viver da arte que tanto ama, a música.
Este artigo é da autoria de Iara Vieira e José Pedro Abreu.
JUP Radar é a rubrica mensal do Jornal Universitário do Porto, incluída na editoria de Cultura, que explora os artistas emergentes, nas mais diversas áreas, que chegam ao nosso radar. Os artigos saem no último domingo de cada mês.