Cultura

CURTAS 2018: OS JOVENS, O CINEMA E OS SONHOS

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O Curtas Vila do Conde é um festival de cinema com destaque a nível internacional. A sua dimensão, no entanto, não se traduz em restrições pela idade ou formação – quer a nível de cineastas, quer a nível de staff.

O festival abre as suas portas a toda a população – até mesmo aos mais jovens – e a todos os interessados em fazer parte da equipa. Da mesma forma, nas sessões de Competição podem encontrar-se filmes, tanto de cineastas distinguidos, como de estudantes das escolas de cinema. Assim, a par das curtas metragens apresentadas na competição Take One!, também são projetados filmes produzidos na ESMAD/P.Porto. O Showcase inclui projetos finais de licenciatura dos estudantes de Tecnologia de Comunicação Audiovisual e Multimédia da Escola Superior de Media, Artes e Design do Politécnico do Porto. Ao cargo destes está, também, a cobertura audiovisual do festival – a equipa de reportagens.

 

“É sempre bom ver o nosso filme numa sala de cinema a sério; a nível pessoal essa é, se calhar, a melhor gratificação”

Rosana Soares. Fotografia: Sofia Silva.

Rosana Soares tem 20 anos e é recém-licenciada em Tecnologia de Comunicação Audiovisual. Prentende, no próximo ano letivo, ingressar no Mestrado de Produção e Realização Audiovisual na mesma faculdade. Para já, teve a sua Curta apresentada no Showcase e integra a equipa de reportagens do festival – que produz diariamente “as peças que passam no início de cada sessão”.

“Às vezes sou pessoa, às vezes sou dinossauro” é o nome do projeto. Conta com Gustavo Marinho, Tanya Ruivo e Ricardo Barbosa no elenco. O argumento e a realização são de Rosana e a produção é de Frederica Nunes de Pinho.

Sobre o que trata a curta e qual é a importância que a sua presença no Curtas tem para ti?

Cartaz da curta.

A minha curta foi feita como projeto final de licenciatura. É uma curta-metragem de ficção, que fala principalmente sobre uma família que está a passar por um divórcio. Foca nas reações da criança face à separação dos pais e ao consequente abandono de um deles. Ter uma curta num festival deste calibre é muito pertinente. Permite que nós tenhamos outra visibilidade, permite que outros realizadores, produtores, ou melhor, que a indústria em si consiga ter acesso àquilo que produzimos. Para nós é uma mais valia; estando já com um pé fora da porta a nível de educação – para quem não quiser seguir mestrado ou outro tipo de estudos – ter assim uma certa ligação com a indústria, na qual é complicado entrar, sendo Portugal, é benéfico para nós. É sempre bom ver o nosso filme numa sala de cinema a sério; a nível pessoal essa é, se calhar, a melhor gratificação.

Qual é a relação que tens com o festival e o que significa para ti?

O Curtas acontece muito perto de casa e durante imenso tempo, provavelmente, não sabia que existia. A partir do momento em que soube, achei que voluntariar seria uma boa experiência para mim, tendo em conta aquilo que queria seguir. Portanto, comecei o meu percurso aqui por voluntariar e por ver as curtas metragens fora do meu horário de trabalho. É assim que conseguimos ter uma melhor perceção geral daquilo que é produzido por aqui e por lá fora. De uma só vez, num dia, conseguimos ver filmes experimentais, nacionais, conseguimos ver ficções, documentários, animações. Para quem quer fazer cinema, que é o meu caso, acho que é muito bom ter contacto com diferentes formas de fazer filmes, com diferentes estéticas e diferentes assuntos. Por isso, para mim, para além de me permitir esse contacto com filmes de todos os géneros, também guardo pelo Curtas um carinho especial, pelas pessoas que conheci aqui, pelas amizades que fiz. Ser voluntário é uma experiência muito específica e agora estar na equipa de reportagens ainda mais o é. Permite um contacto muito direto com quem cá anda, tanto a nível de realizadores como a nível de staff, e sendo este um assunto que me importa muito, é bom fazer contactos. Passei grandes momentos aqui no Curtas o ano passado e este ano está a ser uma experiência igualmente agradável. A nível pessoal, se calhar, será essa a relação mais íntima que tenho com o Curtas, para além do benefício profissional que me poderá trazer.

O que dirias a jovens que tenham o sonho de estudar e criar cinema?

Digo que fazer cinema é muito trabalhoso e, acima de tudo, é preciso um caráter muito forte, uma atitude proativa tremenda. É preciso saber lidar com o stress e ter uma atitude rápida de resolução dos problemas; vão acontecer sempre imprevistos, quer vocês queiram quer não, e eu falo por experiência própria. Este último projeto teve inúmeros imprevistos que o podiam ter comprometido; tal não aconteceu porque a equipa estava pronta. Fazer cinema é um bocado isso, é ter uma história para contar e conseguir contá-la de forma visual e sonora. Não se esqueçam do som, é super importante; eu sei que é muito negligenciado, mas é aquilo que vos vai permitir imergir no filme. Estejam prontos, não venham a pensar que é fazer uns vídeos ou umas historinhas. Não, vocês vão trabalhar muito, vocês vão ver que vão conseguir fazer coisas que, se calhar, achavam que não, vocês vão desdobrar-se em mil e quinhentas formas e mil e quinhentos sítios. Mas, se gostarem mesmo daquilo, e se quiserem mesmo fazer cinema, acreditem que, no fim de cada projeto, vão sentir uma gratificação que, na minha opinião, não pode vir de mais lado nenhum. Por isso, se quiserem seguir, força. Se tiverem dúvidas, procurem-me, sou uma pessoa social. Divirtam-se, acima de tudo. Façam histórias que queiram contar e que mereçam ser contadas. Força nisso, é preciso coragem, mandem-se de cabeça.

 

“Uma grande concentração de arte, de espírito artístico e de expressão pessoal”

Guilherme Festas.
Fotografia: Sofia Silva.

Guilherme Festas já atingiu as duas décadas e o fim da licenciatura em Artes Digitais e Multimédia na ESAD. A sua posição no Curtas é na bilheteira.

Qual é a relação que tens com o festival e o que significa para ti?

O meu primeiro contacto com o Curtas foi através do voluntariado. O Curtas significa um verão ativo, em que posso estar relacionado com uma grande concentração de arte, de espírito artístico e de expressão pessoal. Mesmo sendo num contexto de voluntariado, de trabalho, não deixa de emanar uma aura super interessante. Eu acho que um aspeto bom é o de ser um espaço onde o trabalho de todos os artistas é apresentado. É a melhor parte do processo, quando toda a gente pode mostrar o que tem para dizer, o que está a tentar expressar, toda a sua energia e expressão nos filmes. E, depois, a partilha entre todos. Quem participa, quem é voluntário ou quem veio só para ver, pode celebrar esta festa de expressão de curtas.

Pretendes, no futuro, estar associado profissionalmente ao cinema?

Antes de vir voluntariar para o Curtas este ano tinha mais dúvidas. Agora, penso nisso todos os dias. Adorava trabalhar em animações, em documentários, em qualquer tipo de trabalho relacionado com longas e curtas metragens, vídeo artístico, em geral.

 

“O Curtas é exatamente isso: um espaço de descoberta” 

Rodrigo Festas
Fotografia: Sofia Silva

Rodrigo Festas é dois anos mais novo do que o irmão. Já acabou o ensino secundário e está no voluntariado como assistente de sala – função que, nas suas palavras, “é principalmente portas: abrir, rasgar bilhetes, dizer boa noite, fechar”.

Qual é a relação que tens com o festival e o que significa para ti?

Eu conheci o festival há relativamente pouco tempo, 2 anos; sendo que existe há 26 e eu sou daqui de perto, devia conhecer há mais tempo. É um evento internacional e eu acho que muito pouca gente aqui da zona tem noção do que é e do tamanho que tem – relativamente ao peso que tem a níveis internacionais e à importância dos prémios. Eu, sempre que vim, vim como voluntário. Nunca cheguei a comprar bilhetes e vir aqui ver as curtas individualmente. Para mim, para além de um espaço de convívio, onde eu consigo conhecer novas pessoas e novas curtas, é um espaço de exploração no geral. O Curtas é exatamente isso: um espaço de descoberta. Descobres novas pessoas, novos artistas, fazes amigos. Se eu tivesse que resumir, diria que o Curtas é um super evento cultural, quer musical, quer de cinema, com uma variedade enorme, mas num espaço muito familiar, com uma organização acolhedora e com artistas abertos a conversar e a interagir; é essa dualidade que eu acho fixe no curtas.

Pretendes, no futuro, estar associado profissionalmente ao cinema?

Eu não entrei no Curtas – nem é essa a razão de eu vir aqui – por carreira. Mas, sendo que eu quero ser ator – especialmente em teatro, mas também cinema, nunca fiz, mas acho que deve ser uma experiência muito boa, e que espero poder fazer profissionalmente – sim, tem a ver com a minha carreira. O mundo artístico acaba por estar sempre todo relacionado: música, cinema, atores, acaba sempre tudo por se unir. Estar neste ambiente é uma coisa muito positiva para a minha carreira. Mesmo que eu não tenha entrado aqui com isso em mente, acho que acabei por descobrir que é útil e é mais uma das razões por eu voltar todos os anos.

 

 

 

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